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Deposição de Saddam Hussein envolve mais riscos que a Guerra do Golfo
Guerra no Iraque deve ter mais mortos que em 1991
OTÁVIO DIAS
DA REDAÇÃO
É possível estimar, ainda que
dentro de uma ampla margem,
quantas pessoas morreriam numa guerra dos EUA e seus aliados
contra o Iraque, incluindo baixas
entre as forças invasoras e defensoras, civis iraquianos e de outros
países eventualmente envolvidos?
Não é tarefa fácil, e o Pentágono
(centro de defesa dos EUA, responsável pelo planejamento do
ataque militar) não divulga suas
previsões.
O americano Michael O'Hanlon, pesquisador sênior do Instituto Brookings (Washington), arriscou-se a fazer previsões no estudo "Estimando as baixas numa
guerra para depor Saddam", disponível no site do instituto
(www.brook.edu), um dos mais
prestigiosos dos EUA.
O pesquisador estima que as
forças americanas/aliadas perderiam entre 100 e 5.000 militares
numa guerra cujo objetivo fosse
mudar o regime em Bagdá. O número de feridos seria quatro a cinco vezes maior, elevando o total
de mortos e feridos para o mínimo de 500 e o máximo de 30 mil.
A estimativa mais baixa só seria
realista se houvesse uma capitulação rápida do Iraque, tornando a
guerra muito curta ou até desnecessária. A mais alta, embora improvável, poderia se materializar
caso membros da Guarda Republicana (extremamente leais a
Saddam) se entrincheirassem nas
cidades, em especial em Bagdá,
forçando um combate urbano.
As perdas humanas do lado iraquiano seriam dez a 20 vezes superiores -de mil a 100 mil, incluindo militares e civis. Uma
guerra urbana aumentaria substancialmente as perdas civis. Seus
cálculos não incluem mortes decorrentes de crises humanitárias
(leia texto nesta página).
As previsões, obviamente pouco precisas, levam em consideração não apenas outras experiências militares americanas, mas
também fatores como poderio aéreo, tecnologia, treinamento, capacidade defensiva, características do terreno e efeito surpresa.
A conclusão de O'Hanlon é que
os EUA/aliados venceriam uma
guerra para derrubar o ditador
iraquiano, Saddam Hussein, de
forma rápida e decisiva, afastando
a possibilidade de um conflito que
se arrastasse e resultasse num
grande número de baixas como
ocorreu nas guerras do Vietnã
(1965-75) e da Coréia (1950-1953).
No Vietnã, os EUA perderam 58
mil homens, e na Coréia, 54 mil.
Mas ele afirma ser irresponsável
e irrealista imaginar que uma invasão do Iraque seria um "passeio" ou resultaria numa "vitória
fácil". O número de mortos e feridos provavelmente seria superior
ao da Guerra do Golfo (1991), na
qual 147 militares americanos
morreram em combate e cerca de
500 foram feridos. No total, a coalizão sofreu 240 baixas fatais.
Não há dados definitivos sobre
quantos iraquianos -militares e
civis- morreram durante ou em
consequência do conflito de 1991,
pois nem os EUA nem o Iraque
apresentaram números inquestionáveis (leia texto nesta página).
Antes da Guerra do Golfo, também foram feitas, nos EUA, previsões sobre o número de mortos.
Uma delas, de Barry R. Posen
(Massachusetts Institute of Technology), previu que entre 4.000 e
11 mil soldados das forças de coalizão morreriam ou ficariam feridos. Outra, de Joshua M. Epstein
(Instituto Brookings), estimou
que as baixas (mortos e feridos) se
situariam na faixa de 3.000 a 16
mil. O Pentágono, segundo informações publicadas na época pela
imprensa, estava preparado para
até 30 mil mortos e feridos.
O número de baixas foi bem inferior. Isso pode ser explicado, em
parte, pela pouca resistência das
forças iraquianas regulares, que se
mostraram mal equipadas, mal
coordenadas e desestimuladas.
Mas o objetivo da guerra em 1991
foi diferente do que se coloca em
2003. As estratégias, os desafios e
os perigos também.
A Guerra do Golfo, cujo objetivo foi expulsar as forças iraquianas que haviam ocupado o Kuait
em 1990, foi praticamente dominada por bombardeios aéreos
contra instalações, equipamentos
e veículos militares iraquianos.
A guerra terrestre propriamente
dita durou cerca de cem horas, ao
final das quais as tropas iraquianas, em fuga desordenada, já haviam abandonado o Kuait.
A coalizão liderada pelos EUA
quase não precisou entrar em
combate com as forças iraquianas
(cerca de 340 mil soldados, mas
estima-se que houve mais de 100
mil deserções) e nem chegou perto de um enfrentamento com a
Guarda Republicana, o núcleo
duro das forças de Saddam, com
cerca de 25 mil homens bem treinados e equipados, que permaneceu longe do palco da guerra (o
Kuait ocupado e a fronteira com o
Iraque).
Caso os EUA decidam lançar
um ataque nas próximas semanas, o objetivo será mais complexo: depor Saddam Hussein. E,
embora seja possível que parte do
Exército iraquiano desista de defender o ditador diante do poder
bélico americano, é provável que
a Guarda Republicana (ou parte
dela), detentora de privilégios e
comprometida com seu líder,
mostre-se disposta a proteger o
regime a qualquer custo.
As forças americanas/aliadas
poderão então se ver forçadas a
combater dentro das cidades, em
especial em Bagdá, onde vivem 5
milhões de pessoas. "Num ambiente urbano, seria muito mais
difícil empregar o poderio aéreo
contra as forças iraquianas, que se
misturariam com facilidade com
os civis", diz O'Hanlon. As forças
defensoras também se beneficiarão da vantagem de conhecer o
terreno e de ter fácil acesso a suprimentos (bélicos, alimentares
etc.) e a abrigo.
"Bagdá, sua população e sua liderança estão determinadas a forçar os mongóis da nossa era a cometer suicídio em seus portões",
disse Saddam em recente discurso, numa referência ao Exército
mongol de Hulagu Khan, que saqueou a capital em 1258.
Também há a possibilidade de
Saddam, com sua sobrevivência
ameaçada, lançar mão de armas
de destruição em massa (em especial químicas e biológicas) contra
as forças invasoras, países vizinhos, a própria população iraquiana ou países aliados dos EUA.
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