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EUA
Segundo a acusação, esquema que levou dinheiro a Bagdá e furou embargo da ONU incluiu firma brasileira; família do dono nega
FBI liga empresa de SP a fraude pró-Iraque
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
Uma pequena exportadora de
autopeças do Jardim Prudência,
zona sul da cidade de São Paulo, é
acusada pelo governo dos EUA de
fazer parte de um esquema para
arrecadar e canalizar recursos ilegalmente para o Iraque.
Segundo o indiciamento, divulgado na quinta-feira, uma rede de
empresas, espalhada por oito países, usou transferências ilegais para violar o embargo econômico
imposto pela ONU após a Guerra
do Golfo (91). Uma dessas empresas seria a Twins International,
uma exportadora de autopeças
baseada em São Paulo. Os filhos
do proprietário da empresa, Sarwad Wahab, disseram à Folha
que a acusação é "absurda".
A pedido do FBI (polícia federal), a Justiça americana já indiciou 12 pessoas nos EUA, sendo
que seis delas já estão presas.
Embora sua empresa tenha sido
citada, Wahab não foi indiciado.
O indiciamento diz que, entre
abril de 2000 e janeiro de 2002,
uma rede de pessoas arrecadou
nos EUA cerca de US$ 12 milhões
e os enviou para a empresa Alshafei Family Connect, em Edmonds,
no Estado de Washington (Costa
Oeste dos EUA).
Preso na quinta, o dono da empresa, Hussein Alshafei, admite
ter repassado ao Iraque dinheiro
de refugiados iraquianos que queriam ajudar amigos e familiares.
Para os Estados Unidos, essas
remessas violam o embargo econômico contra o Iraque, imposto
pela ONU após a Guerra do Golfo.
Para Alshafei, no entanto, trata-se
de uma atividade de caráter humanitária.
O indiciamento informa que
Alshafei deixou o Iraque durante
a guerra, em 1991, e passou um
período num campo de refugiados na Arábia Saudita antes de
chegar aos Estados Unidos no começo da década de 90.
Segundo as investigações do
FBI, o dinheiro arrecadado por
Hussein Alshafei teria chegado ao
Iraque por meio de empresas espalhadas por oito países: Reino
Unido, Índia, Canadá, Brasil, Taiwan, Egito, Jordânia e Emirados
Árabes.
Além de Alshafei, outras cinco
pessoas já foram presas e outras
seis, indiciadas.
Embora o grupo que investigou
o esquema tenha sido criado depois dos atentados terroristas de
11 de setembro de 2001, a acusação do governo americano não
tem qualquer relação com atividades terroristas, apenas com
possível violação ao embargo ao
Iraque.
Remessa suspeita
A menção à companhia brasileira Twins International vincula-se
a uma única operação financeira,
no valor de US$ 11 mil.
O dinheiro teria saído de uma
conta do Citibank na cidade de
Lynnwood, também no Estado de
Washington, para uma conta do
mesmo banco no Brasil.
Depois, esse valor teria sido
transferido para a Twins International, localizada no Jardim Prudência, na cidade de São Paulo.
O indiciamento não esclarece se
a empresa brasileira simplesmente enviou o dinheiro para o Iraque
ou se teria vendido produtos para
empresas iraquianas.
"Uma coisa eu posso dizer: não
se trata de ajuda humanitária",
disse o agente Leigh H. Winchell,
funcionário da alfândega americana que participou da investigação do esquema.
Winchell diz que os EUA seguiram o caminho do dinheiro e descobriram, na ponta final do esquema, uma empresa iraquiana
chamada Al Nour Trading.
Embora rejeite a noção de que
os recursos tenham sido enviados
com fins humanitários, Winchell
não quis dizer quais são as suspeitas dos americanos.
O procurador federal Francis
Diskin informou que o governo
americano está estudando formas
jurídicas de processar ou até extraditar para os Estados Unidos
estrangeiros envolvidos na suposta rede criada para burlar o embargo ao Iraque. Mas admitiu que
isso seria uma segunda etapa do
processo.
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