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Após guerra, cisão no Partido Trabalhista desafia Blair
MARIA LUIZA ABBOTT
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE LONDRES
A guerra no Iraque foi rápida, e
o número de vítimas, relativamente baixo. Com essa combinação, o premiê britânico, Tony
Blair, foi o grande vencedor na
disputa política em torno de ir ou
não à guerra que dividira o Reino
Unido. Mas, apesar de toda a euforia, Blair tem uma dura tarefa
pela frente, a de pacificar o seu
próprio partido, o Trabalhista.
Nesta semana, ele confessou
que pensara em deixar o cargo se
tivesse sido derrotado pelo Parlamento em sua decisão de ir à
guerra. Ele ganhou a batalha, em
parte graças aos votos do Partido
Conservador. Entre os trabalhistas, 139 dos 410 parlamentares votaram contra ele, na maior rebelião do seu partido desde que
Blair assumiu o posto, em 1997.
E, agora, ele terá de neutralizar
ou atrair os trabalhistas que mantêm sua oposição a ele.
"Na prática, o Partido Trabalhista está totalmente dividido,
porque cerca da metade dos parlamentares é totalmente contrária
a Blair, não somente em relação à
política externa. Eles se opõem a
reformas do sistema de saúde e
educação e à política de transporte", diz o professor Gwyn Prins,
pesquisador da London School of
Economics e da Universidade Columbia, de Nova York.
Prins considera que o Iraque foi
o catalisador da revolta de parlamentares que discordam das políticas do premiê. As propostas de
Blair incluem parcerias entre os
setores público e privado para
viabilizar o financiamento de
áreas como saúde e transporte e o
aumento das contribuições pagas
às universidades, entre outras iniciativas. Boa parte dos parlamentares trabalhistas tem origens socialistas e se opõe às mudanças.
Para Prins, Blair não é socialista,
mas "naturalmente conservador", por natureza e temperamento. Essa é, segundo ele, uma
característica de todos os que já
ocuparam o cargo de premiê no
país. Na sua avaliação, o Novo
Trabalhismo é um reconhecimento de que o partido nunca ganharia as eleições se não tivesse
um premiê conservador.
"Blair destruiu o Partido Conservador ao roubar as políticas
dos conservadores. E depois, Blair
transferiu essas políticas para o
Partido Trabalhista que, por isso,
está dividido em dois", explica.
Para Prins, todos os que se consideram socialistas dentro do Partido Trabalhista odeiam Blair, e,
quando a questão é George W.
Bush, "tornam-se incompreensíveis na sua fúria".
A decisão sobre o Iraque evidenciou uma situação que, segundo o professor, tem semelhanças
com a que enfrentou Ramsay
MacDonald, o primeiro trabalhista a chegar ao cargo de premiê
britânico.
MacDonald ocupou o posto como um trabalhista entre 1929 e
1931. Naquele ano, o Partido Trabalhista se voltou contra ele, que
optou por formar um governo de
coalizão de liberais e conservadores e ficou como primeiro-ministro até 1935.
"A situação hoje tem similaridades com o que aconteceu com
Ramsay MacDonald, que foi
abandonado por seu partido.
Blair tem agora uma difícil escolha. Ele está triunfante e terá de escolher entre destruir seus opositores ou apaziguá-los", explica.
Blair tem motivos para se sentir
triunfante, tendo em vista a grande virada da opinião pública britânica, que, em fevereiro, era majoritariamente contra a guerra.
Pesquisa feita pelo instituto Populus para o jornal "The Times"
mostra que o apoio ao partido de
Blair subiu sete pontos desde o
início de março, chegando a 41%
dos entrevistados. No mesmo período, a parcela a favor do Partido
Conservador caiu cinco pontos,
chegando a apenas 29%.
Na área externa, Blair também
tem grandes desafios. Até agora,
aparentemente, França e Alemanha perderam espaço por terem
se oposto à guerra e dividido a
União Européia (UE). Mas as diferenças expuseram as dificuldades em criar um modelo de uma
Europa mais federativa, com uma
moeda única e capaz de rivalizar
com os Estados Unidos.
Na avaliação de Prins, fortalecido, Blair poderá ocupar o espaço e
aumentar sua liderança na UE.
Mas, também nessa questão, terá
problemas para reunir a maioria
do seu partido.
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