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INTOLERÂNCIA NOS EUA
Islâmico continua o "suspeito de sempre"
Washington tenta melhorar relação com a comunidade, mas casos de discriminação se multiplicam
SUSAN SACHS
DO "THE NEW YORK TIMES"
O governo americano procurou promover uma aproximação com os muçulmanos do
país, mas os acontecimentos de
11 de setembro continuam a abalar decisivamente a vida dessa
comunidade.
Agências de direitos civis têm
sido inundadas de reclamações
sobre empregadores que discriminam abertamente os islâmicos desde os atentados, classificando-os de terroristas.
Em alguns casos, demitem
funcionários muçulmanos exclusivamente em razão de suas
origens religiosas ou nacionais.
Muitos dizem se sentir vítimas
de uma silenciosa mas persistente discriminação nas atividades
sociais cotidianas. Um conhecido outrora amigável agora não
mais cumprimenta. Uma crianças é provocada seguidamente
por seu nome árabe. Um freguês
telefona para a polícia sugerindo
que um comerciante de aparência estrangeira seria terrorista.
"Será que, sendo muçulmanos, estaremos sempre sob suspeita?", indaga Mansoor Khan,
médico nascido no Paquistão
que dirige o Help & Hope (ajuda
e esperança), grupo de apoio a
imigrantes muçulmanos de Nova York. "Será que sempre teremos de temer que alguém venha
bater em nossas portas?"
Pesquisa nacional do instituto
Zogby em março de 2000 apontou que 35% dos muçulmanos
americanos diziam já ter sido
discriminados por sua religião.
À época, 39% dos árabes americanos afirmavam sofrer preconceito por sua origem étnica.
Esses números dispararam depois do 11 de setembro: em sondagem semelhante em novembro de 2001, 57% dos muçulmanos do país responderam acreditar que os americanos possuem opinião desfavorável sobre muçulmanos e árabes.
"Sentimos agora uma sensação de insegurança, uma sensação que não posso descrever em
palavras", disse Zaheer Sharaf,
dono de mercearia que chegou
do Paquistão há seis anos.
Seu desconforto aumentou há
quatro meses, quando parentes
seus paquistaneses que o visitavam decidiram tirar fotos em
frente ao seu estabelecimento.
Alguém que viu a cena chamou a
polícia, relatando a presença de
estrangeiros suspeitos com câmeras fotográficas.
"A polícia veio à loja, e eu expliquei a situação. Eles foram legais, mas me senti muito constrangido. Gostaria de fazer parte
da sociedade aqui, mas coisas
pequenas como essa me fazem
sentir excluído", afirmou Sharaf.
Houve esforços de celebridades e autoridades públicas para
promover a tolerância religiosa.
Apesar de uma onda de ataques
contra entidades islâmicas pouco após o 11 de setembro, não se
chegou ao ponto de uma ampla
explosão de ódio e vingança. Voluntários se dispuseram a proteger mesquitas e a acompanhar
muçulmanas que tinham medo
de sair de casa.
Ao mesmo tempo, sob a bandeira do combate ao terrorismo,
o governo lançou os holofotes
sobre os muçulmanos, abordando-os em suas investigações e
em seus interrogatórios.
Além dos mil homens presos
numa varredura policial inicial,
5.000 jovens muçulmanos no
país com vistos de turista ou estudante foram convocados para
entrevistas pelo FBI.
O Departamento da Justiça
também listou nomes de 5.000
imigrantes muçulmanos que
não deixaram os EUA após receberem ordem de deportação
-embora eles sejam apenas
uma pequena fração do total de
320 mil pessoas de diversas origens que desrespeitaram ordens
semelhantes.
O sinal mais claro da situação
vivida pelos muçulmanos é o aumento nas reclamações às agências de direitos civis. Nos sete
meses posteriores aos atentados,
a Comissão para Oportunidades
Iguais de Trabalho recebeu 427
reclamações sobre discriminação a islâmicos nos locais de trabalho, contra 171 no mesmo período do ano anterior.
Os Estados com maior incidência de casos são Califórnia,
Texas, Illinois e Flórida. Juntos,
somam 150 reclamações.
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