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AMÉRICA DO SUL
Provável vitória, já no 1º turno, do oposicionista Tabaré Vázquez encerraria ciclo conservador de 174 anos
Esquerda se aproxima do poder no Uruguai
CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES
As próximas eleições do Uruguai, que acontecem daqui a duas
semanas, deverão marcar o fim
do revezamento no poder entre os
conservadores partidos Colorado
e Nacional, também conhecido
como Blanco, que vem ocorrendo
desde 1830, quando a República
Oriental do Uruguai tornou-se
um país independente.
Todas as pesquisas têm apontado a vitória, com chances de
acontecer já no primeiro turno,
do candidato da coalizão de esquerda Frente Ampla, Tabaré
Vázquez, para quem as intenções
de voto têm oscilado entre 45% e
51% dos votos.
Além de escolher o sucessor do
presidente Jorge Batlle, do Partido
Colorado, as eleições do próximo
dia 31 vão renovar a Câmara de
Deputado e o Senado. Mas as
atenções estão totalmente voltadas para a sucessão presidencial,
considerada histórica por especialistas não só pela ruptura de
um ciclo político marcado pelo
bipartidarismo, mas pela iminência da inauguração da esquerda
no poder.
"Essa eleição deve romper a
idéia de uma única coalizão possível, entre Blancos e Colorados. A
Frente Ampla deverá se aliar ao
setor renovador do Partido Nacional e não será um governo de
esquerda radical. Assim como o
Partido dos Trabalhadores no
Brasil, a Frente Ampla tem um
discurso moderado atualmente",
disse o cientista político e historiador Gerardo Caetano, da Universidade de la República.
Suíça da América Latina
Para Caetano, a mudança na opção dos eleitores está relacionada
à queda nos índices sociais em um
país outrora considerado a Suíça
da América Latina, por causa da
homogeneidade da sociedade, da
alta qualidade de vida e da educação pública de qualidade.
A população do Uruguai é pequena: são apenas 3,3 milhões de
pessoas. Um terço dos uruguaios,
ou seja, 1,1 milhão, são pobres -e
destes, 100 mil são indigentes. "É
um contra-senso absoluto em um
país que pode produzir alimentos
para 30 milhões de pessoas", disse
Caetano.
A pobreza está afugentando os
uruguaios. Calcula-se que existam 500 mil uruguaios vivendo no
exterior. De acordo com a Universidade de La República, nos últimos quatro anos, 100 mil uruguaios deixaram o país. O período
coincide com as seguidas crises
dos últimos anos. Em 1999, a economia do país, altamente dependente das exportações para o Brasil (35% do total na época) sofreu
um forte golpe com a desvalorização do real.
Em 2001, a crise na Argentina,
país de quem depende em grande
parte o sistema financeiro do
Uruguai, aprofundou ainda mais
a recessão no país. O Produto Interno Bruto do país (conjunto das
riquezas produzidas em um ano)
caiu pela metade em cinco anos.
Era de US$ 22 bilhões em 1998 e
despencou para US$ 11 bilhões no
ano passado.
"O candidato do Partido Nacional, Jorge Larrañaga, também tem
um discurso de centro-esquerda,
e por isso está em segundo lugar,
com cerca de 28% das intenções
de voto, mas o partido está muito
desgastado. O mesmo acontece
com o candidato do governo,
Guillermo Sitiriling, do Partido
Colorado", disse Caetano.
O Uruguai tem uma forte tradição democrática. Há eleições diretas para presidente desde 1918 e
o país foi o primeiro da América
Latina a permitir o voto feminino,
em 1938. Outra tradição do país
são os plebiscitos e referendos.
Foram 16 desde o início do século
passado.
"No Uruguai há consultas públicas para mudar as leis. Mas há
uma falha na tradição democrática, atualmente não há uma lei de
partidos políticos", disse Alfonso
Mario Cataldi, auditor-chefe da
Corte Eleitoral. A falta de regras
claras para a instituição de um
partido é um dos fatores que levaram o país a ter apenas dois partidos fortes durante tanto tempo. A
Frente Ampla surgiu em 1971,
após conseguir reunir várias pequenas agremiações de esquerda.
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