|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ORIENTE MÉDIO
Em entrevista, o premiê de Israel acusa os dirigentes palestinos de não agirem contra o terror, que ele vincula a Arafat
Palestinos ignoram obrigação, diz Sharon
CHARLES LAMBROSCHINI
DO "LE FIGARO", EM JERUSALÉM
O falcão Ariel Sharon é duro ao
falar do ambiente em que vive:
"No Oriente Médio, ninguém pode se contentar com promessas,
belos discursos, declarações pomposas. Para obter progresso, é
preciso fixar objetivos precisos".
Por causa dessa posição, Sharon, que ocupa o cargo de premiê
israelense desde o início de 2001,
considera indecisa a atitude do
premiê palestino, Mahmoud Abbas (mais conhecido como Abu
Mazen), contra o terror e acredita
que os americanos terão de exercer pressão mais dura sobre a Síria. "Os palestinos se recusam a
cumprir seus compromissos."
Nascido em 1928 numa aldeia
ao norte de Tel Aviv, o controverso general Sharon é acusado pelos
palestinos de crimes de guerra e
massacres em várias campanhas
militares israelenses.
Pergunta - Em plena trégua, Israel ainda assim foi alvo de atentados suicidas. Qual é sua resposta?
Ariel Sharon - Os dois ataques
confirmam que a Autoridade Palestina nada faz para combater o
terrorismo. Nossos interlocutores
se recusam a cumprir seus compromissos, a desmantelar a estrutura de suas organizações terroristas, a confiscar as armas. As autoridades palestinas deveriam
compreender que, caso não façam o que deveriam, todos os
avanços no processo político se
tornam impossíveis.
Pergunta - O que Israel ganharia
com uma ruptura?
Sharon - Não podemos aceitar
que o terrorismo se torne parte
integrante da vida dos israelenses.
E os EUA não aceitarão. Ainda
que lamentando que a Autoridade Palestina se recuse a travar esse
combate de maneira séria, Israel
continuará a lutar contra os terroristas. Mas, se Israel, que preferiria continuar pela via política,
constatar que não há progresso a
esperar, o diagnóstico será claro.
Os palestinos, assim, não poderão
obter o que desejam.
Pergunta - No dia 9 passado, três
dias antes do duplo atentado, a
aviação israelense destruiu uma
bateria antiaérea do Hizbollah que
acabara de bombardear a Galiléia e
ferir um jovem israelense. Já que o
sr. acusa a Síria de estar por trás do
Hizbollah, planeja atacar a Síria?
Sharon - Não é a primeira vez
que o Hizbollah nos toma por alvos. Nos últimos meses, os disparos contra Israel não param. Nós
advertimos o Hizbollah muitas
vezes. Os EUA estão pressionando a Síria. Mas os disparos continuaram. Por isso, decidimos que
cada vez que uma de suas baterias
antiaéreas abrisse fogo, seria destruída. Israel deseja calma em sua
fronteira norte, e por isso tentamos provar nossa enorme contenção. Mas jamais aceitaremos
que a segurança dos nossos cidadãos seja ameaçada. Essa é a mensagem que, uma vez mais, endereçamos aos nossos adversários.
Pergunta - No ano passado, o sr.
não hesitou em lançar seus aviões
contra um radar sírio no Líbano,
que cobria as rotas para Damasco.
O sr. estaria pronto a repetir um
ataque desses caso sua mensagem
não seja compreendida?
Sharon - Tomarei todas as medidas necessárias para proteger
meus concidadãos. Há muitos alvos disponíveis, na verdade. Logo
depois da queda de Bagdá, os norte-americanos submeteram a Síria a pressões muito fortes. No começo, os sírios ficaram inquietos
e optaram pela discrição. Mas, depois de algumas semanas, retomaram sua política de apoio a organizações terroristas. Uma vez
mais, ignoraram as exigências de
Washington. Continuam a permitir que o Hamas e o Jihad Islâmico treinem seus terroristas em
território sírio.
Pergunta - Essa atitude não quer
dizer que as pessoas perderam o
medo dos americanos, enquanto
seus soldados estiverem presos à
pacificação do Iraque?
Sharon - Creio que temos um erro de método. No Oriente Médio,
ninguém pode jamais se satisfazer
com promessas, belos discursos e
declarações pomposas. Se queremos um avanço, é preciso definir
objetivos bastante precisos, com
etapas detalhadas para atingi-los
e prazos firmes. As pressões sobre
os sírios precisam ser ainda mais
duras. Os americanos deveriam
ter-lhes dito que as organizações
terroristas na Síria precisam ser
expulsas até o dia tal, hora tal.
Pergunta - Em resumo, o sr. deseja "exportar" o processo de negociação que aplica às suas relações
com os palestinos.
Sharon - Por que não? O plano
de paz se baseia em resultados e
em um calendário firme. Sejamos
concretos. Quero duas coisas: a
democratização das instituições
palestinas, para que [o líder palestino] Iasser Arafat perca todas as
suas posições de influência, e o
desmantelamento de organizações terroristas. Meus interlocutores precisam compreender que,
caso não avancem nesses dois
pontos, também não avançarei.
Pergunta - A julgar por suas críticas ao premiê palestino, sua técnica de negociação não é um sucesso.
Sharon - Nada foi feito para erradicar o terrorismo. Uma vez mais,
minhas exigências são bastante
concretas. Trata-se de prender os
chefes que ordenam os assassinatos, interrogá-los e puni-los. A seguir, é preciso proibir as organizações extremistas. Por fim, é necessário confiscar-lhes as armas e remetê-las a um terceiro país, por
exemplo os EUA, para garantir
que sejam despachadas para longe do território da Autoridade Palestina e destruídas. Além disso,
quero o fim completo dos atentados e a suspensão das incitações à
violência. Mesmo que, quanto a
esse último ponto, seja necessário
algum tempo, já que a solução
passa por uma reforma das escolas e por uma sensibilização quanto à educação para a paz.
Pergunta - Mas o seu Exército matou tantos homens dos serviços de
segurança palestinos e destruiu
tantas instalações e equipamentos
que o premiê Abbas talvez não disponha dos meios necessários para
atacar o terrorismo.
Sharon - O sr. está brincando! A
Autoridade Palestina dispõe de 60
mil homens divididos entre 12
serviços de segurança diferentes.
Infelizmente, 60% dessas forças
continuam sob o controle de Arafat, quando deveriam estar sob o
comando de um responsável único, o chefe de governo Mahmoud
Abbas. A primeira reforma que
Mahmoud Abbas deveria executar seria atacar o monopólio de
Arafat sobre os serviços de segurança. É preciso que ele seja privado do controle do dinheiro, e assim do pagamento dos salários.
Segundo nossas estimativas, Arafat dispõe de US$ 2 bilhões espalhados pelo mundo, mais que o
necessário para as reformas.
Pergunta - Mahmoud Abbas talvez não queira correr o risco de deflagrar uma guerra civil palestina.
Sharon - Creio que o maior risco
é aquele que pende sobre a cabeça
dele. E ele continuará sob ameaça
enquanto as organizações terroristas não forem desmanteladas.
Quanto mais tempo passar, mais
difícil será agir. Se os movimentos
terroristas aceitaram um cessar-fogo, é devido à eficácia do Exército israelense, de nossos serviços
de informações, de nossa polícia.
Mas, nesse meio tempo, eles se
aproveitaram da calmaria para
recriar suas redes e reconstituir
seus arsenais. A ponto de a indústria bélica palestina estar trabalhando a pleno vapor: eles estão
prontos para produzir centenas
de mísseis Kassem e estão trabalhando para ampliar o alcance
dessa arma para, creio, 10 km.
Pergunta - O sr. ajudaria Abbas a
combater o terrorismo?
Sharon - Certamente. Para começar, nós o ajudamos ajudando
a população. Libertamos prisioneiros, cerca de 700. Aumentamos a cota de permissões de trabalho, para que mais palestinos
possam vir ganhar dinheiro entre
nós. Removemos os bloqueios
que prejudicam o deslocamento
em diversas rotas. Também ajudamos Mahmoud Abbas ao mostrar que, para obter a paz, Israel
está pronto a assumir compromissos dolorosos. Esses gestos
que acabo de enumerar foram
realizados ainda durante os ataques terroristas porque, contrário
às nossas esperanças, os ataques
jamais cessaram. Para chegar a
uma paz autêntica e durável, Israel está pronto a ir longe, longe
demais até, mesmo que isso lhe
custe muito.
Texto Anterior: Max factor: Estupro custará US$ 19 mi a dono de marca cosmética Próximo Texto: América Latina: Lagos defende "coesão social" para crescer Índice
|