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Ocidente vê petróleo caro como ameaça geopolítica
Sob pressão, sauditas organizam conferência para tentar conter preço do barril
Potências ocidentais temem a instabilidade provocada pelos preços recordes de comida e combustível nos países em desenvolvimento
CAROLA HOYOS E JAVIER BLAS
DO "FINANCIAL TIMES"
Washington há 30 anos considera o petróleo questão de segurança nacional, e se preocupa com a possibilidade de que
um país hostil do Oriente Médio ganhe controle sobre a força motora da sua economia, como os países árabes fizeram durante o embargo de 1973.
Agora, os políticos europeus
e americanos estão vinculando
o petróleo e os preços recordes
da comida a uma nova ameaça
estratégica: a instabilidade nos
países em desenvolvimento.
Nas últimas semanas, altos
funcionários de governos ocidentais começaram discretamente a alterar sua ênfase
quanto à crise do petróleo e dos
alimentos; em lugar de considerá-la como problema puramente social, eles se preocupam com a possibilidade de que
governos caiam quando pessoas famintas e desprovidas de
combustível saírem às ruas para expressar sua ira.
O premiê do Haiti foi demitido pela Assembléia Nacional,
alguns meses atrás, devido a
protestos por falta de alimentos. O Paquistão informou à
Arábia Saudita, neste mês, que
não poderia pagar sua conta de
petróleo, e a China aderiu, nesta semana, ao crescente número de países asiáticos forçados a
reduzir seus dispendiosos subsídios aos combustíveis.
Josette Sheeran, diretora
executiva do Programa Mundial de Alimentos, alertou que
os distúrbios registrados em
mais de 30 países eram "lembretes sombrios de que a insegurança alimentar é uma
ameaça não só de fome mas
também à paz e à estabilidade".
Lee Hsien Loong, premiê de
Cingapura, declarou na abertura de uma conferência de segurança, no mês passado, que o
desgaste causado pela fome poderia resultar em sublevação
social e distúrbios civis, o que
exacerbaria condições que já
causaram o colapso de Estados.
Mas só agora, com os preços do
petróleo perto de US$ 140 e diversas commodities agrícolas
batendo recordes, esse tipo de
raciocínio começa a ser transferido à política externa.
O sinal mais visível dessa
mudança é a conferência de cúpula sobre o petróleo que começa hoje em Jidda (Arábia
Saudita). Pela primeira vez, ministros e executivos do setor
discutirão o que está causando
a alta e o que fazer para revertê-la. Na sexta-feira, o barril estava em torno de US$ 134.
"Nos próximos dias, testemunharemos outra alta no preço do petróleo", disse ontem
Hojjatollah Ghanimifard, responsável pelo setor internacional da Companhia Nacional de
Petróleo do Irã.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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