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Para analista, eleitor
de esquerda está órfão
DE PARIS
A esquerda declina na França
porque não é mais uma verdadeira esquerda. A crise se deve ao fato de, nas últimas décadas, os esquerdistas terem se aproximado
cada vez mais dos princípios da
direita. Assim a escritora e ensaísta Viviane Forrester explica a situação do Partido Socialista na
França, que nos últimos 20 anos
governou o país e agora sai carregado de derrotas nas eleições.
Forrester, 74, é autora de "O
Horror Econômico" (Unesp),
veemente crítica ao neoliberalismo que foi best-seller na França.
Em 2001, ela publicou "A Ditadura do Lucro". Atualmente, escreve
um ensaio sobre o Oriente Médio,
a ser publicado em 2003.
(ALN)
Folha - Quais são as lições deixadas pelas eleições francesas?
Viviane Forrester - Achamos que
o país tinha evoluído para o fascismo, após o primeiro turno das
presidenciais. Mas o segundo turno provou que a França era majoritariamente antifascista. O que as
eleições demonstraram é que falta
uma esquerda na França.
Folha - E a esquerda que há hoje?
Forrester - Não é uma verdadeira esquerda. Considera arcaico o
que está à esquerda e faz a apologia do liberalismo. Mas, na França
e no resto do mundo, há uma opinião pública muito politizada que
não encontra eco no meio político. Há uma população que considera o liberalismo um sistema
econômico nocivo. Nenhum partido de esquerda responde a essa
reflexão. É absurdo dizer que [o
ex-premiê Lionel" Jospin perdeu
as eleições por ter feito uma má
campanha. Ele perdeu porque as
pessoas já não se interessam por
uma chamada esquerda que não
está de fato à esquerda. A opinião
pública não é idiota.
Folha - A crise da esquerda é uma
particularidade francesa?
Forrester - Não. No sentido de a
esquerda ter se inclinado à direita,
eu diria que a França está atrasada. [O premiê" Blair, no Reino
Unido, ou [o premiê" Schröder,
na Alemanha, estão muito menos
à esquerda que Jospin.
Folha - O que a esquerda pode
aprender com a vitória da direita?
Forrester - Chirac venceu, mas
teve menos de 20% no primeiro
turno. A maioria das pessoas não
é tão ultraliberal. Espero que a esquerda possa se recompor, com
outro sentido da política. Sou de
esquerda e acho que ela deveria
reunir dirigentes que sejam de fato dessa tendência. É preciso ouvir as pessoas, interessar-se por
elas e parar de dizer que a modernidade é coisa da direita -se é de
direita, porque as pessoas vão votar na esquerda? No momento,
aliás, a modernidade é absolutamente regressiva, pois voltamos à
moral e à filosofia política do século 19.
Folha - A alta taxa de abstenção é
sinal de apatia política?
Forrester - Não. As pessoas têm
uma cultura política inacreditável. Os eleitores se abstêm porque
não encontram um partido que
reflita verdadeiramente com eles.
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