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AFEGANISTÃO
Delegada na assembléia sobre a Constituição afegã, Joya chama mujahidin de criminosos e passa a precisar de escolta
Afegã desafia chefes de guerra na Loya Jirga
DA REDAÇÃO
Um dia depois de ter causado
grande tumulto ao discursar na
Loya Jirga (grande conselho), em
Cabul, contra os chefes de guerra
do Afeganistão, a delegada à assembléia Malalai Joya teve de passar a receber proteção da ONU.
"Por que vocês escolheram para
chefiar comitês criminosos que
levaram o desastre aos afegãos?
Eles deveriam ser levados a tribunais internacionais", disse ela sobre o ex-presidente Burhanuddin
Rabbani e o muçulmano ultraconservador Abdul Rasul Sayyaf.
No mesmo instante, iniciou-se
uma confusão que gerou a interrupção temporária da assembléia
convocada para debater e votar a
nova Constituição do país. Partidários dos atacados gritaram "comunista" e ameaçaram de morte
a assistente social de 25 anos, que
representa a Província de Farah.
Joya ousou fazer o que poucos
no país fariam. Enfrentou os mujahidin, ou "santos guerreiros",
que expulsaram as tropas soviéticas e depois combateram o Taleban. Muitos os chamam agora de
chefes de guerra, culpando-os pela guerra civil que começou em
1992 com a queda do governo comunista e só acabou quando o
Taleban tomou o poder, em 1996.
O presidente da assembléia, Sebaghatullah Mojeddidi, ele mesmo um ex-líder mujahidin, no
início tentou fazer com que os seguranças expulsassem Joya. "Minha irmã, você fez algo impressionante. Conseguiu irritar todos
aqui", afirmou Mojeddidi. Mais
tarde, disse: "Na verdade, queríamos tirá-la de lá para sua própria
segurança. Quem é capaz de defendê-la dos mujahidin? Eles lutaram contra grandes potências".
Em 2002, após uma assembléia
similar à atual, um homem que
falou contra os jihadis, os mujahidin religiosos mais conservadores, teve de sair do Afeganistão.
A atitude de Joya dividiu as outras representantes da Loya Jirga
(são cerca de cem). Muitas a chamaram de corajosa. Outras a xingaram por atacar os mujahidin.
Segundo outra delegada, Joya
perdeu parentes na guerra civil.
Ela continua indo às sessões, mas
passou a ser acompanhada por
funcionários da ONU e de ONGs
durante o dia e não dorme mais
nas acomodações dos delegados.
Os chefes de guerra controlam
grupos que somam 100 mil milicianos e dominam vastas regiões
do país. O governo central do presidente Hamid Karzai tem controle só sobre a região da capital,
Cabul. Para obter esse frágil arranjo, Karzai foi obrigado a distribuir cargos do seu gabinete a integrantes da Aliança do Norte, que
inclui chefes de guerra e membros
da resistência que combateu a
ocupação soviética e o Taleban.
Os 502 delegados à assembléia,
iniciada há uma semana, se dividem em dez comitês para analisar
os 160 artigos do projeto de Constituição. Há divergências sobre
cerca de 40 pontos, como a criação do cargo de premiê, os direitos da mulher e a adoção da sharia
(lei islâmica) como base judicial.
Há um forte esquema de segurança. Anteontem, o governo disse que foi desarmada uma bomba. O Taleban, movimento extremista islâmico derrubado do poder em 2001, ameaçou atacar.
Com o "New York Times" e agências internacionais
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