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GUERRA SEM LIMITES
Pela primeira vez, funcionários detalham maus-tratos na prisão dos EUA; Defesa diz que ação é "humana"
Agentes descrevem tortura em Guantánamo
DO "NEW YORK TIMES"
Detentos da base americana de
Guantánamo, em Cuba, foram regularmente sujeitados a tratamento cruel e coercivo, segundo
relatos de várias pessoas que trabalharam na prisão. Os relatos
contradizem afirmações do Pentágono de que tais práticas eram
apenas casos isolados.
Guardas militares, agentes de
inteligência e outros funcionários
descreveram ao "New York Times" uma série de procedimentos
altamente abusivos ocorrendo
por um longo período na prisão.
Um procedimento regular descrito por duas pessoas de Camp
Delta, a principal prisão da base,
era fazer com que prisioneiros
"não-cooperativos" se despissem,
ficando apenas com as roupas de
baixo. Sentados numa cadeira,
eles eram então algemados ao
chão, por um dos pés e uma das
mãos, e forçados a suportar luzes
fortes e alto-falantes tocando rock
e rap em alto volume.
Para completar, disse um oficial
militar que testemunhou o procedimento, o ar condicionado era
colocado no máximo. Segundo
ele, o objetivo era deixar os detentos desconfortáveis, já que estariam acostumados a altas temperaturas tanto em seus países nativos quanto em suas celas.
Essas sessões poderiam durar
até 14 horas, com intervalos, segundo o oficial. "Isso os "fritava'",
disse o oficial, alegando que a raiva que sentia a respeito do tratamento dado aos prisioneiros o
motivou a falar com o repórter.
Outra pessoa familiarizada com
o procedimento disse: "Eles ficavam vacilantes. Voltavam para
suas celas acabados".
Outro procedimento comum
era acordar prisioneiros diversas
vezes durante a noite para serem
interrogados.
Esses novos relatos vêm de pessoas que testemunharam ou participaram das técnicas, e de outros
que estavam em posição de saber
dos detalhes da operação. Todos
falaram sob condição de que suas
identidades fossem preservadas.
Alguns ainda estão no Exército.
Ex-prisioneiros de Guantánamo já haviam dito ter visto ou sofrido maus-tratos na prisão, mas é
a primeira vez que pessoas que
trabalharam lá fazem relatos detalhados dos procedimentos de interrogatório.
Um oficial de inteligência afirmou que os interrogatórios mais
intensos eram focados num grupo de detidos chamado de "Os 30
Sujos" -os quais os EUA acreditavam ser as melhores fontes de
informação.
Em agosto, relatório do Departamento de Defesa dos EUA concluiu que técnicas duras de interrogatório autorizadas pelo governo eram raramente usadas.
David Sheffer, ex-funcionário
de direitos humanos do Departamento de Estado durante o governo Bill Clinton, disse que a prática
de algemar prisioneiros ao chão
praticamente nus e submetê-los a
música alta e luzes fortes constitui
claramente tortura.
"Acho que não há nenhum
questionamento de que tratamento dessa categoria atende ao
requisito de dor e sofrimento severos, seja físico ou mental, descrito na Convenção Contra a Tortura", disse Sheffer.
O Pentágono não quis comentar as afirmações. Em comunicado assinado pelo comandante Alvin Plexico, o Departamento de
Defesa afirma que o Exército está
fazendo uma "operação de detenção segura, humana e profissional
em Guantánamo, a qual está provendo informações valiosas à
guerra contra o terrorismo".
Recompensa
Os relatos mostram ainda a
existência de um sistema de punição e recompensa na prisão, com
presos sendo favorecidos por sua
cooperação com interrogadores.
Uma das recompensas era aumentar a permanência numa sala
apelidada de "tenda do amor",
em que detentos têm acesso a vídeos e revistas pornô e a tabaco.
Outros prisioneiros podiam receber milkshakes e hambúrgueres do McDonald's na base.
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