|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PALESTRA
De olho na ONU, ex-presidente defende a criação de um exército internacional para conseguir a paz no mundo
FHC defende a "redefinição de valores universais"
ROBERTO COSSO
DA REPORTAGEM LOCAL
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), que
quer ser secretário-geral da ONU,
defendeu nesta semana a redefinição dos "valores universais mínimos" e a criação de um exército
internacional para garanti-los.
As idéias foram apresentadas
durante uma palestra sobre "ação
para a paz e a compreensão mundial", proferida para 750 pessoas
na última quinta-feira, em um encontro organizado pelo Rotary
Club de São Paulo - Sumaré.
FHC afirmou que a paz mundial
somente será atingida quando
houver a "adesão de todos os povos aos valores mínimos universais" e que, hoje, não existe limite
entre a aceitação de um conjunto
de regras tidas como universais e
o respeito à diversidade cultural.
"É preciso estabelecer um pacto
entre os povos [e não mais entre
as nações]; decantar um terreno
em que todos estejam de acordo",
disse o ex-presidente, que propõe
que o monopólio da força seja retirado do Estado e transferido para um órgão internacional.
Apresentando-se como assessor especial do secretário-geral da
ONU, Kofi Annan, FHC disse que
há "ingenuidade" e "um pouco de
fundamentalismo" dos países
ocidentais, que pensam que "o
que é bom é o que nós praticamos". Ele ressaltou que não é ingênuo: "Se eu fosse ingênuo, não
teria sido presidente duas vezes".
Segundo FHC, o que se busca
hoje é a adesão universal aos valores ocidentais. Para justificar, ele
citou a forma como os EUA pretendiam organizar as eleições no
Iraque -por meio de convenções
regionais com líderes locais, semelhantes ao caucus (tipo de prévia para a escolha de candidatos
presidenciais americanos). FHC
também criticou a ação americana no Iraque: "Foram muito além
do que parecia prudente e agora
não sabem o que fazer".
FHC disse que o Tribunal Penal
Internacional e o exército internacional devem tutelar os valores
mínimos universais -coisa que a
ONU não é capaz de fazer.
"A ONU depende da cooperação dos Estados nacionais para
agir. Se os países mais poderosos
não quiserem agir, as possibilidades ficam limitadas. Porque só
um país [EUA] tem capacidade de
atuação global." O ex-presidente
afirmou que, "se não houver um
esforço para evitar que a hegemonia [americana] desapareça pelo
confronto, não teremos a paz". E
disse ser necessária a criação de
mecanismos para compartilhar o
poder entre as nações.
FHC disse que Roma também
teve monopólio e essa condição
desapareceu com o tempo. "Estamos longe disso [em relação aos
EUA], mas a China está aí; talvez
para daqui a 50 anos."
ONGs
FHC é presidente do Painel de
Personalidades Ilustres das Nações Unidas sobre a relação da
ONU com a sociedade civil, cargo
que, na verdade, cuida da organização do bom relacionamento da
entidade com as ONGs (organizações não-governamentais).
Ele ressaltou que quem dá sustentação aos ideais humanitários
da ONU são poucos Estados e
muitas ONGs, com atuações expressivas na sociedade civil.
Em referência aos movimentos
antiglobalização, FHC disse que
há movimentos agressivos, mas
ressaltou: "Os movimentos antiglobalização são todos globalizados e ficam sabendo das coisas
pela internet".
O ex-presidente disse que, em
seu governo, o Brasil foi um dos
poucos países que obtiveram êxito no combate à Aids e atribuiu o
sucesso à parceria do Estado com
as ONGs de portadores de HIV.
Ele disse ter esperanças de que o
século 21 seja capaz de criar entidades que não sejam contra o Estado, mas que ajudem o Estado.
Texto Anterior: Império no divã: EUA não sabem ter ódio, afirma ensaísta Próximo Texto: Ex-presidente está em grupo de notáveis Índice
|