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São Paulo, domingo, 17 de agosto de 2003

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APAGÃO AMERICANO

Autoridades também investigam o motivo da falha nos sistemas que deveriam impedir as quedas de energia de se espalharem

Problema teria começado em Cleveland

Jeff Cristensen/Reuters
Pessoas esperam no metrô de Nova York, com a volta do serviço ao normal ontem após o blecaute que atingiu o nordeste dos EUA


DO "THE NEW YORK TIMES"

O colapso de energia que paralisou boa parte da América do Norte, na quinta-feira passada, aparentemente começou com uma falha no Meio-Oeste americano -na região de Cleveland-, que se propagou para o Canadá e, daí, para Nova York, afirmam funcionários do setor energético. Eles dizem que estão tentando determinar por que o apagão se espalhou por tamanha extensão.
Uma enorme e instantânea reversão do fluxo de energia -grandes porções de eletricidade que estavam se movendo para leste sobre os Grandes Lagos e que foram repentinamente sugadas de volta- sobrecarregou uma ou mais linhas de transmissão de energia, as quais rapidamente ficaram fora de serviço.
Em segundos, linhas paralelas estavam também com sobrecarga e caíram. E, então, estações geradoras se desconectaram umas das outras. Dezenas de linhas e cerca de cem usinas de energia, com capacidade para gerar 61,8 mil MW, tinham desligado -aparentemente antes de que qualquer ser humano pudesse reagir.
A série de falhas começou por volta das 16h08, e durou cerca de cinco penosos minutos. Os problemas foram disparados por poucos segundos de grande instabilidade nos fluxos de energia.
"Todo o acontecimento durou cerca de 9 segundos, talvez 10", disse Michehl Gent, presidente e executivo-chefe do North American Electric Reliability Council, a agência encarregada por zelar pela confiança e segurança do sistema energético no subcontinente, descrevendo como o problema começou. O órgão foi fundado depois do blecaute de 1965 para prevenir que isso se repetisse.
Gent e outras autoridades não puderam oferecer explicação para a falha de uma série de sistemas que deveriam isolar esses problemas. Alguns deles funcionaram, notadamente no norte de Nova Jersey e Pensilvânia, evitando que a falha se espalhasse em direção ao sul, e em Connecticut, protegendo a Nova Inglaterra. Só que outros não funcionaram.
"Se nós desenhamos o sistema para que isso não acontecesse, como ocorreu?", disse Gent. "Eu não posso responder a essa questão. Estou confuso", completou.
Engenheiros afirmaram acreditar que o primeiro evento foi uma perda de geração, mas ela aconteceu tão rápido que, um dia depois, funcionários ainda estavam vasculhando computadores para tentar estabelecer a sequência.
Arquivos mostram que, nas duas horas que antecederam o colapso total, houve uma série de problemas em linhas de transmissão em Ohio. Dados mantidos pela SoftSwitching Technologies, uma empresa contratada pela indústria de energia para monitorar a rede de transmissão, mostram episódios de grande queda de voltagem nessas linhas -às 14h21, duas vezes às 15h17 e, mais grave, duas novamente às 15h43.
Os problemas mais sérios podem ter envolvido a linha de transmissão em Cleveland (Ohio), foco das investigações.
Para o vice-presidente da Hydro-Ottawa, distribuidora de energia canadense, o colapso provavelmente foi provocado pela "ruptura de um dos circuitos principais do lado americano, na região próxima de Cleveland".
Os últimos dois incidentes, diferentemente dos primeiros, não se autocorrigiram em poucos segundos, e a voltagem permaneceu baixa. Por volta de 16h09, um problema também apareceu no Estado de Michigan, e a calamidade estava totalmente a caminho.
Os problemas em Ohio levantam questões sobre se os funcionários estavam se esforçando para resolver uma crise e se medidas apropriadas foram tomadas para evitar que ela se espalhasse.
Na quinta-feira, autoridades expunham teorias sobre as causas do problema, incluindo alta demanda devida ao calor, raios que teriam atingido a região das Cataratas do Niágara, ou um incêndio numa usina de energia.
Autoridades políticas, por seu turno, reclamaram de um sistema antiquado de transmissão e defenderam mais investimentos na rede. Robert Blohm, consultor em energia, alertou que a cadeia de eventos pode ter sido posta em marcha por causa de regras ruins para a regulação da rede.
A palavra final sobre as causas do apagão da quinta-feira, o maior da história dos EUA e do Canadá, deve vir de uma força-tarefa binacional a ser criada.


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