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Farc retomam terror urbano da era Pablo Escobar
ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO
Mais de dez anos após a morte
do mítico chefão colombiano do
narcotráfico Pablo Escobar, o terror urbano que ele ajudou a espalhar pelo país entre o final dos
anos 80 e o início dos anos 90 parece assombrar novamente o país,
desta vez pelas mãos das Farc
(Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), principal guerrilha colombiana e "herdeiras" do
negócio gerenciado por Escobar.
Os recentes atentados terroristas em grandes cidades atribuídos
às Farc lembram a campanha de
"guerra contra o Estado" promovida por Escobar, então considerado um dos criminosos mais
procurados do mundo, para evitar uma possível extradição aos
EUA. No dia 7 de fevereiro, um
carro-bomba explodiu num clube
de classe alta de Bogotá, matando
ao menos 36 pessoas e ferindo
mais de 170. Uma semana depois,
outra explosão matou 18 pessoas
em Neiva, ao sul do país, um dia
antes de uma visita do presidente
Álvaro Uribe à cidade.
Em sua época, Escobar, que liderava o cartel de Medellín, promoveu atentados a bomba, sequestros de personalidades e assassinatos de juízes e políticos, entre eles o senador Luis Galan, candidato favorito à eleição presidencial de 1990, alvejado por pistoleiros durante um comício.
"A aposta das Farc parece ser
essa, repetir Pablo Escobar com
uma guerra urbana de alta intensidade", disse à Folha Adam Isacson, coordenador do Projeto Colômbia do Centro de Política Internacional, de Washington.
"Suas demandas, porém, são
muito mais difíceis de atender do
que as de Escobar. Não é mais só
uma questão de permitir que
construam seu próprio cárcere",
disse ele, em referência ao acordo
que permitiu a ele se render em
troca do fim das extradições e da
permissão para que construísse
sua própria prisão, de onde continuava a controlar seus negócios.
A ofensiva das Farc, que até o
início do ano passado tinham sua
atuação baseada principalmente
nas áreas rurais do país, traz de
volta ao dia-a-dia das classes média e alta das grandes cidades o
medo do terror, que levou dezenas de milhares de pessoas a deixar o país na década passada.
"A situação é pior do que a dos
anos 80, porque, além de a guerrilha ter hoje mais dinheiro do que
tinha Pablo Escobar, a violência
não é mais praticada por assassinos de aluguel contratados pelo
cartel, mas por um verdadeiro
Exército, muito bem armado", diz
o cientista político Fernando Cepeda Ulloa, professor da Universidade Los Andes e ex-ministro
de Governo (1986) e de Comunicações (1987-88).
Otty Patiño, ex-líder do grupo
guerrilheiro M-19 que hoje dirige
a organização Observatório para
a Paz, vê algumas diferenças entre
as duas situações. "Não estou seguro de que exista hoje uma estratégia clara das Farc, como tinha
Escobar em 1989", diz ele, reintegrado à vida pública após um
acordo de paz em 1990.
"Apesar de estarem se movendo
para as cidades, as Farc ainda têm
uma base rural e não têm a mesma penetração na política e no Judiciário que Pablo Escobar tinha
nos anos 80", diz Patiño.
O M-19 foi responsável por uma
das mais extraordinárias ações
terroristas da história colombiana, em 1987, quando tomou o Palácio de Justiça, em Bogotá.
O cerco ao prédio terminou
com a morte de mais de 70 pessoas, entre elas 11 juízes da Suprema Corte (incluindo o seu presidente) e a destruição total do edifício. Na época, o grupo foi acusado de ter atuado a mando do cartel de Medellín, para destruir processos de extradição de narcotraficantes, mas a ligação nunca foi
provada e sempre foi negada pelos líderes do M-19.
Mudança de hábitos
A nova onda terrorista vem levando os colombianos a se adaptar à nova realidade. Segundo
uma pesquisa divulgada na sexta-feira pelo jornal "El Tiempo", de
Bogotá, 43% dos moradores da cidade dizem ter mudado seus hábitos após os últimos atentados,
enquanto 29% dizem não se sentir seguros nem mesmo em suas
casas ou escritórios. A venda de
entradas de cinema caiu 28% desde o dia 7 de fevereiro, e a antes
agitada vida noturna na elegante
zona norte da cidade, onde ocorreu o atentado, viu seu movimento cair sensivelmente.
Para Adam Isacson, o efeito
imediato dessa ofensiva terrorista
é um aumento ao apoio à linha-dura apregoada pelo presidente
Álvaro Uribe. "É a primeira vez
que os colombianos médios estão
sentindo o impacto desse conflito,
por isso há muito mais apoio à linha-dura de Uribe", diz. "A esperança das Farc é que a opinião pública ache que essa estratégia não
serve e volte a apoiar uma negociação", afirma.
Por enquanto, o governo mantém sua proposta de "guerra total" contra o grupo guerrilheiro
terrorista. Após o atentado em
Bogotá no dia 7, o presidente Uribe fez um apelo aos países vizinhos para que declarassem as
Farc como terroristas, o que permitiria o bloqueio dos bens do
grupo e a prisão de seus membros
por esses países.
Até agora, Equador, Peru, Venezuela e Brasil não atenderam ao
pedido de Uribe, o que levou o
presidente a declarar que a Colômbia buscará os terroristas "onde quer que estejam".
Em entrevista à Folha, a ministra da Defesa, Marta Lucía Ramírez, disse crer que o fim da guerrilha possa estar próximo, como
ocorreu com Escobar. "Possivelmente, tenhamos de ver mais terrorismo na Colômbia por algum
tempo, mas sabemos que o fim
desses grupos está próximo."
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