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Congresso dos EUA pode desencalhar plano energético
CARL HULSE
DO "THE NEW YORK TIMES"
O blecaute vai dar novo alento a
um plano energético que está parado no Congresso dos EUA há
mais de dois anos, disseram congressistas anteontem, acrescentando que as partes do plano voltadas à atualização da infra-estrutura energética vão ganhar nova
importância por conta do apagão.
"Simplesmente, não podemos
nos dar ao luxo de esperar mais",
disse o deputado republicano
Billy Tauzin, presidente da Comissão de Energia e Comércio.
"Estão em jogo nossa economia e
nosso modo de vida."
Tauzin disse que a comissão
abrirá um inquérito sobre as causas do blecaute e convocará uma
audiência sobre o tema logo depois de o Congresso retomar suas
atividades, após o Dia do Trabalho (a primeira segunda-feira de
setembro). O senador democrata
Charles Schumer pediu audiências semelhantes no Senado.
Quando retornarem às atividades, negociadores do Senado e da
Câmara deverão iniciar discussões que já estavam programadas,
visando fundir os projetos de lei
sobre a energia que estão parados
desde 2001 por conta de uma série
de pontos de discórdia.
A medida discutida no Senado
ficou atolada a tal ponto no início
do mês que líderes republicanos
concordaram em aprovar o projeto de lei de 2002, apesar de ele ter
sido redigido quando a Casa era
controlada pelos democratas.
O plano da Câmara e o do Senado inclui medidas que visam aumentar a capacidade de transmissão de energia do país e protegê-la
contra quedas de força em grande
escala. Mas resta uma discordância séria sobre o plano que requer
que as empresas de eletricidade
participem de organizações energéticas regionais capazes de compartilhar energia em todo o país.
Muitos parlamentares do sul e do
oeste dos EUA se opõem a essa
abordagem.
Além disso, a aprovação da medida global depende da capacidade de seus autores de encontrar
soluções para disputas sobre exploração de gás e de petróleo, subsídios às usinas nucleares, aquecimento global e outras questões
igualmente contenciosas.
A deputada democrata Nancy
Pelosi, da Califórnia, disse que o
fato de o presidente George W.
Bush e seus aliados no Congresso
insistirem na necessidade de conseguir a aprovação para perfurações petrolíferas na Reserva Natural Nacional do Ártico ajudou a
impedir a aprovação de medidas
que poderiam ter levado a melhorias na rede energética do país.
Republicanos disseram que as
melhorias no sistema de transmissão energética foram obstruídas pela resistência de ambientalistas. ""Se a política pública aceita
na América passar a ser a idéia de
"no meu quintal, não", então veremos muitas pessoas voltando a pé
do trabalho para suas casas sem
luz", disse Ken Johnson, porta-voz de uma comissão da Câmara.
O consenso, anteontem, dizia
que o blecaute iria conferir novo
ímpeto ao projeto de lei sobre a
energia, que se tornara secundário para os líderes do Congresso.
""O blecaute mostrou até que
ponto o país está perto de seu limite em termos de produção e de
distribuição de energia", disse o
senador republicano Pete Domenici, presidente da Comissão de
Energia e de Recursos Naturais.
Mas a perspectiva de que republicanos e democratas possam
chegar a um acordo sobre o projeto de lei preocupa os grupos ambientalistas, que se opõem aos
dois projetos. ""Todo mundo vai
correr para pegar o bonde andando, e o problema é que nem o projeto de lei da Câmara, nem o do
Senado, nem o plano energético
do presidente vão fazer o que será
preciso para nos proporcionar
um futuro com energia mais limpa", disse Anna Aurilio, diretora
legislativa do Grupo de Pesquisas
em Interesses Públicos.
As medidas elétricas previstas
no projeto ficam em segundo plano com relação a questões como a
perfuração de poços petrolíferos.
Mas elas foram acompanhadas de
perto pelo setor energético, pelas
instâncias reguladoras do Estado
e pelos congressistas.
Para aprovar a medida energética do Senado, a liderança concordou com pedidos formulados por
congressistas -entre eles o senador republicano Richard
Shelby- para que se busque
adiar por um prazo considerável
o novo mercado nacional de
transmissão proposto pela Comissão Federal de Regulamentação Energética.
Shelby e outros dizem que o plano usurparia a autoridade do Estado e castigaria as empresas de
eletricidade locais que investiram
em melhorias da transmissão.
Eles preferem que sejam traçados
novos padrões aplicáveis de confiabilidade para a rede elétrica.
"Parece que os blecautes em
cascata ocorridos no nordeste do
país fizeram apenas reforçar a necessidade de privilegiar sobretudo a confiabilidade e o desenvolvimento da infra-estrutura de
transmissão, em vez de criar um
novo sistema nacional de mercado", disse uma porta-voz de
Shelby.
Mas o senador Jeff Bingaman,
do Novo México, disse que os blecautes vão levar os congressistas a
estudar modificações numa rede
elétrica que, conforme ele afirmou, foi em grande parte construída e regulamentada Estado
por Estado. ""Os tempos mudaram, e nossas políticas precisam
acompanhar essas mudanças",
disse ele anteontem.
Schumer exortou os negociadores do Congresso a eliminar do
projeto de lei tudo o que diz respeito à eletricidade até que seja
identificada a causa do blecaute,
para garantir que a nova legislação não venha a piorar ainda mais
a situação.
"O blecaute no nordeste do país
destaca a profunda vulnerabilidade de nosso sistema nacional de
distribuição elétrica e chama a
atenção para a necessidade de
procedermos com prudência extrema na criação da política elétrica federal", escreveu Schumer a líderes que trabalham com o tema.
Tradução de Clara Allain
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