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RELIGIÃO
Segundo pesquisa, 73% dos poloneses consideram Karol Wojtyla a personalidade mais importante do século 20
Polônia trata João Paulo 2º como santo
DO ENVIADO ESPECIAL
Os poloneses estão recebendo o
papa não apenas como João Paulo
2º, líder da Igreja Católica, mas
também como Karol Josef Wojtyla, nascido em Wadowice (sul) e
considerado por muitos o maior
ídolo vivo do país.
A maioria dos poloneses (73%)
considera o papa como a personalidade mais importante do século 20, segundo o Centro de Pesquisas Públicas da Polônia.
Dos 2.000 entrevistados, 23%
disseram que a pessoa que mais
marcou o século 20 foi Lech Walesa, fundador do sindicato Solidariedade e primeiro presidente da
Polônia (1990-1995) após a queda
do comunismo, em 1989. Apesar
do segundo lugar, Walesa perdeu
as eleições de 1995 e de 2000 para
Aleksander Kwasniewski, o atual
presidente.
Ainda de acordo com a pesquisa, 4% dos poloneses admiram
sobretudo Czeslaw Milosz, 91,
poeta, romancista e ensaísta que
venceu o Prêmio Nobel de Literatura em 1980.
Muitos poloneses acreditam
que a eleição de Wojtyla na Santa
Sé e suas viagens pastorais tenham aberto caminho para a mudança de regimes na Europa. Desde a queda do regime comunista
na Polônia, em 1989, hospitais, orfanatos e diversas outras instituições foram "rebatizadas". Mais de
200 escolas públicas levam o nome de João Paulo 2º atualmente. E
o nome do aeroporto que acolheu
o papa anteontem em Cracóvia
também simboliza a afeição que
os poloneses têm por ele.
Em Varsóvia (capital), Gdansk
(norte) ou Cracóvia (sul), vêem-se praças e ruas denominadas
João Paulo 2º.
A oração que o papa fez na primeira peregrinação a sua terra natal, em 1979, em que pedia que os
poloneses "fortalecessem o espírito e renovassem a natureza desta
terra", inspirou uma geração inteira contra o comunismo. Apesar
disso, muitos de seus atuais admiradores ainda não haviam nascido quando ele pronunciou aquelas palavras.
"Sua autoridade moral nos inspira e fortalece", diz o estudante
Josef Spalek, 18. Apesar de discordar de alguns ensinamentos do
papa -Spalek é a favor do uso do
preservativo e do sexo antes do
casamento-, ele diz que "a espiritualidade que nosso papa transmite é o que mantém muitos jovens longe de problemas".
Muitas famílias têm um retrato
dele ao lado das imagens de santos -comuns em casas polonesas. Sua foto também enfeita salões de beleza, supermercados e
restaurantes. Em um país com
95% da população católica, segundo o Departamento Polonês
de Estatísticas, o papa é aclamado
como um santo.
E ele não agrada apenas aos católicos. Mesmo em algumas casas
de judeus e muçulmanos foram
pendurados retratos seus.
"Com o país em crise econômica [o índice de desemprego é de
18%] e dúvidas sobre a adesão à
União Européia, não faltam poloneses que vêem no papa a única
esperança de um futuro promissor", analisa o teólogo polonês Kihas Zdzislaw, professor na Universidade Jagiellonika, que teve
entre seus alunos Wojtyla e o astrônomo polonês Nicolau Copérnico (1473-1543) -que, em seu livro "De Revolutionibus", derrubou a visão geocêntrica do mundo, defendida pela igreja, e provou que a concepção de que a Terra ocupava o centro do universo
era falsa.
O principal diário da Polônia,
"Gazeta Wyborcza", vendeu, no
Natal passado, mais de 1,6 milhão
de cópias de um CD com uma
canção entoada pelo papa. Jornais
e revistas locais, com páginas ou
encartes especiais dedicados ao líder católico, aumentaram em cerca de 70% sua tiragem nos últimos dias.
À missa que o papa vai celebrar
hoje, no parque Blonia, devem
comparecer cerca de 2,5 milhões
de pessoas, segundo os organizadores. Por volta de 2,3 milhões de
ingressos já foram distribuídos.
(PAULO DANIEL FARAH)
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