São Paulo, domingo, 21 de julho de 2002

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EUROPA

Necessidades política e moral são mais fortes do que entraves práticos; ampliação deverá ser definida no fim do ano

Expansão faz UE superar disputa agrícola

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

Pouco tempo depois de afirmar que a expansão da União Européia deveria ocorrer após a reforma da PAC (Política Agrícola Comum), Anders Fogh Rasmussen, premiê dinamarquês, reiterou sua intenção de fechar um acordo sobre a primeira onda de ampliação do bloco até o final do ano -mesmo que as complexas negociações relacionadas à concessão de ajuda financeira direta aos agricultores não estiverem concluídas.
Na última segunda, Rasmussen, que ocupa a presidência rotativa da UE desde 1º julho, declarou que estava "otimista em relação à possibilidade de fechar um acordo até dezembro". Isso permitiria a adesão de dez novos membros, segundo ele. "Se isso não for possível, concluiremos as negociações com os países que estiverem prontos", precisou o premiê.
"A expansão é necessária política e moralmente. Os "pais" do projeto europeu acreditavam que, um dia, o bloco pudesse expandir-se para o leste e que as sociedades comunistas devessem sentir-se atraídas por seus benefícios. Contudo eles jamais refletiram sobre o modo como, na prática, a UE poderia funcionar com mais de 20 Estados", explicou à Folha Anne-Marie Le Gloannec, autora de "Entre Union et Nation: les Etats en Europe".
Com isso, as divergências sobre a PAC, que opõem sobretudo a França à Alemanha, deixam de ser um "obstáculo intransponível". Ademais, Rasmussen não quer perder a chance de selar a primeira onda de ampliação da UE na presidência dinamarquesa, que termina no final deste ano.
"Estamos convencidos de que é possível realizar a expansão dentro do atual quadro orçamentário da união. Creio que as negociações sobre a questão agrícola possam ocorrer paralelamente", declarou Rasmussen em Paris.
Na cúpula realizada em Sevilha (Espanha), em 22 de junho último, os dirigentes europeus comprometeram-se a concluir até "os primeiros dias de novembro" as discussões sobre a concessão de ajuda financeira direta aos agricultores dos futuros países do bloco -para não retardar o processo de ampliação. Os novos membros deverão entrar na união em 2004.
Ainda em Sevilha, os 15 Estados atuais da UE estabeleceram que, até dezembro, as negociações sobre a adesão dos primeiros candidatos deveriam ser concluídas. Os aspirantes são Chipre, Malta, Hungria, Polônia, Eslováquia, Lituânia, Letônia, Estônia, Eslovênia e República Tcheca.
Todavia eles continuam divididos no que se refere à ajuda financeira que será concedida aos agricultores dos novos membros. A Comissão Européia propôs limitá-la a 25% do nível da ajuda concedida aos atuais membros em 2004 e aumentá-la progressivamente até 2013.
"Essa questão é relevante por conta da possível adesão da Polônia. Politicamente, é crucial para os alemães que ela não seja preterida. Por outro lado, a Alemanha, que já é a maior financiadora da PAC, não quer elevar suas cotizações, o que dificulta as negociações", analisou Le Gloannec.
Isso porque a ajuda financeira direta concedida aos agricultores depende da população total do país. Os poloneses teriam direito, portanto, a algo parecido com o que recebem os agricultores da Espanha, país de pouco mais de 40 milhões de habitantes.
Assim, é certo que a UE terá novos países a partir de 2004. No entanto tudo indica que eles serão -ao menos no início- membros de segunda categoria.



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