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REINO UNIDO
Experimento de seis meses em Brixton (zona sul) ganha elogios da polícia; moradores criticam afluência de viciados
Teste de liberação da maconha divide bairro de Londres
SARAH LYALL
DO "THE NEW YORK TIMES"
No decadente conjunto habitacional de Stockwell, em Londres,
os usuários de maconha estavam
reclamando dos usuários de heroína. "Logo ali em frente, vi um
sujeito injetando uma garota no
pescoço", disse James Haind, sua
indignação envolta numa nuvem
de fumaça de cheiro doce.
Quando falei com ele, dias antes, no parque de skate do conjunto habitacional, James estava com
seus amigos, cada um com seu
skate e seu baseado, e ofereceu seu
próprio exemplo como prova viva de que a maconha não conduz
obrigatoriamente à dependência
de drogas mais pesadas. "Uma
pessoa sensata e estável não procura a heroína", afirmou Haind,
pintor de placas desempregado
que estima já ter a metade da vida
chapado. "Quem faz isso são as
pessoas mais burras."
É exatamente essa a mensagem
que o governo britânico parece
ter enviado a Brixton, na zona sul
de Londres, onde acaba de chegar
ao fim uma experiência de seis
meses com o afrouxamento das
leis nacionais contra as drogas.
O programa agradou aos fumantes de maconha de Brixton e
até mesmo à polícia. Mas deixou
em muitos moradores a sensação
de que seu bairro virou uma feira
livre de drogas, com adolescentes
fumando abertamente nas ruas e
vendedores montando barracas
ao lado das barracas de frutas na
feira local, atraindo os pedestres
com gritos de "skunk, skunk".
"As pessoas começaram a fumar abertamente, antes o faziam
em locais mais ou menos escondidos", diz o reverendo Chris Andre-Watson, pastor da igreja batista de Brixton, que lidera um
programa de incentivo ao estudo
para rapazes adolescentes e diz
que a liberação da droga deixou
muitos jovens "como zumbis".
Afrouxando as penas
Em parte como resultado da experiência conduzida em Brixton,
o governo recentemente anunciou planos de reduzir as penalidades criminais impostas a quem
fuma maconha, num país onde
estimados 5 milhões de pessoas
são usuárias habituais da droga.
Embora o plano represente o reconhecimento de que drogas como heroína e cocaína são muito
mais prejudiciais do que a maconha, as opiniões divididas aqui
em Brixton levantam questões relativas ao afrouxamento das leis
referentes à maconha.
Dentro do prazo da experiência,
pessoas flagradas fumando maconha em Lambeth Borough, área
que abrange Brixton, recebiam
apenas um aviso, em lugar de serem detidas. Com isso, a polícia
passou a ficar livre para perseguir
criminosos mais sérios. A polícia
afirma que a política levou a uma
queda global na criminalidade e
lhe poupou muito tempo.
Haind e seus colegas fumantes
adoraram a novidade. "Para mim
e para meus amigos, a notícia é
ótima: não precisamos temer sermos incomodados quando quisermos fumar", disse David Reading, 21, candidato a produtor de
discos que acaba de concluir o ensino de segundo grau.
Outros moradores, porém, se
revoltam ao ver como a maconha
passou a ser consumida e vendida
abertamente. Ros Griffiths, diretora do Employment Café, um
centro de procura de empregos e
café conectado à internet, disse
não ter certeza sobre o que a ofendeu mais: quando um vendedor
de maconha pegou um alto-falante numa feira livre semanal da região e gritou "venham comprar
sua erva aqui!", ou quando um
adolescente entrou por sua porta
e lhe pediu conselhos sobre como
montar um café que vende maconha. "Quando terminei de falar
com ele, o garoto já tinha desistido da idéia", ela recorda, sombria.
Griffiths disse que não gosta de
como a droga transformou Brixton, região que há anos centraliza
a população negra de Londres e
hoje é uma comunidade multirracial cada vez mais dinâmica, mas
que virou ímã para usuários de
drogas. "De repente as pessoas
começaram a pensar "legal, vamos
a Brixton para queimar um fuminho!" ", explicou.
O reverendo Andre-Watson
contou que estava esperando um
ônibus no ponto, há poucos dias,
quando dois adolescentes acenderam um baseado na frente de
uma senhora de idade. "Vocês sabiam que isso ainda é ilegal?", perguntou o pastor. "E eles responderam: "Todo mundo está fumando e ninguém está fazendo nada"." Ele e outros moradores da
área reclamaram tanto do aumento da venda de drogas nas
ruas que, depois de diversos artigos de teor negativo nos jornais, a
polícia finalmente enviou homens para limpar as ruas.
Mas ninguém sabe quanto tempo vai durar a presença policial
reforçada. A previsão dos habitantes de Brixton é que, quando
Londres toda afrouxar sua política referente à maconha, por causa
da nova lei, os vendedores de drogas ao ar livre vão voltar a atuar na
estação de metrô e nas ruas que
cercam Coldharbor Lane, epicentro de tumultos raciais em 1981.
Venda indiscriminada
Até a semana passada, ainda havia dezenas de oportunidades para comprar maconha numa rua
de Brixton repleta de lojas e famílias. Poucas pessoas no local se
iludem, imaginando que a maconha seja o único produto oferecido. "Não há algumas pessoas vendendo maconha, de um lado da
rua, e outras oferecendo crack e
cocaína, do outro lado", disse
Griffiths. "É tudo na mesma pessoa."
Para tentar resolver esse problema, a nova lei das drogas, cuja
aprovação pelo Parlamento de
maioria trabalhista é certa na próxima sessão legislativa, prevê penalidades intensificadas para o
tráfico de drogas, especialmente o
de drogas pesadas.
Isso não chega a afetar a vida
dos garotos que fazem manobras
radicais em seus skates e bikes
BMX no parque. A maioria diz
que cultiva sua própria maconha
em casa, de qualquer maneira.
"Para nós, ela nem é droga", disse Reading, dando uma tragada
num cigarro grosso repleto de
skunk, uma maconha "temperada". Explicando que a droga o
ajuda a ser melhor no skate, ele
afirma: "Ainda tenho meu equilíbrio. Se bem que, às vezes, os dias
vão passando, passando e, quando você vê, já se passou uma semana e você não fez nada do que
deveria ter feito, tipo encontrar
um trabalho".
A professora de creche Ashley
Finnegan, 30, vive no conjunto
habitacional de Stockwell. Ela diz
que prefere de longe os garotos
chapados do parque de skate aos
alcoólatras e viciados que moram
em seu prédio.
Ela cultiva maconha em sua casa e fuma um ou dois baseados
por noite -mas, declara, nunca
na frente de seu filho, de quatro
anos. "É muito mais provável um
alcoólatra da região ser violento
ou pedir esmolas na rua", disse.
"Se a maconha tem algum efeito
real, é o de deixar as pessoas mais
tranquilas."
Haind, o pintor de placas, concorda. "Se não vivêssemos todos
chapados, haveria tumultos em
grande escala aqui."
Tradução de Clara Allain
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