São Paulo, domingo, 20 de julho de 2008

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"Pais" de papel-cartão amenizam ausência de soldados nos EUA

Imagens em tamanho natural são levadas a festas, jogos e participam da rotina familiar enquanto modelo real está longe

Empresa que já distribuiu 7.000 "pais" e 300 "mães" nos EUA e no mundo afirma ter também clientes civis em outros países, como o Brasil


Divulgação
Mulher e filhas do major Brent Cummings jantam com a foto do militar,
que serve no Iraque


CARLA ROMERO
EDITORA-ASSISTENTE DE FOTOGRAFIA

O capitão Dave Bruschwein embarcou em 2003 para o Iraque. Deixou em Bismarck, no estado americano de Dakota do Norte, a esposa Cindy Sorenson e a filha Sarah, então com 1 ano. Quando voltou, 20 meses depois, a pequena Sarah foi a única criança dessa idade, dentre as centenas que acompanharam o desembarque da tropa, a reconhecer imediatamente o pai. O que fez diferença foi uma fotografia em tamanho natural do marido que Sorenson pregou na parede para tornar a ausência menos dolorida.
Cinco anos depois de Sorenson ter a sacada inicial, pelo menos 7.000 "Flat Daddies" (pais achatados, ou pais de papel em tradução livre) e cerca de 300 "Flat Mommies" espalhados pelos Estados Unidos e pelo mundo cumprem a função de marcar presença em casa durante longas ausências. Eles são levados a festinhas infantis, a escolas, a jogos de futebol americano, a parques e participam da rotina familiar -almoços, jantares, churrascos.
A gráfica SCF, de Ohio, aceita encomendas pelo site www.flatdaddies.com. O produto, em papel-cartão, custa US$ 49,50 e é entregue no Brasil. O sucesso das vendas da SCF, porém, criou uma série de serviços semelhantes nos EUA.

Estímulo visual
A responsável pela popularização da idéia é a escritora Elaine Dumler, de Westminster, no Colorado. Inspirada na própria experiência -seu marido, então noivo, serviu de 1969 a 1975 no Vietnã-, ela passou a colher depoimentos de mulheres e filhos de combatentes e organizou palestras de apoio. Em 2003, Sorenson foi uma das 600 mulheres entrevistadas para o livro "I am already home" ("já cheguei em casa").
"Achei a idéia formidável e pedi autorização para contar a história no meu livro de forma a ajudar outras pessoas", disse Dumler, em entrevista à Folha por e-mail. "Do ponto de vista psicológico, é sabido que crianças precisam de estímulo visual para aprender. O Flat Daddy, evidentemente, não substitui o pai. Mas funciona como uma lembrança no período de ausência. Quando ele volta, o pai-de-papel vai para o armário."
Uma das entusiastas da idéia foi a sargento Barbara Claudel, da polícia do Estado do Maine. Em 2005, ela mobilizou voluntários para produzir e enviar gratuitamente fotos em tamanho natural a familiares de combatentes no Iraque. Como a demanda cresceu, a produção passou a ser feita pela SCF.
A gratuidade durou até meados de 2007. "Não tivemos como manter o projeto gratuito. A demanda cresceu muito. Chegávamos a receber mais de cem pedidos por dia", contou à Folha, por e-mail, Eric Crockett, diretor da gráfica.
Segundo ele, os maiores interessados em adquirir o produto são famílias com crianças pequenas e que têm algum parente na Guerra do Iraque. Por isso, a maioria das imagens enviadas são de soldados com a farda americana. Outros clientes são mães e pais civis que viajam muito ou que ficam grandes períodos fora de casa -como trabalhadores da indústria petrolífera. Crockett diz que já enviou o Flat Daddy a diversos países, incluindo o Brasil -ele não revelou detalhes sobre a clientela brasileira.
Os pais-de-papel despertaram muito interesse nos EUA. Eles já foram motivo de várias reportagens e viraram um curta metragem nas mãos do cineasta Danny Bourque. O livro de fotografias "America at Home", lançado em abril no país, dedica um capítulo ao tema.


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