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ARGENTINA
Investigação sobre o atentado que matou 85 em centro judeu progride em ritmo lento, após sumiço de provas e descaso
Ataque à Amia faz dez anos sem condenação
CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES
Um julgamento marcado para
daqui a um mês e um juiz destituído por ter comprado uma confissão por US$ 400 mil em uma
operação nebulosa são o resultado, até agora, das investigações do
ataque terrorista à sede da Amia,
centro comunitário judeu no
Centro de Buenos Aires. O maior
atentado da história da América
Latina faz dez anos hoje, e até agora ninguém foi condenado.
Na memória dos argentinos,
ainda é forte a lembrança da manhã do dia 18 de julho de 1994,
quando uma caminhonete conduzida por um suicida explodiu o
prédio da Amia, deixando 85
mortos e 300 feridos. Mas o tempo e o descaso das instituições argentinas apagaram provas e pistas, tornando pequenas as chances de identificar os responsáveis.
O presidente da Daia (Representação Política da Comunidade
Judaica na Argentina), Jorge Kirszenbaum, é pouco otimista em relação à evolução da investigação.
"Passaram-se muitos anos, pouquíssimo progresso foi feito e não
houve nenhuma vontade do governo, da polícia e da Justiça em
avançar."
De concreto, há apenas o julgamento oral público, marcado para daqui a um mês, no processo
que investiga a chamada conexão
nacional, ou seja, a inteligência local que organizou o atentado.
O atual promotor público encarregado do caso, Alberto Nisman, pediu prisão perpétua (a pena máxima na Argentina) para o
revendedor de carros roubados
Carlos Telleldín (o "Anão") e quatro policiais liderados pelo ex-chefe de polícia Juan José Ribelli.
Telleldín foi o último proprietário da caminhonete Traffic que
pôs a Amia pelos ares. O processo
o aponta como a pessoa que entregou o veículo, encomendado
pelos policiais.
Juan Jose Galeano, o juiz afastado que até 2003 era responsável
pelo processo, arrancou de Telleldín a confissão de que entregou o
carros aos policiais. Mas, para isso, pagou US$ 400 mil dos cofres
públicos. Agora é alvo de um processo que investiga se ele ficou
com parte do dinheiro.
"Por ter sido comprada, essa
prova foi anulada, e a confissão de
Telleldín não vale nada. Temos
outras provas, como testemunhas, que viram Telleldín na casa
dos policiais", diz Nisman.
A Side, serviço secreto da polícia
argentina, também contribuiu
para bagunçar as investigações:
sumiram 66 fitas cassete onde estavam gravadas conversas telefônicas de Telleldín, além de sua
agenda eletrônica, disquetes e rolos de filmes fotográficos.
Na semana passada, outra porta
foi fechada. A Justiça argentina
encerrou o processo que investigava o suposto pedido de pagamento de US$ 10 milhões feito pelo ex-presidente Carlos Menem
(1989-99) para não acusar o Irã da
autoria do ataque. O pedido de investigação havia sido feito pelo
juiz Galeano com base nas declarações do ex-espião iraniano
Abolghassem Mesbahi, conhecido como "Testemunha C".
Segundo Nisman, pouco esforço foi feito por Menem para investigar o caso. O ex-presidente
levou dois anos para criar uma
equipe especializada, a Unidade
Antiterrorista, e, quando o fez, a
polícia secreta já havia perdido
provas valiosas.
Conexão internacional
Nisman aposta agora nas investigações da conexão internacional
que, acredita, podem levar aos
mentores do atentado no exterior.
Não há provas nem muitas pistas, mas as investigações apontam
o regime iraniano como principal
responsável pelo atentado.
O Irã nega ter envolvimento e,
desde o atentado, esvaziou sua representação na Argentina, mantendo, segundo Nisman, só um
pequeno escritório. "Não há colaboração. Não respondem às nossas consultas", diz o promotor.
O informe do atual juiz do caso,
Rodolfo Caniboca Corral, acusa o
grupo extremista Hizbollah, que
os EUA classificam de terrorista,
pelo atentado. "Na época, havia
muitas células do Hizbollah na
Tríplice Fronteira [com Brasil e
Paraguai]", diz o promotor.
Brasileiro
Testemunha-chave do processo, o brasileiro Wilson dos Santos
desapareceu no fim de 2003 depois de ficar três anos preso em
Buenos Aires por falso testemunho. Duas semanas antes do atentado, ele fora à Embaixada de Israel em Milão e falara de uma iminente explosão em Buenos Aires.
Indiciado, Santos disse que inventara a história. "O juiz Galeano
o indiciou por falso testemunho,
não por envolvimento. Ele cumpriu pena e acabou. Não deveria
ter sido julgado simplesmente por
falso testemunho. Há erros na
condução do processo que tornam difícil não acreditar em má
vontade", afirma Kirszenbaum.
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