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Tensão racial persiste em relações sul-africanas
NA ÁFRICA DO SUL
Num cenário de ódio racial acumulado transita a Comissão Verdade e Reconciliação da África do
Sul (CVR), comitê instituído em
1995 com o objetivo de investigar
crimes cometidos durante o regime racista do apartheid e recomendar indenizações às vítimas.
Até agora, 21 mil pessoas foram
identificadas como vítimas diretas e receberam reparações parciais. A indenização final, uma
compensação financeira, aguarda
julgamento na Justiça sul-africana. Irritados com a demora, alguns dos possíveis beneficiados
acusaram a CVR de bloquear o
acesso a informações oficiais, importantes para acelerar os processos, e entraram com ações na Justiça em junho último contra ninguém mais ninguém menos que
Desmond Tutu, arcebispo negro
sul-africano, um dos ícones da luta contra o apartheid e ganhador
do Nobel da Paz de 1984.
Tutu foi o primeiro presidente
da CVR. Líderes do Congresso
Nacional Africano (CNA, partido
no poder) também são alvos das
ações, entre eles o próprio presidente da República, Thabo Mbeki. As vítimas alegam ter esgotado
todos os recursos antes de recorrerem à Justiça.
Em declarações à imprensa sul-africana, Tutu tem dito que considera "bizarra" a ação movida contra ele e que a indenização das vítimas é tarefa do governo e não da comissão, a quem cabe apenas fazer recomendações para o presidente encaminhar ou não ao Parlamento.
Bairros separados
O melhor exemplo de que a tensão racial ainda predomina na
África do Sul é Johannesburgo.
Ali, brancos, negros, "coloured"
(mestiços) e indianos ainda vivem em bairros separados. Os
brancos isolam-se nos bairros ricos da zona norte da cidade, em
mansões imponentes, vigiadas
por cães ferozes, cercadas por rolos de arame farpado, cerca elétrica e segurança armada.
Pouca gente caminha pelas ruas
desses bairros de Jo'burg, como se
apelidou a cidade, exceto um ou
outro empregado doméstico negro. A cidade não tem metrô, dispõe de poucos ônibus e muita lotação clandestina que se dirige aos
subúrbios negros, chamados
"townships".
Não há padarias, botecos ou
bancas de jornal. A vida acontece
nos automóveis e nos "malls"
-shopping centers horizontais
que abrigam de supermercados e
lavanderias a cinemas e restaurantes. Apenas na região onde antes era o centro financeiro, abandonada pelos brancos, há movimento de comércio e moradores
negros que transformaram os
prédios coloniais em cortiços.
Hostilidade e medo são os substantivos para a atmosfera da
maior metrópole sul-africana,
uma das mais violentas do mundo. As taxas de criminalidade na
África do Sul são mais elevadas do
que as de Colômbia e Brasil. É o
país com maior número de estupros registrados: 1 milhão de mulheres a cada ano, vítimas do que
se chama lá "jackrolling", gangues de homens que saem às ruas
à cata de muheres para estuprar.
Os institutos de defesa da mulher
em todo o país têm feito campanhas sistemáticas alertando para
os índices alarmantes desse tipo
de crime.(MF)
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