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Mercenários expandem ações na América Latina
Colômbia e Bolívia já estão na mira da Blackwater
DA REDAÇÃO
Se a ação de empresas mercenárias no Iraque é conhecida, a
atuação na América Latina ainda anda longe dos olhos do
grande público. Mas empresas
como a americana Blackwater
estão cada vez mais envolvidas
com a guerra às drogas na Colômbia e fazem negócios com a
brasileira Embraer. Leia a continuação da entrevista do jornalista americano Jeremy Scahill sobre mercenários.
(ANDREA MURTA)
FOLHA - Como os mercenários
atuam na América Latina?
SCAHILL - Neste exato momento, a Blackwater está participando de uma gigantesca concorrência para trabalhar para o
governo americano em sua "luta contra as drogas". Esse programa, na América Latina, visa
a agir na Colômbia e na Bolívia.
Nesses países já há outra empresa do tipo, a DynCorp, que
faz serviços para os EUA no que
deveria ser ação antidrogas,
mas que não passa de contra-insurgência. Os EUA repassam
a Bogotá milhões de dólares ao
ano dentro do Plano Colômbia,
e estima-se que o governo colombiano gaste quase a metade
com empresas mercenárias.
Elas treinam forças locais, pilotam helicópteros e já participaram de confrontos internos.
No Brasil, a Embraer recentemente vendeu uma aeronave
de combate Super Tucano para
a Blackwater, em um acordo
autorizado pelo governo Lula,
em negociações com os EUA.
Acho que isso levanta questões
sérias sobre por que o Brasil
acredita ser adequado vender
aviões a uma empresa com uma
reputação de abusos e violência
no mundo inteiro. Até porque a
América Latina é a próxima
fronteira para essas empresas.
FOLHA - O sr. crê que a Blackwater
dá proteção adequada a seus empregados?
SCAHILL - Essa é uma das ironias da Blackwater. Na maior
parte dos casos, eles têm equipamentos melhores e pessoal
mais qualificado do que um soldado comum americano, mas
às vezes enviam equipes muito
mal preparadas para situações
muito perigosas. E é comum
que contratados de países pobres sejam destacados para a linha de frente. E recebem menos: colombianos recrutados
pela Blackwater foram enviados ao Iraque com um salário
de US$ 34 por dia, enquanto
um agente americano chega a
receber US$ 650 diários. Parece que a vida de um colombiano
vale menos, para a Blackwater,
do que a de um americano.
FOLHA - A Blackwater também defende interesses econômicos e internos da Casa Branca?
SCAHILL - Sim. Atua na vigilância de investimentos americanos no exterior, por exemplo,
nos planos de oleoduto na região do mar Cáspio. E tem forte
atuação dentro dos EUA. Foram contratados para patrulhar Nova Orleans depois do furacão Katrina (2005). Acabaram de abrir um enorme centro
de treinamento em San Diego
(Califórnia), a poucos quilômetros da fronteira com o México,
para treinar as patrulhas de
fronteira. E discute-se a privatização da polícia de fronteira
dos EUA.
FOLHA - Como os mercenários afetam a política mundial?
SCAHILL - As conseqüências são
muito sérias. Os governos estão
abrindo mão do monopólio da
força e da "violência organizada", que é uma das coisas que
definem o Estado. Agora há
empresas privadas que têm a
força e o poder de fogo para potencialmente substituir a necessidade de alianças como a
Otan. A parte mais deprimente
é que a penetração dos mercenários já foi longe demais, não
sei como pode acabar.
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