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Bush parte agora para ataque na frente doméstica
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Vencida a guerra contra o Iraque, o presidente norte-americano, George W. Bush, está partindo para o ataque no front doméstico. Nos últimos dias, vem procurando constranger o Congresso
a aprovar um pacote de corte de
impostos de US$ 550 bilhões para
reativar a economia.
"Esse dinheiro deve circular.
Vai ajudar a combater o desemprego", vem repetindo o presidente, que enfrenta uma eleição
daqui a 18 meses.
Depois do rápido avanço no Iraque, Bush espera agora correr
contra o tempo no deserto de
boas notícias que se tornou a economia americana.
Um crescimento medíocre, projetado em 2,2%, o aguarda no fim
de 2003. Para o ano eleitoral de
2004, se não quiser engrossar a lista dos 2 milhões de americanos
que perderam o emprego durante
seu mandato, Bush deve percorrer um campo minado por expectativas e realidades ruins.
A favor do presidente republicano há, além de duas guerras
vencidas (Afeganistão e Iraque),
uma enorme desorganização no
campo adversário.
Os democratas têm hoje nove
pré-candidatos ao pleito de novembro de 2004, e, até aqui, nenhum discurso consistente.
A única tentativa nesse sentido
provou-se desastrosa. Tido como
o opositor com melhores chances,
o senador democrata John Kerry
posicionou-se frontalmente contra a guerra e defendeu uma "mudança de regime nos EUA".
Depois de os marines chegarem
a Bagdá, Kerry vive em um país
onde sete em cada dez americanos aprovam o presidente, e nove
em dez, a condução da guerra.
Pesquisa divulgada pelo ""The
Wall Street Journal" revelou que
52% dos americanos votariam
para reeleger Bush. Apenas 24%
escolheriam um candidato do
Partido Democrata.
""Ter nove candidatos equivale a
não tem nenhum. A cabeça dos
democratas ainda é Bill Clinton, e
ele não quer se envolver. É uma situação triste", disse à Folha Robert Pelletreau, ex-secretário-assistente de Estado no primeiro
mandato de Clinton.
Clinton percorreu oito anos na
Presidência flutuando sobre a
chamada "exuberância irracional". Investimentos, novos ricos e
projeções otimistas sobravam até
2000, quando a famosa ""bolha" financeira estourou. Coube ao seu
sucessor pagar a conta.
Desde que assumiu, em 2001,
Bush viu um dos principais ícones
da economia americana, o índice
Dow Jones da Bolsa de Valores de
Nova York, perder cerca de 25%
de seu valor. O indicador representa não só a saúde das empresas. É também a medida da poupança e das aposentadorias dos
americanos.
Há outras armadilhas pela frente. A real possibilidade de uma
queda abrupta nos preços dos
imóveis nos EUA, supervalorizados desde 95, pode respingar no
setor bancário e há o temor de que
"esqueletos" escondidos nos balanços de empresas voltem a assombrar a economia.
O problema crucial, contudo, é
o desemprego, na faixa de 5,8%.
Já se tornou lugar-comum comparar Bush filho a Bush pai, que
ganhou a Guerra do Golfo, em
1991, mas não se reelegeu. A economia ia mal.
Bush pai, no entanto, não apenas entregou o cargo com um
Dow Jones 29% mais gordo, como conseguiu criar 1,3 milhão de
empregos em seu mandato.
"Não é preciso bola de cristal
para descobrir que vamos entrar
em uma onda de gastos", afirma
David Rosenberg, economista da
corretora Merrill Lynch.
Bush vem fazendo o que pode.
Seus gastos militares, por exemplo, vão representar sozinhos
30% do crescimento do PIB dos
EUA neste ano.
Para estimular a economia,
Bush também demonstrou tranquilidade ao propor um corte de
impostos de US$ 726 bilhões em
dez anos para um país que já projeta um déficit na casa dos US$
400 bilhões em 2003.
Nem o Senado, dominado pelos
republicanos, engoliu a extravagância. Para "choque e pavor" de
Bush, os senadores limitaram o
corte em US$ 350 bilhões, implodindo a única e polêmica estratégia de curto prazo do presidente.
Agora, Bush exorta o Congresso
a aprovar, no mínimo, a proposta
de corte de US$ 550 bilhões sugerida pela Câmara.
Economistas estimam que normalmente os EUA têm de crescer
a uma taxa superior a 3% ao ano
para começar a gerar novos postos de trabalho.
Isso pode ocorrer no ano que
vem, mas precisaria começar logo
para que os eleitores sentissem os
efeitos antes de novembro.
Em 2000, Bush venceu a disputa
contra Al Gore por uma margem
apertada. Teve 53% dos votos válidos. Agora, sem muitos instrumentos para se cacifar na economia, é de se esperar um reforço
substancial na retórica.
Com um apelo extraordinário
entre a opinião pública, o mantra
da "necessidade de segurança interna e do combate ao terrorismo
sem fronteiras" deve soar mais do
nunca nos meses que ainda estão
pela frente.
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