São Paulo, sábado, 21 de junho de 2008

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Pressão de líderes do continente sobre Mugabe aumenta

Presidente de Angola pede fim da violência; para oposição, governo não sobreviverá sem o apoio dos antigos aliados

Diretora da Human Rights Watch diz que governistas criaram campos de tortura para intimidar apoiadores de oposicionista Tsvangirai

DA REDAÇÃO

Vista por muitos como a maior esperança de resolução da crise no Zimbábue, a pressão de antigos aliados africanos sobre o ditador Robert Mugabe aumentou ontem. O presidente de Angola, Eduardo dos Santos, exigiu que o governo ponha fim "a todos os atos de intimidação e violência antes do segundo turno das eleições presidenciais", no próximo dia 27.
A declaração denota uma forte mudança de tom, pois Santos ajudou na aprovação ao primeiro turno da votação -sob suspeita de fraude- pela Comunidade pelo Desenvolvimento da África Austral. Ele ontem se uniu aos chanceleres de Tanzânia, Suazilândia e seu próprio país, que haviam dito anteontem que "essa eleição não será nunca justa e livre". Resta a Mugabe o presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, mas mesmo ele já pediu a suspensão do segundo turno.
Georgette Gagnon, diretora de programas para a África da organização internacional Human Rights Watch, afirma que a renovada pressão é "um acontecimento muito bem-vindo e que já chega atrasado, porque a situação é muito, muito grave". "É imperativo que vizinhos africanos façam todo o possível para persuadir Mugabe e o Zanu-PF a pôr fim à violência e à intimidação. Isso é o mais urgente", afirmou à Folha.
Em seguida, segundo ela, "é preciso avaliar muito depressa se o povo será capaz de votar livremente no segundo turno".
Para Nqobizitha Mlilo, porta-voz do partido opositor zimbabuano MDC, a pressão africana não foi por enquanto capaz de minar a violência política. "O governo age como se não se importasse." Mas ele crê que o declínio do apoio é fundamental: "Mugabe não pode sobreviver sem o apoio dos líderes africanos."

Encruzilhada
Gagnon vê os zimbabuanos hoje frente a uma encruzilhada. Por um lado, "a eleição não será justa nem livre nas circunstâncias atuais". Por outro, cancelar o segundo turno pode piorar as coisas: "Um adiamento pode muito bem dar oportunidade de que o Zanu-PF e Mugabe continuem a violência".
A analista tampouco vê boas perspectivas para um acordo de divisão de poder entre o MDC e o Zanu-PF. "Qualquer governo de unidade nacional teria que refletir o fato de que um pequeno grupo de poder dentro do Zanu-PF é responsável pela violência e não poderá ser incluído. Mugabe também teria de ser excluído. Não podemos ter a mão [do ditador] escolhendo seu sucessor nesse governo, porque isso não refletiria a vontade do eleitorado [que o derrotou no primeiro turno]."
Nesse quadro, a diretora relata que a violência se espalhou. Ela afirma que a Human Rights Watch encontrou no Zimbábue campos de tortura criados pelo Zanu-PF e por aliados -incluindo policiais e militares- para uso contra a oposição.
"Eles seqüestram pessoas suspeitas de terem votado pelo MDC, levam aos campos, os espancam, torturam e dizem para não "repetirem o erro"."
A associação independente Médicos do Zimbábue pelos Direitos Humanos contabilizou, desde o primeiro turno, 85 vítimas de violência política no país. Destes, cinco eram afiliados ao Zanu-PF, e a maioria dos restantes ao MDC.
A polícia do país, porém, culpa o MDC pela violência política. O chefe de polícia Augustine Chihuri afirmou ontem que 390 simpatizantes da oposição foram presos desde março por atos violentos, contra 156 membros do Zanu-PF. (ANDREA MURTA)


Com agências internacionais


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