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ELEIÇÃO NOS EUA
Institutos de opinião usam margens de erro elevadas, que impedem análises precisas na disputa Bush-Kerry
Pesquisas pouco dizem sobre quem vencerá
LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK
Tamanha é a avalanche de pesquisas despejada sobre os americanos nesta corrida presidencial
que mal há espaço para questionar o que se lê. Mas, numa disputa
tão acirrada como a de George W.
Bush e John Kerry, é possível confiar em resultados com margens
de erro tão amplas como a dos
atuais levantamentos?
Na última sondagem para o canal CNN e o jornal "USA Today",
feita nos dias 9 e 10 de outubro, o
instituto Gallup entrevistou 793
prováveis eleitores. Kerry apareceu com 49% das intenções de voto, e Bush, com 48%.
Com a amostra tão reduzida, a
margem de erro é de quatro pontos percentuais em ambas as direções -um intervalo total de oito
pontos, no qual a vantagem de
Kerry tem grande chance de inexistir. Em alguns levantamentos,
o intervalo chega a dez pontos.
"Numa disputa acirrada como a
dos EUA, uma pesquisa assim pode se tornar inútil. Que adianta
mostrar um resultado apertado se
você não pode mostrar quem está
na frente?", diz Mauro Paulino,
diretor do Datafolha.
A questão em jogo pode ser financeira. Quanto menor a margem de erro, mais entrevistas são
necessárias e mais caro o levantamento -uma margem de erro de
um ponto percentual demanda ao
menos 6.000 entrevistas. E a opção da imprensa americana na
atual disputa tem sido investir em
um maior número de sondagens,
em detrimento da precisão.
Além das pesquisas nacionais,
há também uma enxurrada de
pesquisas estaduais. Esses levantamentos são fundamentais, pois
nos EUA a eleição é decidida no
Colégio Eleitoral, e os delegados
no colégio votam em bloco de
acordo com o resultado da eleição
popular em seu Estado.
"Normalmente, os resultados
da pesquisa nacional e das estaduais estão atrelados -se a nacional mostra alguém dez pontos
na frente, essa pessoa não vai perder no Colégio Eleitoral", diz
Frank Newport, editor de pesquisas do Gallup. "Quando a disputa
é acirrada, tal relação pode mudar. É por isso que estamos fazendo tanta pesquisa estadual."
Mas, pelas sondagens estaduais,
o resultado também é nebuloso.
Segundo a última série do Gallup,
Bush tem 207 prováveis votos no
Colégio Eleitoral, e Kerry, 213. Há
ainda 118 em jogo, em Estados onde a disputa está empatada.
Outra zona cinzenta são as
"tracking polls" (pesquisas de rastreamento). Trata-se de levantamentos divulgados diariamente
que levam em conta os dados colhidos num período de três ou
quatro dias.
Por exemplo: uma "tracking
poll" divulgada na quinta-feira é
feita com base em entrevistas colhidas de segunda a quarta; para o
resultado divulgado na sexta, a
pesquisa descarta as entrevistas
feitas na segunda e acrescenta a
opinião de novos eleitores, ouvidos na quinta -e assim sucessivamente. Seus defensores afirmam que elas permitem registrar
mudanças no sentimento do eleitorado à medida que ocorrem.
"Numa eleição, principalmente
com tanta exposição à propaganda, alguns eleitores podem mudar
de idéia do dia para a noite", considera Newport.
O problema nesse caso é que o
peso de um evento de impacto,
como um debate, ocorrido durante o levantamento, é diluído.
O ataque mais recente à metodologia das pesquisas partiu de
um dos principais jornalistas do
país, Jimmy Breslin. Ele argumenta as pesquisas são feitas apenas
por telefone e com aparelhos fixos, descartando a parcela da população que usa apenas celular.
Breslin e outros críticos dizem
que boa parte da população jovem só usa o celular, porque fica
pouco tempo em casa. É um público que nunca teve grande participação nas eleições (o voto nos
EUA é facultativo), mas cuja posição pode ter mudado neste pleito,
no qual foram batidos recordes de
registros eleitorais.
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