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Pressão de líderes do continente sobre Mugabe aumenta
Presidente de Angola pede fim da violência; para oposição, governo não sobreviverá sem o apoio dos antigos aliados
Diretora da Human Rights Watch diz que governistas criaram campos de tortura para intimidar apoiadores de oposicionista Tsvangirai
DA REDAÇÃO
Vista por muitos como a
maior esperança de resolução
da crise no Zimbábue, a pressão
de antigos aliados africanos sobre o ditador Robert Mugabe
aumentou ontem. O presidente
de Angola, Eduardo dos Santos,
exigiu que o governo ponha fim
"a todos os atos de intimidação
e violência antes do segundo
turno das eleições presidenciais", no próximo dia 27.
A declaração denota uma forte mudança de tom, pois Santos
ajudou na aprovação ao primeiro turno da votação -sob suspeita de fraude- pela Comunidade pelo Desenvolvimento da
África Austral. Ele ontem se
uniu aos chanceleres de Tanzânia, Suazilândia e seu próprio
país, que haviam dito anteontem que "essa eleição não será
nunca justa e livre". Resta a
Mugabe o presidente da África
do Sul, Thabo Mbeki, mas mesmo ele já pediu a suspensão do
segundo turno.
Georgette Gagnon, diretora
de programas para a África da
organização internacional Human Rights Watch, afirma que
a renovada pressão é "um acontecimento muito bem-vindo e
que já chega atrasado, porque a
situação é muito, muito grave".
"É imperativo que vizinhos
africanos façam todo o possível
para persuadir Mugabe e o Zanu-PF a pôr fim à violência e à
intimidação. Isso é o mais urgente", afirmou à Folha.
Em seguida, segundo ela, "é
preciso avaliar muito depressa
se o povo será capaz de votar livremente no segundo turno".
Para Nqobizitha Mlilo, porta-voz do partido opositor zimbabuano MDC, a pressão africana não foi por enquanto capaz de minar a violência política. "O governo age como se não
se importasse." Mas ele crê que
o declínio do apoio é fundamental: "Mugabe não pode sobreviver sem o apoio dos líderes africanos."
Encruzilhada
Gagnon vê os zimbabuanos
hoje frente a uma encruzilhada.
Por um lado, "a eleição não será
justa nem livre nas circunstâncias atuais". Por outro, cancelar
o segundo turno pode piorar as
coisas: "Um adiamento pode
muito bem dar oportunidade
de que o Zanu-PF e Mugabe
continuem a violência".
A analista tampouco vê boas
perspectivas para um acordo de
divisão de poder entre o MDC e
o Zanu-PF. "Qualquer governo
de unidade nacional teria que
refletir o fato de que um pequeno grupo de poder dentro do
Zanu-PF é responsável pela
violência e não poderá ser incluído. Mugabe também teria
de ser excluído. Não podemos
ter a mão [do ditador] escolhendo seu sucessor nesse governo, porque isso não refletiria a vontade do eleitorado [que
o derrotou no primeiro turno]."
Nesse quadro, a diretora relata que a violência se espalhou.
Ela afirma que a Human Rights
Watch encontrou no Zimbábue
campos de tortura criados pelo
Zanu-PF e por aliados -incluindo policiais e militares-
para uso contra a oposição.
"Eles seqüestram pessoas
suspeitas de terem votado pelo
MDC, levam aos campos, os espancam, torturam e dizem para
não "repetirem o erro"."
A associação independente
Médicos do Zimbábue pelos
Direitos Humanos contabilizou, desde o primeiro turno, 85
vítimas de violência política no
país. Destes, cinco eram afiliados ao Zanu-PF, e a maioria dos
restantes ao MDC.
A polícia do país, porém, culpa o MDC pela violência política. O chefe de polícia Augustine
Chihuri afirmou ontem que
390 simpatizantes da oposição
foram presos desde março por
atos violentos, contra 156
membros do Zanu-PF.
(ANDREA MURTA)
Com agências internacionais
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