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Desinteresse do eleitor "americaniza" a campanha
DO ENVIADO ESPECIAL A BERLIM
O crescente desinteresse dos
eleitores alemães pela política e a
convergência dos grandes partidos de esquerda e de direita em
direção ao centro em busca dos
votos dos eleitores indecisos provocaram uma forte personalização da campanha eleitoral em torno dos dois principais candidatos,
o chanceler (premiê) social-democrata Gerhard Schröder e o
conservador Edmund Stoiber, segundo especialistas consultados
pela Folha, causando certa "americanização" da disputa.
Segundo Richard Koch, responsável por pesquisas de opinião do
Escritório Federal de Imprensa da
Alemanha, numa pesquisa recente, 50% dos entrevistados afirmaram interessar-se muito pouco ou
nada pela vida política do país, fenômeno que "abriu caminho para que os marqueteiros dos principais candidatos apostassem
mais no carisma e no talento comunicacional de seus clientes do
que nos programas dos partidos".
"É irrefutável que isso vem
ocorrendo na campanha atual.
Aliás, Schröder deve muito de
seus bons resultados nas últimas
pesquisas ao modo como pareceu, na TV, cuidar da catástrofe
gerada pelas graves inundações
que atingiram a Alemanha. Trata-se de algo relativamente novo na
cena política alemã, mas é uma
tendência internacional", analisou Gerhard Göhler, professor na
Universidade Livre de Berlim.
Anne-Marie Le Gloannec, do
Centro Marc Bloch, instituto de
pesquisas franco-alemão situado
em Berlim, citou o exemplo francês para ilustrar o fenômeno. "A
"uniformização" dos partidos tradicionais [Reunião pela República e Partido Socialista" proporcionou a um líder de extrema direita
[Jean-Marie Le Pen" a chance de
chegar ao segundo turno da última eleição presidencial, pois muito simpatizantes do PS simplesmente não foram votar."
De fato, na era da informação
-em que campanhas eleitorais
dos quatro cantos do planeta são
apresentadas nas TVs de boa parte dos países-, o espetáculo midiático das eleições americanas
acabou impregnando outros Estados. "Isso não significa que os
alemães sejam mais americanizados hoje do que há oito anos. No
entanto seu modo de fazer política tem sido fortemente influenciado pelos EUA. Trata-se somente de mais um efeito da globalização", analisou Göhler.
Prova disso foi o salto que os social-democratas deram nas pesquisas após o segundo debate na
TV, há poucas semanas. "Jamais
tivéramos debates, e Schröder
soube tirar vantagem de sua desenvoltura diante das câmeras.
Pouco foi dito sobre os programas dos candidatos, e Stoiber pagou o preço de apenas tentar não
cometer erros. Ele não é muito
descontraído e acabou sendo visto como perdedor do segundo debate", disse Martin Süskind, redator-chefe do "Berliner Zeitung".
"Na verdade, a discussão de plataformas partidárias ficou restrita
a reuniões dos partidos ou a raros
programas de TV. Estes, aliás, na
maior parte do tempo, não contaram com a presença dos dois
principais candidatos à Chancelaria. Só podemos esperar que essa
tendência não se repita em outras
eleições, pois, tradicionalmente, a
política alemã é bem mais austera", acrescentou.
A Alemanha jamais tivera um
debate na TV entre os candidatos
a chanceler. De acordo com pesquisas recentes, perto de 70% dos
eleitores consideram Schröder
"mais simpático" do que Stoiber,
o que pode custar caro para o candidato conservador na era da televisão e da internet.
(MSM)
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