São Paulo, domingo, 22 de dezembro de 2002 |
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VENEZUELA Em entrevista, presidente não descarta antecipar eleição, mas diz que "chantagem na democracia é inaceitável" Chávez diz manter contato com oposição
CLÓVIS ROSSI ENVIADO ESPECIAL A CARACAS O presidente venezuelano Hugo Chávez está mantendo contatos sigilosos com representantes da oposição, que ele classifica como "não-golpistas", mas cujo nome prefere não revelar, para evitar que se queimem junto aos demais grupos opositores. "Se der nomes, essas pessoas podem acabar sendo pressionadas e condenadas pelos meios de comunicação", diz o presidente. A informação foi dada pelo próprio Chávez em entrevista à Folha e à Agência Estado, na madrugada de anteontem, no Palácio de Miraflores, a sede do governo transformada em uma fortaleza como prevenção para a hipótese de a marcha oposicionista daquele dia tentar chegar ao palácio (não tentou). Essas conversações são o mais claro indício de que, sob a turbulenta superfície da crise política, há um ensaio de negociação que pode desembocar, como a Folha havia mostrado na sexta-feira, em eleições antecipadas. Chávez, aliás, deixou abertas todas as portas, na entrevista aos jornalistas brasileiros, desde que não se viole a Constituição Bolivariana. O presidente tirou do bolso um exemplar em miniatura da Carta aprovada em plebiscito e manteve-a nas mãos durante quase toda a entrevista, citando-a repetidas vezes. A conversa com Chávez havia sido marcada para as 22h de quinta-feira, mas só começou três horas depois, para terminar às 2h da sexta-feira. Mesmo nesse insólito horário, seu gabinete continuava movimentado, especialmente pelo nutrido corpo de agentes de segurança. O presidente fumou dois cigarros Belmont e compartilhou com os entrevistadores um pedaço de bolo com compota de fruta, água e café. O longo dia e a crise prolongada não pareciam ter cansado Hugo Rafael Chávez Frias, 48, tenente-coronel da reserva e pós-graduado em ciência política, que tentou chegar pelo golpe de Estado em 1992 ao palácio que agora ocupa. Derrotado, foi preso, saiu dois anos depois e acabou chegando a Miraflores pela via das urnas, com os 56,24% dos votos obtidos em dezembro de 1998. Convocou uma Assembléia Constituinte e revalidou seu mandato em julho de 2000, com mais votos ainda (59,5%), o que lhe dá mandato até 2006, se a crise for superada. Se não for e houver eleição antecipada, será candidato, como deixou claro. Mas já não conta com o voto de sua ex-mulher, Marísabel Rodríguez, com a qual teve cinco filhos e que, recentemente, se uniu ao coro oposicionista. Leia os principais pontos da entrevista. Pergunta - O sr. ganhou todas as
consultas populares nos últimos
três ou quatro anos. Por que, então, não fazer ou eleição ou o referendo antecipado para distender a
situação? Pergunta - Existe alguma possibilidade, mesmo que mínima, de fazer uma emenda à Constituição
que permita antecipar as eleições? Pergunta - Se for seguido todo esse caminho constitucional, o sr. seria candidato novamente? |
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