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Preconceito empurra as "trans" para a prostituição, diz Camille
DE PARIS
Camille Cabral candidatou-se
uma segunda vez, neste ano, a outro mandato: o de deputada. Na
França, mandatos podem ser acumulados. Mas, desta vez, ela perdeu. "A direita foi mais forte", diz.
O centro-direita foi o grande
vencedor das eleições presidenciais e legislativas de 2002 no país.
A extrema direita também chegou muito perto do poder, quando Jean-Marie Le Pen, da Frente
Nacional, conseguiu desbancar o
socialista Lionel Jospin na corrida
do segundo turno da campanha
presidencial.
"Jospin perdeu porque os socialistas estavam cada vez mais próximos da direita. Ele deu as costas
aos princípios da esquerda", analisa Camille, fazendo eco a uma
análise hoje consensual sobre a
derrota do Partido Socialista.
No poder, o centro-direita tem
insistido em tomar fortes medidas contra a prostituição. O ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, pretende, no bojo de um
polêmico programa de segurança
pública, criar leis bastante restritivas ao trabalho sexual. Ele quer,
por exemplo, punir com até seis
meses de prisão e multa de
3.750 o proxenetismo e as prostitutas que abordem pessoas nas
ruas. Deseja também ver aprovada uma lei que expulse as prostitutas estrangeiras do país.
As medidas afetam diretamente
a vida das transexuais na França.
Segundo cálculos do Pastt, grupo
liderado por Camille, 70% dessas
pessoas vivem da prostituição, sobretudo porque não conseguem
encontrar empregos, devido à
discriminação.
"Os gays foram assimilados pelo mercado de trabalho porque
são mais organizados e são em
maior número, se comparados a
nós, as transgêneras. Eles têm um
poder econômico muito superior
ao nosso. Eles também não são
tão discriminados no trabalho como as "trans". Ninguém tem escrito na testa que é "gay" quando vai
pedir um emprego", diz.
Uma grande parte das transexuais na França é formada por
imigrantes ilegais. "É uma imigração econômica. Elas vêm para cá
por causa das dificuldades em
seus países de origem e porque
existe demanda." Há uma maioria de transexuais latino-americanas -principalmente do Equador (as brasileiras deixaram de ser
predominantes desde a década de
90). As transexuais francesas formam o segundo maior grupo.
"A prostituição sempre existiu e
sempre existirá. Lutar por sua regularização é todo um projeto político hoje", afirma Camille.
Não é bem isso o que faz o Pastt
(Prevenção, Ação, Saúde, Trabalho para os Transgêneros), mas as
reivindicações se entrecruzam.
Camille fundou o Pastt em 1992
junto com Pascale Ourby, uma
elegante atriz que foi estrela do filme "Thelma" (2001), de Pierre-Alain Meier, inspirado aliás numa
das mais famosas transexuais de
São Paulo, Telma Lip.
Hoje, o Pastt é o grande centro
de acolhimento das transexuais
em Paris. Ali, elas podem obter informações e conselhos, assistência jurídica e médica, ajuda para
encontrar moradia, formação e
apoio para a inserção profissional
-um pouco de tudo que precisam para tirar sua vida da mais
completa marginalização e poder
levar sua vida com dignidade e
respeito, como qualquer pessoa.
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