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MÍDIA
Recente ascensão de emissora de Rupert Murdoch reflete guinada política dos EUA como resultado das eleições legislativas
CNN perde liderança para conservadora Fox
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
É difícil dizer o que veio antes, se
o ovo da informação ou a galinha
do telespectador, mas o fato é que
a guinada conservadora dada pelos Estados Unidos nas eleições
gerais do último dia 5 já tem seus
reflexos na mídia local, que podem ser comprovados pela recente ascensão da emissora de notícias Fox News.
Em pouco mais de um ano, pelo
menos desde 11 de setembro de
2001, a empresa de propriedade
do empresário australiano Rupert
Murdoch bateu em todos os aspectos a pioneira e até então líder
CNN, fundada pelo liberal Ted
Turner em Atlanta, no começo
dos anos 80, e atualmente de propriedade do conglomerado AOL-Time Warner.
Hoje, a Fox já é a maior emissora em número de telespectadores
em geral, no horário nobre e em
faturamento publicitário (US$
269,6 milhões em 2001, contra
US$ 260,5 milhões da rede concorrente).
A consagração veio nos últimos
dias. No último dia 4, véspera das
eleições para o Congresso e o governo de alguns Estados, o programa de entrevistas de Larry
King na CNN, o líder de audiência
do gênero no horário desde sua
estréia, há 16 anos, perdeu pela
primeira vez para um concorrente, "Hannity & Colmes", um "talk
show" transportado do rádio pela
Fox News.
Não que "Larry King Live" prime por sua contundência jornalística -pelo contrário, o nova-iorquino eternamente de suspensórios e dono de uma cabeça
enorme é conhecido por seu estilo
"levanta-a-bola".
Mas o atual campeão, ancorado
por Sean Hannity e Alan Colmes,
é quase um porta-voz oficial do
Partido Republicano e da administração do presidente George
W. Bush, os grandes vencedores
da disputa eleitoral.
Além disso, ao longo da cobertura das eleições gerais, entre 20h
e 3h, horário considerado nobre
em dia de voto, a lavada foi ainda
maior
A Fox News conseguiu uma média de 2,2 milhões de telespectadores, ou 16% a mais do que o 1,9
milhão alcançado durante o mesmo período nas polêmicas eleições presidenciais de 2000, na
qual a disputa acirrada em diversos Estados mobilizou a audiência
americana.
Enquanto isso, a CNN chegava
em segundo lugar, com 1,9 milhão
de telespectadores, despencando
incríveis 66% em relação ao dia 5
de novembro de 2000, quando arrastou para a frente da TV cerca
de 5,6 milhões de pessoas. Os números são do Instituto Nielsen e
tiveram sua metodologia contestada pela emissora de notícias de
Atlanta.
"Diversão"
Há quem atribua a virada da
Fox News ao estilo de seu diretor-executivo, o norte-americano Roger Ailes, 62, no comando da
emissora desde sua fundação, em
1996.
Filho de um operário de Ohio e
ex-assessor dos presidentes republicanos Richard Nixon (1969-74), Ronald Reagan (1981-89) e
George Bush pai (1989-93), o jornalista não tem papas na língua.
A começar da maneira como se
refere publicamente à concorrente: "Crisis News Network".
Alies, que extinguiu o cargo de
vice-presidente de marketing, é
responsável ele mesmo pela publicidade institucional da Fox
News. Foi idéia dele, por exemplo,
comprar os direitos do outdoor
em frente à sede da CNN em
Atlanta, que desde então trazem
anúncios da concorrente.
É idéia dele também o caminhão com o slogan da Fox News
("Nós reportamos. Você decide"),
que pode ser visto de vez em
quando passando ao fundo do estúdio da CNN no centro de Nova
York, que conta com uma parede
de vidro atrás dos âncoras mostrando o movimento da rua. "É
tudo diversão", disse Ailes.
Crítica
Nem todo mundo está rindo. "O
slogan verdadeiro deveria ser
"Nós reportamos. Nós decidimos'", criticou a revista especializada "Advertising Age".
Com a publicação concorda
Emily Whitfield, da ONG liberal
ACLU (União Americana das Liberdades Civis, na sigla em inglês), para quem o jornalismo na
Fox News é tratado como um "esporte sanguinário".
A briga está só começando, e o
telespectador do Brasil já pode
acompanhá-la de perto: desde o
mês passado, a Fox News passou a
ser exibida na TV paga brasileira,
como já acontecia com a CNN.
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