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Kirchner e campo apelam a Senado
Rivais na disputa que levou ao locaute reúnem milhares em Buenos Aires antes de voto sobre imposto
Senadores chegam hoje divididos à votação; marido de Cristina liga ruralistas à repressão da ditadura e vê sua vitória como garantida
ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES
Buenos Aires se transformou
ontem em um campo de batalha entre o setor ruralista e o
governo, com a realização de
dois grandes atos à véspera da
votação no Senado do projeto
de lei que determina o aumento
de impostos sobre as exportações de grãos e que desatou o
conflito entre os dois lados há
quatro meses.
Enquanto os líderes ruralistas centraram seus discursos
em convencer os senadores a
votar contra o projeto do governo, o ex-presidente Néstor
Kirchner, que liderou o ato oficialista, preferiu voltar as armas ao campo e dar a vitória no
Congresso por garantida.
O presidente das Confederações Agrárias Argentinas, Mario Llambías, pediu que os senadores "ponham ovos [tenham culhões] e votem a favor
do povo". Já o presidente da
Federação Agrária de Entre
Ríos, Alfredo de Angeli, disse
que os legisladores têm a responsabilidade de unir o povo e
que os que votarem com o governo perderão sua liberdade.
"Vão perder a liberdade, não
sei o que vão dizer ao povo ou
como vão voltar a suas Províncias", afirmou De Angeli.
O presidente da Federação
Agrária Argentina, Eduardo
Buzzi, preferiu apontar as contradições do governo, que costuma atacar os grandes produtores de soja. "Como se pode falar em nome do povo quando
oferecem as terras das Forças
Armadas aos "pools" de plantação e azeiteiras amigas?", questionou Buzzi.
Do outro lado, Kirchner, hoje
presidente do Partido Justicialista (peronista), relacionou os
ruralistas à repressão da ditadura. "Como nas piores etapas
de 1955 e de 1976 (golpes militares), saem como comandos
civis e grupos de tarefas para
agredir a quem não pensa como
eles de forma vergonhosa", disse o ex-presidente. Em nome
da mulher e atual presidente,
Cristina Kirchner, defendeu o
aumento de impostos, mas afirmou que é o Congresso quem
terá a decisão final.
"Não viemos pressionar ninguém. Respeitamos a decisão
do Congresso seja qual for",
afirmou, diante das acusações
de que o governo faria pressão e
teria comprado o voto de legisladores a favor da lei. Não deixou, porém, de pedir apoio:
"ajudem Cristina como ajudaram a mim".
Ao menos nos números, os líderes agropecuários venceram
a batalha de ontem. Segundo
estimativas extra-oficiais, o
evento ruralista reuniu 225 mil
pessoas no Monumento aos Espanhóis, com a maciça presença de agricultores do interior,
de movimentos sociais, da classe média da capital e de líderes
da oposição. Com líderes e militantes peronistas e simpatizantes do governo, o ato oficialista
teria reunido 95 mil pessoas em
frente ao Congresso.
Votação
O alvo dos dois atos de ontem
eram os senadores argentinos,
que votam hoje o projeto de lei
sobre o aumento de impostos
nas exportações de grãos.
Ontem à noite, imprensa e os
dois lados da disputa contavam
que as intenções de votos estariam praticamente empatadas.
Ainda há senadores indecisos.
Se o projeto do governo for
aprovado, os líderes ruralistas
afirmaram que vão recorrer à
Justiça como última opção. Caso seja rejeitado, há quatro projetos alternativos, que poderiam ser discutidos pela Casa.
Se houver um empate, a decisão cabe ao vice-presidente, Julio Cobos, também presidente
do Senado, que entrou em confronto com o governo ao convocar ruralistas e governadores
opositores para discutir o tema.
A posição de Cobos na questão
ainda é desconhecida.
A sessão em que o projeto foi
aprovado na Câmara de Deputados durou 19 horas.
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