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"Todos os comerciantes se armaram"
DE BUENOS AIRES
O comerciante José Vieitez é
dono de uma das poucas lojas de
Ramos Mejía, na Grande Buenos
Aires, que não têm grades ou chapas de aço bloqueando as portas.
Em parte porque ele diz acreditar
que não haverá saques. Mas Vieitez diz também que "nada segura
600 pessoas" e que pouco adiantaria "blindar" o prédio.
Dono de um mercado que foi
destruído por um saque em 19 de
dezembro de 2001, Vieitez diz que
os saques são mais um instrumento político do que produto da
fome. Leia sua entrevista à Folha.
Folha - Como o sr. reagiu aos saques no ano passado?
José Vieitez - Não reagi. Vi que
um grupo se preparava para saquear. Fechei as portas e pedi a todos os funcionários que saíssem e
ficassem em lugares seguros.
Folha - Qual foi o prejuízo?
Vieitez - Perdemos tudo. Mas tínhamos um seguro. Nem todos
tiveram essa sorte. Muitos comerciantes pequenos ficaram arruinados, fecharam as portas.
Folha - Espera que ocorram saques na próxima semana?
Vieitez - Realmente não. Os saques são, na verdade, um instrumento de luta política. O que temos de saber é se o governo vai
decidir nos proteger ou não. Estamos esperando para ver.
Folha - O que quer dizer quando
fala de luta política?
Vieitez - Que as pessoas não estão passando bem, que há fome e
crise todos nós sabemos. Mas passaram-se dez anos sem saques.
Onde estava a fome nesses dez
anos? Os últimos saques foram
em 1989 e, naquela época, também caiu um presidente. Nesta vizinhança ninguém sai de casa para saquear. Chegaram ônibus, caminhões, trouxeram as pessoas
aqui. Foi tudo organizado.
Folha - Acredita que isso possa
voltar a ocorrer?
Vieitez - Não. Porque estamos
atentos. Mas, se houver, haverá
muitas mortes. Todos os comerciantes se armaram. Os "chinos"
[imigrantes orientais", que sofreram muito com os saques de 2001,
estão fortemente armados.
Folha - O sr. se armou?
Vieitez - Não. Temos dois seguranças. Vamos aumentar o número todos os dias até o final da
próxima semana.
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