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RELIGIÃO
Na Polônia, João Paulo 2º consagra novo santuário perto de Cracóvia, cidade onde viveu na 2ª Guerra Mundial
Papa vê humanidade atordoada pelo mal
France Presse
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Um polonês em Cracóvia aguarda na janela de sua casa a passagem do papa João Paulo 2ª a caminho da igreja de Lagiewniki |
PAULO DANIEL
ENVIADO ESPECIAL A CRACÓVIA
Auxiliado por 12 bispos, o papa
João Paulo 2º, 82, consagrou ontem o ultramoderno santuário da
Divina Misericórdia, em Lagiewniki (subúrbio de Cracóvia), e escolheu como tema da homilia a
misericórdia e o perdão.
Na cidade onde passou 40 anos
de sua vida e onde foi obrigado a
trabalhar para os nazistas durante
a Segunda Guerra (1939-1945),
antes de se refugiar no palácio arcebispal (que o hospeda agora)
para prosseguir seus estudos
clandestinamente, o líder católico
disse que "a humanidade está vivendo o atordoamento diante de
muitas manifestações do mal".
"Em todos os continentes, do
fundo do sofrimento humano,
brada um grito por misericórdia",
afirmou Karol Josef Wojtyla, na
nona e mais breve viagem a sua
terra natal.
O papa não citou nenhum lugar
específico, mas ele vem demonstrando preocupação especial com
a onda de violência entre palestinos e israelenses no Oriente Médio e com as consequências dos
atentados de 11 de setembro.
Com as mãos tremendo muito,
por vezes segurando o documento que lia e por vezes apoiando a
cabeça, e com uma expressão fragilizada, o papa exortou o cerca de
1 bilhão de católicos a "proclamar
a misericórdia de Deus, pois não
há outra fonte de esperança para a
humanidade".
"Onde o ódio e a sede de vingança dominarem, onde a guerra
trouxer sofrimento e morte aos
inocentes, a graça da misericórdia
é necessária para acalmar as mentes e os corações humanos e promover a paz", afirmou.
O papa sofre de mal de Parkinson (desordem do sistema nervoso) e ainda sente as consequências
de uma tentativa de assassinato
no início da década de 80 que o
deixou gravemente ferido.
"Pelas poucas frases que trocamos, o papa parece tão forte intelectualmente quanto sempre, mas
obviamente todos os anos e o sofrimento físico prejudicaram sua
saúde", afirmou ontem o ex-presidente Lech Walesa (1990-1995).
Durante a celebração da eucaristia, ontem, quase não conseguiu erguer a taça com o vinho
(para os católicos, o sangue de
Cristo), apesar de um assessor
procurar lhe dar firmeza segurando seu braço. Depois, um religioso passou a segurar a taça.
"Mais que nunca, o mundo precisa hoje da misericórdia de
Deus", declarou o papa durante a
cerimônia religiosa de consagração do santuário em Lagiewniki,
construído por iniciativa dele. A
nova basílica de concreto, com o
formato de um barco partindo as
ondas, é dedicada à santa visionária Faustina Kowalska , na região
onde morreu de tuberculose em
1938, aos 33 anos.
Em 2000, Kowalska se tornou a
primeira santa polonesa. Durante
sua vida e após sua morte, a igreja
adotou uma atitude de ceticismo
em relação às experiências místicas que descrevia.
A Santa Sé chegou a proibir a divulgação do único registro das supostas experiências místicas, seu
diário. Logo após ser eleito o papa, João Paulo suspendeu a proibição. Ontem, citou trechos do
diário e pediu que a imagem de
Cristo no altar fosse a retratada
por ela durante as visões, com a
frase "Jesu, ufam Tobie" (Jesus,
confio em você). Havia ainda um
globo com a América do Sul voltada para a frente, em destaque.
Transformações
"A intenção foi mostrar que a
misericórdia e a fé devem ser a
única resposta possível para o desespero", diz o teólogo polonês
Jan Drabina. "No caso da Polônia,
o papa tem consciência das dificuldades por que passa o país
mais de dez anos após a queda do
comunismo." Anteontem,
Wojtyla declarou ter consciência
de como sua terra natal mudou
desde 1979, quando a visitou pela
primeira vez como papa.
O papa costumava rezar no local onde celebrou a missa de ontem a caminho de uma fábrica comandada pelos nazistas. A fábrica
Solvay hoje abriga um moderno
complexo de cinemas.
"Neste mundo de hostilidade e
indiferença, o santo padre nos faz
compreender a necessidade de
entendermos o valor do perdão",
disse, na saída da missa, o professor italiano Francesco Chiari, que
estava entre os mais de 8.000 participantes fora da basílica. "Só lamento que ele não seja tão clemente com os que discordam de
seus ensinamentos morais conservadores."
Hoje o papa reza uma missa
campal para a qual se esperam
cerca de 2,5 milhões de pessoas.
Amanhã, ele vai para Roma, segundo o cronograma oficial.
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