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Rapidez de ataque mostra ressurgência militar russa
Para analistas, crise derruba tese de mundo unipolar
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
A história não só não terminou, como voltou com sede de
vingança. O conflito no Cáucaso deixou claro que a Rússia
voltou a ser uma potência militar de primeira grandeza, depois de anos de decadência de
suas Forças Armadas.
Não se trata de um retorno
da Guerra Fria entre os blocos
capitalista e comunista. Mas,
sim, de uma volta à política de
balanço de poder típica, por
exemplo, da Europa do século
18. Vladimir Putin lembra mais
a czarina Catarina, a Grande,
do que o ditador Josef Stálin.
De repente, contar tanques,
mísseis e aviões voltou a ser
prioridade para os analistas
geopolíticos. E renegociações
de tratados militares voltarão a
ser prioridade diplomática
-nos próximos anos, devem
expirar tratados russo-americanos de armas nucleares.
"Como tão freqüentemente
na história, um canto improvável e quase desconhecido do
mundo se tornou o ringue para
um teste de força entre grandes
potências", diz o historiador
militar britânico Max Hastings.
Ele lembra que "quando a
União Soviética entrou em colapso, disseram-nos que no futuro viveríamos em mundo
"unipolar", com os EUA como
única superpotência". Um dos
que disseram isso foi o ensaísta
Francis Fukuyama, um "guru
americano então na moda", diz.
Em 1992, com a URSS esfacelada, Fukuyama escreveu "O
Fim da História e o Último Homem", no qual argumenta que
com o fim do conflito ideológico da Guerra Fria, os valores da
democracia liberal ocidental tinham triunfado. Para Hastings,
essa é uma tese "idiota".
Os russos deram a volta por
cima. Não só a economia ficou
mais pujante com a exportação
de combustíveis fósseis, como
as Forças Armadas foram lentamente revitalizadas.
Obviamente, o minúsculo
Exército da Geórgia não é um
páreo duro para os russos, mas
a rapidez no ataque mostra um
grau de eficiência até agora não
visível. E a facilidade com que
os dois lados usaram armas nada "cirúrgicas", como lança-foguetes BM-21, capazes de destruir grandes áreas, mostra um
desprezo pela população civil.
Em 1985, na etapa final, mas
ainda no auge da Guerra Fria, a
então União Soviética tinha 5,3
milhões de homens nas Forças
Armadas, contra 2,1 milhões de
militares americanos, segundo
o Instituto Internacional de
Estudos Estratégicos. Em
2000, esse número tinha caído
para 1,5 milhão na Rússia e 1,3
milhão para os EUA.
A queda não foi só em quantidade. O enorme arsenal acumulado em décadas foi sendo
sucateado por falta de verba para manutenção, e as indústrias
bélicas não recebiam pedidos
de equipamentos novos, o que
se refletiu diretamente na capacidade de modernização.
O complexo militar-industrial russo se manteve à tona
graças a exportações. Os principais clientes são a China e a Índia, mas as mais recentes vendas para a Venezuela de fuzis,
aviões e helicópteros contribuíram para a sustentação da
indústria bélica.
A Marinha russa também
realizou neste ano exercícios
em larga escala no Atlântico,
incluindo o lançamento de mísseis de cruzeiro com capacidade nuclear, algo que não ocorria
há 15 anos.
"As autoridades russas acreditam que os EUA passaram o
zênite como uma potência global e que uma nova ordem
mundial multipolar precisa ser
construída. A preocupação de
Washington com o Iraque, o
Afeganistão e o terrorismo jihadista provê uma oportunidade valiosa para uma Rússia renascente estender suas influências em regiões chave adjacentes ao seu território", diz o
analista Janusz Bugajski.
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