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Violência eleva incerteza sobre 2º turno no Zimbábue
Partido opositor diz que avalia boicote à votação, mas volta atrás horas depois
Robert Mugabe afirma que só Deus, que o elegeu, pode tirá-lo do poder e acusa os rivais do MDC de servirem a interesses do Reino Unido
ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO
A menos de uma semana para o segundo turno da eleição
presidencial do Zimbábue, na
próxima sexta, a violenta crise
que se abateu sobre o país africano ameaça a realização da votação. Ontem, em uma afirmação mais tarde retirada, um dos
porta-vozes do opositor Movimento pela Mudança Democrática (MDC) disse que o partido avaliava cancelar a participação na disputa.
O motivo, segundo o representante do MDC Nelson Chamisa, são os relatos de brutal
intimidação por parte do governista Zanu-PF, partido do
ditador Robert Mugabe, a simpatizantes da oposição. "Há
uma enorme avalanche de pedidos e pressão de apoiadores,
principalmente nas áreas rurais, para que não aceitemos
participar dessa farsa", afirmou
à agência Reuters.
O MDC contabiliza ao menos
70 afiliados e simpatizantes
mortos desde o primeiro turno,
em 29 de março, quando seu líder Morgan Tsvangirai, embora não tenha superado a barreira dos 50%, impôs pela primeira vez na história uma derrota
oficial a Mugabe, no poder desde 1980. Outros 25 mil apoiadores foram expulsos de suas
casas, diz o partido.
O MDC também enfrentou
repetidas detenções de Tsvangirai, acusado de fazer comícios
sem autorização. Seu secretário-geral, Tendai Biti, está preso e poderá ser condenado à
morte por suposta traição.
Horas depois da sugestão de
boicote, porém, o MDC voltou
atrás. O tesoureiro-geral do
partido, Roy Bennett, foi à TV
reiterar que o partido participará do segundo turno. Ele
também negou que haja negociações em curso para um governo de unidade nacional com
o Zanu-PF.
Em entrevista por telefone à
Folha, o representante do
MDC na África do Sul, Nqobizitha Mlilo, disse que "o partido
vai participar da votação com
certeza". "Qualquer cancelamento só pode ocorrer sob a
premissa de que Mugabe aceite
que perdeu a eleição."
Nesse caso, segundo Mlilo,
Tsvangirai formaria um "governo de reconciliação", que incluiria membros mais progressistas do Zanu-PF. "Mas, é claro, excluindo Mugabe."
"Já apanhamos e tivemos
amigos e familiares assassinados. Não adianta desistir agora.
Vamos em frente", disse.
Mugabe, enquanto isso,
manteve ameaças de desrespeito ao resultado da votação caso
o MDC vença nas urnas. "Apenas Deus, que me elegeu, poderá me tirar do poder. Nem o
MDC nem os britânicos podem
fazer isso", disse o ditador de 84
anos, que foi herói da guerra de
libertação do Reino Unido.
Nesta semana, ele chegou a
afirmar que levará o país de volta à guerra caso perca. "Já derramamos muito sangue por este país. Não vamos desistir dele
por causa de um mero xis numa
cédula." Para Mugabe, o MDC
serve a interesses da ex-metrópole e de potências ocidentais.
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