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EUROPA
Depois de surras eleitorais, a social-democracia do continente se prepara para festejar a primeira vitória da temporada
Suécia deve redimir social-democratas
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
Depois de uma série de surras
eleitorais, a social-democracia européia prepara-se para festejar a
primeira vitória da temporada,
com o esperado triunfo do Partido Social Democrata da Suécia no
pleito de hoje.
Mas não será uma vitória tão
ampla nem tão significativa a
ponto de ofuscar as derrotas em
Portugal, na França e na Holanda,
para mencionar apenas as eleições européias de 2002.
Primeiro, porque a social-democracia, se vencer mesmo, continuará precisando de alianças
para governar, como ocorre desde 1994 quando o atual premiê,
Goran Persson, elegeu-se pela primeira vez.
Segundo, porque a campanha
eleitoral expôs problemas que a
globalização tem provocado até
para a Suécia, redespertando um
nacionalismo que a social-democracia européia estava afastando,
na sua busca da chamada "Terceira Via", caminho intermediário
entre o liberalismo puro e duro e
as antigas tendências estatizantes
da social-democracia.
O jornal de negócios "Dagens
Industri" chegou a exumar expressão ("veias abertas") consagrada pela esquerda latino-americana em um livro clássico ("As
Veias Abertas da América Latina", do uruguaio Eduardo Galeano). O texto criticava, em linha similar à de Galeano, a desnacionalização da economia sueca nos últimos anos (200 empresas foram
vendidas ao capital estrangeiro a
partir da desregulamentação iniciada nos anos 80).
De todo modo, o vigor econômico da Suécia parece suficiente
para assegurar a vitória do governo. O país cresceu no segundo trimestre 2,1% anualizados, depois
de ter mantido uma média de
crescimento superior a 3% desde
que Persson foi reeleito, em 1998.
O presente reforça as credenciais da social-democracia sueca,
que governou o país na maior
parte do século passado, ajudando a catapultá-lo ao segundo lugar no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), criado pela
ONU para medir a qualidade de
vida no planeta.
Mesmo assim, o discurso de extrema direita, que tantos estragos
provocou nas eleições européias
de 2002, achou uma brecha até na
Suécia. Os liberais (que não são de
extrema direita) também andaram criticando os estrangeiros, o
demônio da temporada eleitoral
européia, dizendo que, antes de
receberem cidadania, deveriam
demonstrar maestria no uso do
idioma sueco.
Uma semana depois da votação
na Suécia, será a vez de a Alemanha votar, em outro pleito em que
um partido da "Terceira Via" arrisca-se a perder o poder.
É verdade que, anteontem, uma
pesquisa pôs o SPD (Partido Social Democrata) à frente da democracia cristã, pela primeira vez na
campanha. Mas, ainda assim, há
um empate estatístico entre os
dois principais grupos políticos
do país. Nas demais pesquisas recentes, o empate é numérico.
Mesmo que o chanceler (premiê) Gerhard Schröder vença, a
maioria dos analistas não vê seu
triunfo como uma revanche dos
partidos da "Terceira Via".
"Se Schröder vencer, não será
por causa da "Terceira Via", mas,
ao contrário, porque ele conseguiu, nas últimas semanas, polarizar o país entre esquerda e direita,
surfando numa onda ecopacifista", diz Anne-Marie Le Gloannec,
pesquisadora do instituto Marc
Bloch, instituto franco-alemão de
pesquisas em ciências sociais.
Le Gloannec está se referindo à
maneira como Schröder lidou
com as inundações na Alemanha
Oriental e à sua resistência em
apoiar uma ação militar norte-americana contra o Iraque.
Tudo somado, as duas eventuais vitórias da social-democracia na Suécia e na Alemanha podem não reabilitar o prestígio
abalado da "Terceira Via", mas a
reabilitação pode vir como resultado da crise na coalizão governante na Áustria.
Os austríacos votarão em novembro, e as primeiras indicações
são de recuperação da social-democracia no país em que começou, no ano 2000, a onda de extrema direita.
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