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APAGÃO AMERICANO
Quinhentos mil amanhecem sem luz pelo segundo dia consecutivo em Detroit; nova-iorquinos aos poucos retomam a rotina
Meio-Oeste sofre mais com blecaute
ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK
Se Nova York festejou já na sexta à noite a volta da energia em toda a cidade, o Meio-Oeste americano vai ter de esperar mais para
retornar à normalidade.
As regiões metropolitanas de
Detroit (no Estado de Michigan) e
Cleveland (em Ohio) foram as
que mais tempo ficaram no escuro -no caso da primeira, algumas casas só deverão ter luz hoje.
Mas o problema agora é outro.
Autoridades dos dois Estados estão preocupadas porque, com as
estações de tratamento paradas,
muito esgoto foi despejado diretamente no sistema de abastecimento de água da população.
Assim, após superar o pior desabastecimento de água da história da cidade -causado pela falta
de energia-, Cleveland teve de
montar um esquema de emergência por causa da falta de garantia
sobre o que chegava às torneiras.
Enquanto a Guarda Nacional distribuía água potável, os moradores foram aconselhados a ferver a
água até hoje à tarde.
Orientação semelhante foi dada
na região de Detroit, onde um
quarto dos 2,1 milhões de moradores amanheceu ontem sem luz
pelo segundo dia seguido. A companhia elétrica não prometia mais
que religar "grande porcentagem" até o final do dia -à tarde,
anunciou que quase todas as casas estavam religadas.
Por causa da falta de perspectiva, muita gente resolveu "fugir"
da cidade. Na tarde de sexta-feira,
havia longas filas nas estradas.
Detroit enfrentou grave problema
de falta de gasolina, que precisou
ser trazida do sul de Michigan, Estado onde fica a cidade.
Em meio à falta de explicação
para o blecaute, uma nova hipótese indica que o problema pode ter
começado no Meio-Oeste.
Um documento divulgado pelo
North American Eletric Reliability Council aponta que a queda
de uma linha de transmissão nos
arredores de Cleveland é o primeiro evento anormal notado na
sequência de acontecimentos anteriores ao apagão.
Anteontem, o órgão dissera que
não poderia assegurar ser essa a
origem do blecaute. Ontem, porém, afirmou que a queda das linhas é, de fato, a causa mais provável para o problema. EUA e Canadá deverão formar uma comissão conjunta de investigação.
O blecaute representou, no pico, uma perda de 61 mil megawatts para o sistema elétrico local
-quase cinco vezes a produção
de Itaipu por hora. Isso representa mais que o dobro do maior blecaute anterior, em 1965, quando a
falta de energia atingiu 30 milhões
de pessoas. Na última quinta-feira, 50 milhões ficaram sem luz.
Apesar da extensão do blecaute,
autoridades americanas comemoravam o baixo número de crimes. O mesmo, porém, não ocorreu no Canadá. Em Ottawa, a capital do país, foram registrados 23
saques. Houve duas mortes como
consequência do apagão.
Apesar de ainda haver alguns
problemas no sistema de telefonia, Nova York iniciou o dia de
ontem com a situação já bem normalizada. O metrô voltou a circular na madrugada.
A Broadway funcionou normalmente na noite de anteontem. A
associação dos produtores de peças disse que, apesar de venderem
cerca de US$ 1 milhão em ingressos por noite, o prejuízo não foi
tão grande -além de as empresas terem seguro contra eventos
do tipo, muita gente resolveu trocar o ingresso para outro dia, em
vez de pedir o dinheiro de volta.
Os nova-iorquinos continuam
achando graça dos problemas
causados pelo blecaute. Na capa
do tablóide "New York Post", havia a foto de uma mulher segurando cartaz com a inscrição: "Eu
dormi com todas essas pessoas
ontem à noite", brincando com o
fato de que muita gente não conseguiu voltar para casa e se acomodou na rua. O diário "Daily
News" estampou em seu site:
"Nós temos a força!".
Mas nem tudo é festa. A Câmara
Municipal de Nova York traçou
uma estimativa para os prejuízos:
o apagão teria provocado perdas
de US$ 750 milhões em vendas
-com os cofres públicos deixando de arrecadar US$ 40 milhões
em impostos. Além disso, cerca
de US$ 10 milhões foram gastos
no primeiro dia com o pagamento de horas extras.
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