|
Próximo Texto | Índice
Crise de Uribe faz de Betancourt prioridade
Família de candidata seqüestrada há cinco anos acusa presidente colombiano de só agir após escândalo paramilitar e mal-estar com EUA
Presidente francês levou campanha por refém ao G8; Farc se recusam a libertá-la se não houver área sem militares para negociar
RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL
A família de Ingrid Betancourt acredita que a libertação
da ex-candidata presidencial
colombiana só chegou ao topo
da agenda do presidente Álvaro
Uribe graças à crise que ele enfrenta nas últimas semanas.
"Uribe não fez quase nada
durante os cinco anos em que
ela tem sido refém da guerrilha", disse sua irmã, a advogada
Astrid Betancourt, à Folha.
"Agora que ele está em baixa
nos Estados Unidos e sofre
com escândalos internos, começou a falar de acordo humanitário", diz.
Betancourt, 45, foi seqüestrada pelas Forças Armadas
Revolucionárias Colombianas
(Farc) em 23 de fevereiro de
2002, quando fazia campanha
na selva colombiana. Sua última comunicação com a família
foi por um vídeo, distribuído
pela guerrilha há quatro anos.
As Farc exigem que o governo colombiano desmilitarize
dois vilarejos onde ocorreriam
a negociação e a entrega de 56
reféns, entre políticos, militares e policiais, em troca de
guerrilheiros presos.
Até agora, Uribe não aceitou
esse acordo, sempre citando o
fracasso de uma negociação parecida, quando seu antecessor,
Andrés Pastrana, deixou uma
área de 40 mil km2 nas mãos
das Farc.
Nas últimas semanas, porém, essa atitude mudou. Uribe
libertou unilateralmente 193
guerrilheiros presos, esperando uma atitude de reciprocidade por parte da guerrilha. As
Farc insistem em ter uma área
sem o Exército por perto para
fazer a negociação.
"Uribe vive uma crise séria e
se deu conta que Ingrid pode
ser um trunfo", diz Astrid, em
relação aos últimos percalços
do presidente colombiano.
Por causa de denúncias de
abuso aos direitos humanos e
por ligações de aliados de Uribe
com os paramilitares, os democratas, que detêm maioria no
Congresso americano, querem
cortar parte da ajuda financeira dos EUA ao país, além de
barrar um tratado de livre comércio com a Colômbia.
Celebridade na França
A pressão do novo presidente
francês, Nicolas Sarkozy, é outra forte razão para que Betancourt vire prioridade na Colômbia. Criada na França, graças a seu primeiro casamento
com um francês, a senadora
tem dupla cidadania.
Na França, Betancourt é celebridade desde 2001, quando
lançou sua autobiografia, "Coração enfurecido". Nela, conta
como entrou na política e no
caos colombianos, ao voltar à
terra natal, após seu divórcio.
Participou de diversos programas de televisão, e seu livro
virou um best-seller, com 300
mil cópias vendidas. Um ano
depois do lançamento, ela foi
seqüestrada. Sua libertação virou questão nacional.
Do ex-presidente Jacques
Chirac ao ex-premiê Dominique de Villepin, amigo dela na
faculdade, todos se envolveram
em negociações na Colômbia.
Nessa época, a família organizou uma campanha internacional pela sua libertação com
muito apelo na França. Sua filha, Mélanie, 21, encontrou-se
com todos os candidatos a presidente da França e pediu que
se comprometessem a interceder por sua liberdade.
Mais de mil cidades francesas declararam Betancourt "cidadã honorária", além de Roma, Bruxelas e San Francisco.
Celebridades como os atores
Alain Delon e Isabelle Adjani,
além do prefeito parisiense,
Bertrand Delanoë, participaram de manifestações a favor
de sua libertação.
Prova de vida
O governo francês também
protestou contra a vontade de
Uribe de arriscar uma operação
militar para resgatar a ex-senadora. "Ela poderia morrer. Preferimos uma negociação", diz
Astrid. "Mesmo livre, Ingrid
não vai descansar até libertar
todos os companheiros de cativeiro, que sofreram com ela."
Na semana passada, o ex-marido de Betancourt, Fabrice
Delloye, pai de seus dois filhos,
cobrou das Farc uma nova prova de vida. "Queremos poder
continuar a ter fé", pediu.
Próximo Texto: Entrevista: Sinto-me um leproso, diz marido de refém Índice
|