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"Tapamos buraco", diz comandante canadense na ilha
RAFAEL CARIELLO
DE NOVA YORK
O comandante das forças
militares do Canadá no Haiti, coronel Jim Davis, afirma
que a ONU ainda procura
países para participar da
missão de estabilização no
país e que os militares canadenses estenderam seu período de permanência por
lá, a pedido das Nações Unidas, para "fazer a ponte, tapar o buraco" até a chegada
das novas forças.
Juntamente com EUA,
Chile e França, o Canadá está no país caribenho -com
cerca de 500 soldados- desde março, como parte de
uma missão autorizada pela
ONU, que agora enviará
suas forças de paz para operações militares no país.
A última crise política haitiana culminou no exílio do
presidente Jean-Bertrand
Aristide em 28 de fevereiro,
após confrontos entre manifestantes e forças leais ao governo que deixaram mais de
80 mortos.
Aristide diz que foi derrubado por EUA e França. Essa
acusação torna a operação
da ONU controversa -os
críticos da missão dizem que
se trata de intervenção.
Leia a entrevista que Davis
concedeu à Folha, por telefone, de Porto Príncipe.
Folha - Como está a situação
no Haiti?
Jim Davis - Quando chegamos, encontramos um ambiente bastante hostil. Começamos a fazer rondas
conjuntas com a polícia local
e percebemos que a estabilidade viria relativamente fácil. Encontramos gangues
que, logo após a saída de
Aristide, agiam com objetivos políticos. Isso acabou.
Elas voltaram para sua rotina, que, infelizmente, é de
roubos e seqüestros.
Folha - Como lidar com essas gangues? É tarefa para os
militares ou para a polícia?
Davis - Acho que essa pergunta deveria ser feita para o
comandante da operação da
ONU. Minha impressão é
que o Exército veio para cá
porque éramos a organização que mais rapidamente
podia chegar ao Haiti.
É certo que, nas etapas seguintes, deve haver uma
combinação com outros
grupos da ONU. Os militares
terão uma função, tanto
quanto a polícia civil internacional e os esforços para
melhorar a infra-estrutura, o
Judiciário e a democracia.
Folha - O que mais o impressionou na chegada ao país?
Davis - A pobreza abjeta.
Há mais de 80% de desemprego. Impressiona a quantidade de gente que passa o
dia sem ter absolutamente
nada o que fazer.
Folha - As pessoas pedem
ajuda aos soldados?
Davis - De jeito nenhum.
São pessoas com bastante altivez. É impressionante como a cidade é suja, mas as
pessoas tentam estar sempre
bem vestidas. São pobres,
mas não querem esmola.
Folha - O Exército canadense ainda vai permanecer aí
por pelo menos 60 dias. Por
que decidiram isso?
Davis - Demorou muito para passarem a resolução da
ONU [sobre a estabilização],
e por causa disso eles ainda
estão tentando fazer que outros países se apresentem
como voluntários [para participar da missão], como o
Brasil fez. O Canadá recebeu
um pedido da ONU para ficar mais tempo. Estamos
aqui para ajudar a fazer a
ponte, a tapar o buraco entre
o fim da missão das forças
internacionais e a chegada
de novas forças.
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