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ORIENTE MÉDIO
De acordo com relatório americano, país construiu arsenal com ajuda da Rússia
Síria teria armas químicas desde 73
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
A Síria desenvolve desde 1973
um complexo projeto de produção e estocagem de armas químicas. Os gases mostarda, VX e sarin
são sigilosamente processados
nas imediações de Damasco, pelo
Cers (Centro de Estudos e Pesquisas Científicas), e por duas outras
usinas, localizadas nas cidades de
Homs e Saffirah.
Entre 1993 e 1994, o país importou 600 kg de gás nervoso da Rússia, com a intermediação do general Anatoly Kuntsevich, assessor
do então presidente Boris Ieltsin
(1991-2000).
As ligações privilegiadas entre
Moscou e Damasco também permitiram mudanças nos Scud-B e
Scud-C. Esses mísseis, dos quais
existiriam entre 50 e 80 unidades,
têm um alcance de até 300 km e
têm agora ogivas capacitadas a
transportar 985 kg de carga útil.
Essas informações estão no relatório sobre o programa sírio de
armas de destruição em massa
elaborado há dois anos pelo CSIS
(Centro de Estudos Estratégicos e
Internacionais), em Washington.
O coordenador do trabalho,
Anthony H. Cordesman, não
menciona em nenhum momento
a possibilidade de a Síria atacar alvos norte-americanos. O programa teria outros objetivos: ameaçar seus vizinhos mais próximos
ou dissuadir operações contra seu
território e que tenham por origem o Iraque ou Israel.
Síria e Iraque têm altos e baixos
no histórico de suas relações. Na
Guerra do Golfo (1991), Damasco
se alinhou à coalizão liderada pelos EUA para forçar Saddam Hussein a desocupar o Kuait.
Israel é um "inimigo histórico".
Em 1973, durante a terceira das
guerras contra os israelenses, a Síria perdeu num único dia 13 de
seus caças Mig-21. Para compensar essa inferioridade, passou a
desenvolver mísseis terra-terra.
Opção barata
Sem fôlego para desenvolver
um programa nuclear que compensasse as ogivas atômicas que
acusa Israel de possuir, a Síria teria partido então para a opção
mais barata de arsenais químicos
e bacteriológicos.
Não chega a ser propriamente
um segredo. Em 1999, o ministro
sírio da Defesa, general Mustafá
Tlas, publicou um artigo intitulado "Guerra Biológica, um Novo e
Eficaz Método de Guerra".
Detalhe importante: o texto não
foi editado em árabe. Foi traduzido para o persa e publicado por
uma revista militar no Irã. Maneira de dar um recado indireto a israelenses e iraquianos. Com Israel, além do Golã (ocupado em
1967, durante a Guerra dos Seis
Dias), a Síria tem como periódico
contencioso o Líbano, que se tornou oficiosamente seu "protetorado" como forma de pôr fim à
longa guerra civil (1975-1989).
Cordesman não entra em todos
esses detalhes, que no entanto
permitem compreender que hoje
os EUA, ao pressionarem a Síria,
emitem uma advertência cifrada
sobre qualquer ação contra suas
tropas estacionadas no Iraque e
também sobre a integridade de
seus aliados israelenses.
O estudo de Cordesman menciona operações fechadas ou
abortadas para a compra de mísseis SS-21, da Rússia, e M9, da
China, que também forneceu pequenas instalações nucleares, inspecionadas pela ONU desde 1992.
Há, por fim, as armas bacteriológicas, sobre as quais há mais especulações do que certezas. Boa
parte das desconfianças se baseiam em informações de um dirigente sírio não identificado, que
rompeu com o regime local e se
exilou no Ocidente em 1995.
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