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ÁSIA
Chefe da casa se declara "presidente em exercício"; presidente Eduard Shevardnadze decreta estado de emergência
Oposição toma o Parlamento na Geórgia
DA REDAÇÃO
Uma multidão invadiu ontem o
Parlamento da Geórgia para exigir a renúncia do presidente
Eduard Shevardnadze após denúncias de fraude na eleição legislativa deste mês, admitidas anteontem pelo Chefe do Conselho
de Segurança do país.
Retirado do Parlamento sob
proteção policial, Shevardnadze
falou com jornalistas mais tarde,
no jardim de sua casa na periferia
de Tbilisi: "Isso é uma tentativa de
golpe de Estado. Estou declarando estado de emergência".
Um porta-voz de Shevardnadze
disse que se o Parlamento não
aprovar o estado de emergência
por 30 dias em 48 horas, "o Exército irá assumir o controle". A
Constituição diz que o presidente
tem 48 horas para submeter a decisão ao Parlamento. Não está
previsto o que acontece caso a
proposta seja derrotada mas a
Constituição diz que o "presidente está autorizado a fazer decretos
com força de lei e adotar medidas
especiais".
Shevardnadze, que manteve
contatos telefônicos com o secretário de Estado norte-americano,
Colin Powell, e com o presidente
russo, Vladimir Putin, disse que
não renunciará. "Deixarei o cargo
quando meu mandato expirar,
como manda a Constituição",
afirmou ele, no poder desde 1992
e com mandato até 2005.
A presidente do Parlamento,
Ninó Burdzhanadze, se declarou
"presidente em exercício até que
sejam marcadas novas eleições".
Burdzhanadze comanda um dos
partidos rivais de Shevardnadze e
é aliada do principal líder de oposição do país, Mikhail Saakashvili,
que coordenou os protestos.
"A revolução de veludo domina
a Geórgia", disse Saakashvili, numa referência ao levante pacífico
de 1989 que tirou os comunistas
da Tchecoslováquia. Saakashvili
também disse à rede CNN que
Shevardnadze poderá continuar
no cargo se convocar eleições.
Educado nos EUA, Saakashvili,
35, tem grande simpatia pelo Ocidente e já foi ministro da Justiça
de Shevardnadze. Em 2001, porém, renunciou em protesto à
corrupção dentro do governo.
Longo desgaste
Shevardnadze começou a perder força com o agravamento dos
problemas crônicos do país. Além
da corrupção disseminada em todos os níveis, o salário médio é de
50 dólares e a cada inverno os habitantes são obrigados a conviver
com cortes no fornecimento de
gás e energia. Para completar, o
governo não vem tendo sucesso
na luta contra o movimento separatista da região Abkhazian.
Os protestos eclodiram com a
eleição parlamentar do último dia
2, quando a oposição e observadores internacionais acusaram o
governo de fraude.
Ontem, dezenas de milhares de
pessoas fizeram passeata na capital, Tbilisi, exigindo a renúncia.
As forças de segurança que guardavam o Parlamento não ofereceram resistência. A multidão invadiu o plenário empunhando bandeiras, aos gritos de "basta" e
"saia", no momento em que Shevardnadze faria o discurso inaugural do novo Parlamento.
A Comunidade de Estados Independentes (CEI), grupo que
reúne 12 ex-Repúblicas soviéticas,
incluindo a Rússia, criticou ontem o movimento oposicionista e
se declarou disposta a mediar
uma saída. "Diferentes forças políticas estão preparadas para tomar o poder por meios inconstitucionais. Isso é totalmente inaceitável", afirmou o presidente da
Ucrânia, Leonid Kuchma, em declaração no nome da CEI. O presidente Putin decidiu ontem mandar o chanceler Igor Ivanov viajar
para Tbilisi.
Eduard Shevardnadze domina a
política da Geórgia desde os anos
70. Durante a perestroika (movimento reformista que deu mais
transparência às instituições soviéticas) ocupou a chancelaria da
URSS (1985-1990). Considerado
um dos principais assessores do
presidente Mikhail Gorbatchov,
conquistou grande prestígio internacional.
Com agências internacionais
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