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AMÉRICA LATINA
Temor é que manifestações pelo primeiro aniversário da queda de De la Rúa revivam a violência daquela época
Lojistas argentinos temem onda de saques
MARCELO BILLI
DE BUENOS AIRES
Parece uma operação de guerra:
a Polícia Federal prepara mil
agentes antimotim; comerciantes
se armam; igrejas e ativistas de direitos humanos pedem paz; manifestantes, comida. O governo
argentino diz que tudo será calmo, mas faz reuniões diárias para
avaliar os dispositivos de segurança nos dias 19 e 20, quando milhares de pessoas sairão às ruas
para lembrar os protestos que, há
um ano, derrubaram o então presidente Fernando de la Rúa.
No dia 19 de dezembro do ano
passado, começaram os saques
em cidades da Grande Buenos Aires. Centenas de pessoas foram às
ruas e levaram à bancarrota muitos pequenos comerciantes que
tiveram seus negócios totalmente
destruídos. Os que sobreviveram
prometem reagir se o mesmo
ocorrer neste ano. Armaram-se,
fortificaram e eletrificaram as lojas. Também contrataram seguranças particulares.
Os "chinos"
Os imigrantes orientais -chineses, coreanos e japoneses-,
conhecidos como "chinos" na Argentina, foram os mais atacados
em 2001. Os que não faliram agora
esperam, armados, pelos possíveis novos saques.
A Folha visitou as regiões de
Ciudadela e Ramos Mejía, Grande
Buenos Aires, onde os saques foram mais violentos. Nos locais,
poucos falam sobre as medidas
para enfrentar os saques. Na
maioria das lojas, há seguranças
armados. Quase todas foram
"blindadas" com grades e chapas
de aço para proteger vitrines.
As únicas lojas sem proteção
são as que fecharam as portas. Na
principal avenida do local, metade dos negócios fechou. Parte por
causa dos saques, parte pela crise
econômica.
Apenas um comerciante aceitou falar com a Folha. Dono de
dois supermercados na região, José Vieitez teve uma das lojas totalmente destruída no ano passado.
O seguro pagou o prejuízo e hoje
ele é dos poucos comerciantes
que não "blindaram" as lojas.
"Tentei explicar para os colegas
que nada segura 600 pessoas. Não
creio que venha a haver saque. Se
houver, serão muitas mortes. Todos estão armados. Os "chinos",
que sofreram mais em 2001, estão
fortemente armados", diz.
Piqueteiros
No dia 19, chegam a Buenos Aires marchas que partirão de várias Províncias do país no dia 16.
São organizadas pelos "piqueteiros", grupos de desempregados
que se organizaram para exigir
programas sociais e emprego.
Nas últimas semanas, piqueteiros disseram que partidários do
ex-presidente Carlos Menem
(1989-99) estariam pagando para
que fossem organizados saques.
Menem, pré-candidato à Presidência, não comenta as denúncias. Anteontem, um dos maiores
grupos piqueteiros, o Movimento
Independente de Aposentados e
Desempregados, marchou por
Buenos Aires para pedir comida e
dizer "não aos saques".
O governo já anunciou que prepara um esquema especial de segurança para a data. Participarão
mil homens da Polícia Federal,
pelo menos 200 da polícia de Buenos Aires e helicópteros.
As organizações não-governamentais e grupos de defesa dos direitos humanos reagiram. Pediram que não participem do esquema homens envolvidos na repressão de 2001 e que todo o efetivo policial trabalhe identificado.
Também na sexta, associações e
um grupo de religiosos fizeram
um apelo pela paz e pediram que
a população enfeite as casas com
bandeiras da Argentina.
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