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CICATRIZES
Safwan receia a volta de Saddam
Cidade tomada pelos EUA festeja
DO "THE NEW YORK TIMES",
EM SAFWAN
Felicidade e terror surgiram
juntas hoje nesta desolada cidade
de fronteira, onde alguns dos primeiros iraquianos sob controle
das tropas americanas e britânicas tiveram a alegria de sua libertação silenciada pelo medo de que
ela fosse boa demais para durar.
Quando milhares de soldados
da coalizão chegaram aqui logo
depois do raiar do dia, o coração
da cidade que sentiu os extremos
do regime de Saddam pareceu explodir, com aldeões correndo pelas ruas para celebrar, gargalhando e chorando em longos gritos.
"Oooooo, que a paz esteja com
você, que a paz esteja com você,
que a paz esteja com você,
oooooo", gritou Zahra Khafi, 68,
mãe de cinco, para um grupo de
americanos e britânicos. "Eu não
tenho mais medo de Saddam."
Dois anos atrás, disse Khafi, seu
filho Masood, de 39 anos, foi assassinado por capangas de Saddam pelo mero crime de devoção
a uma corrente do Islã fora dos favores oficiais. Ao contar sua história, Khafi implorou aos visitantes que ficassem para protegê-la.
"Saddam vai voltar?"
Durante todo o dia, Safwan parecia celebrar o colapso da autoridade de Saddam Hussein olhando por cima do ombro.
Apenas algumas horas antes,
disseram os locais, a Mukhabarat,
força de segurança de Saddam, vinha mantendo Safwan em um estado de terror quase permanente.
Mesmo agora, afirmaram, os
agentes do ditador estavam esperando o momento de voltar -como fizeram há doze anos.
"Ali há homens de Saddam, e se
você me deixar eles me matam
agora mesmo", disse Najah Neema, ex-soldado iraquiano. Ele temia que os americanos fossem
perder o ânimo, como em 1991,
quando um levante incitado por
eles no sul do Iraque caiu diante
de um assalto de Saddam que não
produziu resposta americana.
Uma das pessoas para quem
Neema apontou com tanto medo
foi Tawfik Mohammed, um homem bem vestido que estava a alguns metros dali. Mohammed riu
diante da sugestão de que tivesse
um dia trabalhado para o regime
de Saddam. Ele era diretor da escola local, um homem de respeito.
"Se Deus quiser, a Mukabarhat
vai voltar", afirmou, com um aceno, e foi embora.
Boa parte dos festejos hoje veio
de marines americanos, que rasgaram todos os pôsteres gigantes
de Saddam Hussein que decoravam a vila. Um deles foi amarrado
ao pára-choques de um carro de
tropas e cortado com uma faca.
"Isso é bom", disse Oscar Guerrero, marine do Texas, enquanto
deslizava sua faca pela tela com a
pintura do líder iraquiano. "Queria que fosse ele em pessoa."
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