|
Próximo Texto | Índice
Vídeo mostra adolescente depondo em Guantánamo
Omar Khadr, então com 16 anos, reclama de maus-tratos a agentes canadenses que o inquirem
Gravação é a primeira da base a ser divulgada; jovem canadense foi preso em 2002 por atirar granada e matar sargento dos EUA
Reprodução/Reuters
|
|
Imagens do interrogatório gravadas por agentes americanos
DA REDAÇÃO
O vídeo do interrogatório de
um adolescente canadense em
Guantánamo foi liberado ontem por seus advogados, mostrando pela primeira vez procedimentos aplicados aos suspeitos de terrorismo. A dimensão
indecorosa está no fato de o interrogado ser menor de idade.
Segundo a CNN, Guantánamo
chegou a abrigar oito menores,
quase todos já libertados.
Omar Khadr tinha acabado
de completar 16 anos quando,
em fevereiro de 2003, foi por
quatro dias interrogado na base
americana incrustada em Cuba
por três agentes dos Serviços de
Segurança e Inteligência canadenses. Não há cenas de violência ou coação física.
Khadr nasceu no Canadá e
foi criado no Afeganistão. Parte
de sua família tem histórico de
ligações com a rede terrorista
Al Qaeda (leia texto ao lado).
Hoje com 21 anos, Omar
Khadr foi preso em julho de
2002 em território afegão, depois que soldados americanos
cercaram uma base extremista
nos primeiros meses da guerra
que se seguiu ao 11 de Setembro. Khadr foi resgatado dos escombros, gravemente ferido.
Tortura em Bagram
Ao ser pela primeira vez interrogado na base aérea americana de Bagram, Afeganistão,
ele confessou ter lançado a granada que matou o sargento
Christopher Speer e cegou um
outro militar dos Estados Unidos. Mas a confissão, argumentam hoje seus advogados, não
tem valor por ter sido obtida
sob tortura. Khadr agora nega
ter matado o sargento.
A gravação do interrogatório
de 2003, um documento tecnicamente precário, com a câmera escondida atrás das grades
da tubulação de ar-condicionado, dura pouco mais de sete horas. O vídeo ontem liberado
tem apenas dez minutos.
A impressão que ele passa é
de um adolescente imaturo e
fragilizado. No primeiro dia do
interrogatório ele acreditou
que os agentes canadenses estivessem em Guantánamo para
ajudá-lo a voltar ao Canadá e
não para obter informações a
serem repassadas à CIA, o serviço americano de inteligência.
"Eu não tenho mais os meus
olhos, não tenho mais os meus
pés", diz ele, chorando e com as
mãos escondendo o rosto. Em
certo momento ele levanta o
avental cor de abóbora, uniforme dos prisioneiros islâmicos,
e mostra ferimentos, ainda não
cicatrizados, do combate no
Afeganistão do qual participou.
"Mas você está recebendo
um tratamento médico adequado", responde um dos interrogadores. "Vocês não se preocupam comigo", afirma o então
adolescente, em meio a um
choro convulsivo.
O porta-voz do Pentágono, J.
D. Gordon, afirma que o prisioneiro não foi maltratado. "Nossa política é a de tratar a todos
com humanidade", disse ele.
O oficial da Marinha americana designado como defensor
de ofício de Khadr, William
Kuebler, diz que o vídeo mostra
"um garoto atemorizado, que
deveria ser autorizado a voltar
ao seu país, o Canadá".
Relatório da Chancelaria canadense, também divulgado
ontem pelos advogados do prisioneiro, traz texto de um alto
funcionário, Jim Gould, que visitou Khadr em 2004.
Privação de sono
Gould foi informado por
agentes americanos que a cada
três horas o adolescente era
transferido para uma nova cela.
Com isso, ficava impedido de
dormir por um período adequado e ficava com suas resistências debilitadas para "render" mais nos interrogatórios.
O documento também diz
que Khadr foi colocado por três
semanas em regime de isolamento. Cópias do interrogatório feito por americanos sugere,
segundo os canadenses, que o
adolescente era bem mais intimidado e não propriamente
instado a cooperar.
A Corte Suprema do Canadá
determinou em maio último
que o governo entregasse aos
advogados de Khadr as informações levantadas contra ele,
para que a defesa pudesse fazer
seu trabalho. No mês passado
um tribunal federal, também
canadense, determinou que o
vídeo agora difundido fosse entregue aos advogados.
Segundo essa decisão, os
americanos, "no caso, desrespeitaram os direitos humanos e
as Convenções de Genebra" sobre prisioneiros de guerra.
Com agências internacionais
NA INTERNET -
www.folha.com.br/081971
veja o vídeo
Próximo Texto: Governo canadense se recusa a solicitar repatriação de Khadr Índice
|