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"NOVA GERAÇÃO"
Passagem de poder para a "quarta geração" da Revolução Chinesa inicia-se em reunião num balneário
China começa a definir mudanças no poder
JAIME SPITZCOVSKY
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Beidaihe, cidade litorânea a
pouco mais de 200 km de Pequim,
se transforma nesta semana em
epicentro da política chinesa, ao
repetir a tradição anual de receber
dirigentes comunistas em veraneio e inclinados a debater os rumos do país. As discussões deste
ano, porém, se revestem de especial importância: vão definir a sucessão de Jiang Zemin, o líder máximo do país, que, após enviar sinais de que deixaria o cenário político, alimenta especulações sobre planos de manter fatia significativa do poder em suas mãos.
O calendário chinês prevê a realização, neste ano, do 16º Congresso do Partido Comunista,
evento quinquenal que consagra
mudanças no poder muitas vezes
acertadas em Beidaihe. O congresso, ainda sem data marcada,
deve ocorrer entre o final de setembro e o início de novembro.
Desde 97, vem se cristalizando a
idéia de que Jiang deixaria no
congresso o cargo de secretário-geral do PC, organização que de
fato manda no país. Jiang acumula ainda o cargo de presidente da
China e o de chefe da Comissão
Central Militar, que controla as
Forças Armadas.
Jiang despontava como defensor da idéia de que dirigentes com
mais de 70 anos não deveriam
aceitar novos cargos. Nenhum
documento oficial sacramenta a
tese, mas ela já serviu de pretexto
para afastar líderes que rivalizavam com Jiang, que tem 76 anos.
Portanto prevalecia a expectativa de que Jiang, pelo critério etário, se afastaria da secretaria-geral
do partido, entregando-a ao vice-presidente da China, Hu Jintao,
59, líder da "quarta geração de líderes comunistas". O representante da primeira é Mao Tsé-tung,
que liderou a revolução em 1949;
o da segunda, Deng Xiaoping, que
lançou as reformas pró-capitalismo; e o da terceira, Jiang.
Em março de 2003, Jiang terá de
deixar a Presidência, pois não pode, por lei, cumprir um terceiro
mandato. Até maio passado, predominava a tese de que o sucessor
de Deng deixaria, em seis meses,
os três cargos que acumula hoje.
Mas a palaciana política chinesa
começou a emitir sinais que desfizeram a crença no crepúsculo da
era Jiang. À medida que se aproxima o Congresso, a mídia, sempre
vigiada pelo PC, iniciou campanha de culto à personalidade do
presidente. Começaram a circular
manifestos assinados por dirigentes locais pedindo a permanência
de Jiang no poder.
Os manifestos pró-Jiang argumentam que é necessário manter
"um líder experiente num momento de transição". A China, em
dezembro, ingressou na Organização Mundial do Comércio, e a
adesão significa um novo "choque capitalista": Pequim contará
com maior acesso a mercados internacionais, mas, em contrapartida, terá de abrir setores protegidos de sua economia à participação estrangeira.
A entrada na OMC deve acelerar o crescimento econômico da
China, mas também trará, no curto prazo, efeitos colaterais, como
o aumento de desemprego. Empresas chinesas, para competir
com rivais estrangeiros, terão de
incrementar sua competitividade,
o que pode significar diminuição
de postos de trabalho nas paquidérmicas estatais.
Um dos cenários mais prováveis é a saída de Jiang da secretaria-geral do PC e da Presidência,
mas mantendo a chefia da Comissão Central Militar (CCM). Há
ainda outras hipóteses: recriar o
cargo de presidente do PC, abolido com a morte de Mao, ou formar, para que Jiang comande, um Conselho de Segurança Nacional, com mais poderes do que a CCM.
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