|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Jean-Pierre Raffarin, do grupo de Chirac, promete menos impostos e violência se tiver maioria parlamentar
"Somos a renovação", diz o premiê francês
France Press - 25.mai.2002/Editoria de Arte/Folha Imagem
|
O primeir-ministro francês, Jean-Pierre Raffarin, fala durante o lançamento da campanha de seu bloco para as eleições legislativas |
DO "LE FIGARO"
"Se os eleitores nos derem uma
maioria, poderemos, já a partir de
julho, começar a aprovar projetos
de lei relativos às três prioridades
que definimos: a segurança, a Justiça e o sistema fiscal", disse o primeiro-ministro francês, Jean-Pierre Raffarin, ecoando as prioridades do presidente Jacques Chirac, em entrevista ao jornal "Le Figaro" três dias antes do primeiro
turno das eleições legislativas,
realizado há uma semana.
Pouco conhecido dentro da
França, Raffarin assumiu o cargo
em 6 de maio, após o segundo turno das eleições presidenciais, vencido por Jacques Chirac. Seu antecessor, o socialista Lionel Jospin,
já havia anunciado sua renúncia
ao não passar para o segundo turno da disputa.
Raffarin é de centro-direita, como Chirac, e vice-presidente da
DL (Democracia Liberal), partido
que formou -com a RPR (Reunião pela República), de Chirac, e
a UDF (União pela Democracia
Francesa)- um bloco de direita
para enfrentar a esquerda em algumas regiões nas eleições legislativas deste mês: a UMP (União
pela Maioria Presidencial).
O primeiro-ministro, que deve
permanecer no cargo se a direita
obtiver maioria parlamentar hoje,
como prevêem as pesquisas,
anuncia que o primeiro centro de
detenção para menores infratores
estará em funcionamento a partir
do final do ano. Ele também confirma a redução em 5% do Imposto de Renda a partir deste ano e
afirma que a medida será a primeira etapa de uma reforma tributária mais profunda.
Raffarin considera preocupante
a situação das finanças públicas
francesas, mas nem por isso pretende renunciar às reformas prometidas por Chirac, mesmo que
seja preciso fazer economia para
financiar todas as despesas já programadas.
Pergunta - O sr. já é primeiro-ministro há um mês. Sua atuação até
agora é um argumento para vencer
as eleições legislativas?
Jean-Pierre Raffarin - Não estou
à frente do último governo. A legislatura cujo mandato está terminando era socialista. Os franceses quiseram renovar, e nós representamos essa renovação.
Não defendo uma atuação passada -peço uma maioria ampla
e inequívoca para poder honrar
os compromissos do presidente
da República.
Tenho uma grande ambição para nosso país: quero uma França
segura, dinâmica e solidária.
Pergunta - Em que vocês são mais
dignos de crédito do que seus adversários?
Raffarin - Antes de mais nada,
trabalhamos sobre temas que interessam aos franceses. Se os eleitores nos derem a maioria, poderemos, já a partir de julho, fazer
votar os projetos de lei relativos às
três prioridades que definimos:
segurança, Justiça e sistema tributário. Mas precisamos também
agir com vistas ao longo prazo, e
há muito o que fazer.
Pergunta - Os projetos de lei relativos à segurança e à Justiça já foram redigidos?
Raffarin - Já estão prontos, com
financiamento apropriado: 6
bilhões a serem divididos entre a
polícia e a Justiça, ou seja, a balança pende nitidamente em favor da
Justiça.
Vamos determinar objetivos
muito precisos em termos de efetivos, por exemplo. Espero que o
primeiro centro de detenção fechado para menores infratores esteja operacional a partir do final
do ano. Seu objetivo primeiro será pedagógico e de reinserção dos
menores. Tudo será feito para obtermos resultados rápidos no
combate à insegurança.
Pergunta - Já foram determinadas as modalidades para aplicar a
redução imediata de 5% no imposto de renda?
Raffarin - Podemos imaginar
uma medida simples que entrará
em vigor a partir de setembro e
uma reforma mais profunda que
será incluída no Orçamento de
2003. A redução dos impostos e
das contribuições sociais é uma
necessidade para o nosso país.
Devemos recompensar o trabalho, e os franceses têm direito aos
frutos do crescimento. É por isso
que a redução do Imposto de
Renda é uma prioridade. As modalidades serão apresentadas ao
Parlamento a partir de julho, para
que a redução entre em vigor depois de setembro. É a primeira
etapa de uma reforma maior.
Não devemos perder de vista o
objetivo primeiro da redução dos
impostos: acelerar o retorno ao
crescimento e favorecer o emprego. Desejo agir prioritariamente a
favor do emprego para os jovens.
Os menos qualificados têm hoje a
maior dificuldade para se inserir
no mercado de trabalho e são os
mais duramente atingidos pelo
desemprego.
O governo trabalha em cima de
uma medida importante voltada
a esses jovens: um contrato para
jovens de menos de 22 anos, sem
encargos sociais. Acredito que seja um caminho útil, já que ajudar
os jovens a adquirir uma formação e uma profissão significa dar-lhes uma garantia para o futuro.
Pergunta - Tudo isso será compatível com os compromissos da França com a Europa? Para respeitar o
pacto de estabilidade, em termos
de redução do déficit, o senhor não
será obrigado a deixar de cumprir
algumas de suas promessas?
Raffarin - De maneira alguma.
Mas a situação atual é preocupante, sim. Fico preocupado ao constatar quantas decisões foram tomadas pelo governo socialista,
mas não financiadas. Apenas na
área da educação, o orçamento já
foi ultrapassado em 5%. Penso
também nos conflitos na polícia
[que realizou protestos por melhores condições de trabalho e salários", cuja solução também terá
um custo financeiro elevado. É
evidente, portanto, que a situação
será difícil. Em 2002, será preciso
poupar para financiar todas as
despesas já programadas.
Vamos reduzir nossos déficits,
pois um país que se endivida continuamente hipoteca seu futuro.
A França vai respeitar seus compromissos assumidos com a Europa, e é por isso que espero poder reduzir nossos déficits públicos o mais rapidamente possível,
levando em conta a situação que
será revelada pela auditoria e a necessidade de preservar o crescimento e o emprego.
Pergunta - Para combater o desemprego, será preciso rever também a legislação relativa às demissões?
Raffarin - Ninguém pode estar
satisfeito com a situação atual do
emprego. Um índice de desemprego de mais de 9% em nosso
país, após cinco anos de crescimento, é intolerável. O crescimento foi desperdiçado, quando
deveria ter sido dividido. Foi esse
o fracasso social dos socialistas.
Deixando de lado a frieza dos números, há situações pessoais de
extrema dificuldade.
É por isso que meu governo situa o emprego no cerne de sua
ação para que o crescimento se
fortaleça, para que nossas empresas estejam mais bem armadas na
concorrência internacional e para
que os franceses tenham formação melhor. Na medida em que
aumentaram as exigências impostas às empresas, o resultado
foi apenas o de apenar o emprego.
E algumas leis recentes intensificaram as dificuldades.
Pergunta - Muitos primeiros-ministros antes do senhor quiseram
levar adiante essas reformas, mas
foram obrigados a recuar. Por que
as coisas seriam diferentes?
Raffarin - Vou reformar porque
sou um homem livre. Não estou
em Matignon [a sede do governo
francês" para ganhar tempo ou
para ficar por mais tempo. Não
fui programado de antemão para
ocupar essa função. Foram as circunstâncias que me trouxeram
para onde estou hoje. Logo, não
tenho medo de ter de deixar esta
casa algum dia. Meu único interesse é estar pronto para fazer
frente aos maiores desafios ao futuro de nosso país. A cada dois ou
três meses vou lançar reformas
novas. Se elas forem bloqueadas,
vou assumir minha responsabilidade diante do Parlamento.
Apostarei a minha credibilidade
para liberar e fazer avançar este
país totalmente congestionado.
Pergunta - O que o sr. fará em relação à imigração ilegal?
Raffarin - Precisamos oferecer
uma integração mais generosa
para os estrangeiros em situação
regular e adotar atitudes mais severas para com os estrangeiros
em situação irregular. A lei atual
conduz a situações desumanas e
dolorosas, em razão da demora
excessiva na avaliação dos pedidos de asilo. Ela pode levar dois
anos. Precisamos urgentemente
diminuir esse tempo.
Mas essa questão não pode ser
resolvida em nível apenas nacional. Na cúpula de Sevilha, vamos
defender a adoção de uma política de imigração que seja verdadeiramente européia. [Os líderes
da União Européia devem se reunir nesta semana em Sevilha (Espanha) para endossar um plano
de ação aprovado por seus ministros do Interior para lidar com a
imigração ilegal".
Pergunta - O sr. é o único líder da
maioria presidencial?
Raffarin - O primeiro-ministro é
naturalmente o líder da maioria.
Não esqueço que essa maioria
ainda precisa ser construída.
Pergunta - Ser líder da maioria
significa ser líder da UMP ou do
conjunto das formações da direita?
Raffarin - Trabalhando em proximidade e confiança com Jacques Chirac, tendo saído da Democracia Liberal e participado da
história da UDF, estou em condições de desempenhar um papel
de ponto de união entre todos
aqueles que apóiam sua ação. Desejo que o grupo comum da UMP
ganhe a maioria das vagas na Assembléia, porque a união é condição necessária para a ação.
Pergunta - O presidente da UMP
deve ser eleito pelo voto universal
dos militantes?
Raffarin - Não imagino a existência dessa nova formação sem
uma via profundamente democrática. Já sofremos demais, até
agora, em razão de disputas pessoais ou políticas. É claro que será
preciso um presidente eleito. Mas
um partido não se constrói de um
dia para o outro.
Será preciso, sem dúvida, começar por um período de organização transitória, para garantir que
cada um se sinta à vontade nessa
família, independentemente de
sua história política.
Pergunta - Seu governo será modificado logo após as legislativas?
Raffarin - A tradição republicana
me levará a oferecer ao presidente
da República a demissão de meu
governo. O futuro estará nas
mãos dele.
Pergunta - O que Jacques Chirac
deve fazer no caso de vitória da esquerda nas eleições legislativas?
Raffarin - O presidente da República tem uma missão própria.
Sua eleição, com mais de 82% dos
votos, o confirmou em seu papel
de fiador dos valores da República.
Tradução de Clara Allain
Texto Anterior: Para analista, eleitor de esquerda está órfão Próximo Texto: Frases Índice
|