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EUROPA À DIREITA
Segundo turno encerra hoje ciclo eleitoral e pode confirmar triunfo do bloco conservador e de Jacques Chirac
França encerra maratona eleitoral hoje
ALCINO LEITE NETO
DE PARIS
Chega hoje ao fim a maratona
eleitoral da França de 2002, iniciada em abril com a disputa presidencial e um dos períodos mais
turbulentos da história recente do
país. Pela quarta vez em menos de
dois meses, os franceses vão às urnas, agora para definir os seus deputados no segundo turno das
eleições legislativas.
Os resultados devem confirmar
a vitória do bloco de centro-direita, já prevista no primeiro turno,
há uma semana, e também o
triunfo do presidente Jacques
Chirac, que terá maioria parlamentar e um poder enorme, o
maior em décadas na França.
Segundo pesquisas de opinião,
56% dos franceses pretendem votar hoje em candidatos da centro-direita, que conquistariam entre
408 e 444 cadeiras na Assembléia
Nacional -composta de 577 deputados. Sozinho, o partido de
Chirac, União pela Maioria Presidencial (UMP), deve obter entre
384 e 414 cadeiras.
Os partidos de esquerda, somados, terão entre 130 e 172 cadeiras.
O Partido Socialista (PS) pode fazer entre 115 e 145 deputados. A
Frente Nacional, do líder de extrema direita Jean-Marie Le Pen, estopim de toda a convulsão política no país desde abril, não deverá
fazer nenhum deputado.
A vitória do centro-direita vai
encerrar cinco anos de maioria legislativa do centro-esquerda e
permitir a Chirac ter sob sua influência várias instâncias do Estado -desde a chefia de governo,
entregue por ele ao premiê Jean-Pierre Raffarin, até o importante
Conselho Constitucional, que
abona as mudanças na lei.
O presidente também se firma
como o mentor da maior força
política do país, o UMP, criado
em abril para enfrentar as eleições
legislativas e que agremiou três
partidos de centro-direita.
A criação desse partido, que
ainda precisa passar pelo teste da
vida legislativa, é uma das principais causas do êxito do centro-direita nas eleições. A reunião de
forças comuns sob uma nova sigla
causou nos franceses um sentimento de determinação e renovação que os socialistas não conseguiram provocar depois de sua
derrota nas presidenciais.
Os socialistas lutaram nos últimos dias para aumentar sua bancada, tentando convencer os abstencionistas a votar. O índice de
abstenção no primeiro turno das
legislativas teve alta histórica, chegando a 35,6% dos quase 41 milhões de eleitores, o suficiente para erguer um partido do nada.
Devido à abstenção, a direita
não quis proclamar vitória, temendo surpresas. "Até que o segundo turno não tenha acabado,
às 17h59 [de hoje", é preciso estar
atento", disse Raffarin, que deve
permanecer como premiê com a
vitória do centro-direita.
A previsão dos institutos de pesquisa, contudo, é que a abstenção
seja novamente alta nas eleições
de hoje. Ela tem crescido nos últimos anos e está preocupando
bastante a opinião pública, sobretudo de esquerda. Nas eleições
presidenciais, a abstenção chegou
a 28,4% no primeiro turno, contribuindo para a derrota do candidato socialista Lionel Jospin.
Para analistas, as causas da abstenção são o desinteresse pelos
grandes partidos tradicionais e
pela política em geral. No caso das
legislativas, ela se deve ainda à
previsibilidade do resultado. "A
vitória da direita é esperada sem
surpresa pelos franceses", disse o
diretor-geral do instituto Ipsos,
Pierre Giacometti.
Pesquisa do jornal "Le Monde"
demonstrou que a maioria dos
abstencionistas (das legislativas)
tem entre 25 e 34 anos (51%) e é
desempregada (59%). Uma boa
parte é composta de operários
(44%) e pessoas sem curso universitário (40%). Para 42%, os políticos não inspiram confiança.
Apenas 30% disseram que mudaram de idéia e decidiram votar.
O abstencionismo está prejudicando não só a esquerda, mas
também a extrema direita. Eleitores que optaram por essa tendência nas eleições presidenciais teriam agora se conformado com a
vitória do centro-direita em seus
distritos e não iriam votar.
A Frente Nacional é um dos
principais partidos derrotados
nas eleições legislativas, o que não
se esperava. Le Pen provocou um
verdadeiro redemoinho político
na França, ao obter 16,9% dos votos em 21 de abril, superando Jospin (16,1%) e chegando com Chirac (19,9%) ao segundo turno das
eleições presidenciais.
O avanço do extremista Le Pen
fez as forças de esquerda se mobilizarem em favor de Chirac, em
nome dos princípios republicanos. Durante 15 dias, a França entrou em ebulição com manifestações diárias contra Le Pen e a favor do voto útil em Chirac, eleito
com 82,2% dos votos.
A opinião pública democrata
está aliviada com o fato de o partido extremista ter alcançado apenas 11,1% dos votos nas atuais legislativas e ter pouquíssimas
chances de eleger um deputado. O
fracasso da FN é tanto maior
quando se compara com a performance do partido em 1997, quando conseguiu levar 207 candidatos ao segundo turno e eleger um
para a Assembléia Nacional.
Outro derrotado nas atuais legislativas é o Partido Comunista
Francês, que também malogrou
nas presidenciais. O PCF deve fazer entre 14 e 22 deputados desta
vez. Em 1997, chegou a eleger 39.
No primeiro turno das legislativas concorreram 8.456 candidatos, um outro recorde histórico.
Desta vez, restaram 1.045, que disputam em 519 dos 577 distritos
eleitorais. Em 58 deles, os deputados já foram definidos. O UPM de
Chirac ganhou em 46 circunscrições e os socialistas, em duas.
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