|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Zimbábue mantém 2º turno apesar de saída da oposição
Governo diz que retirada de Tsvangirai veio tarde demais e que processo "é irreversível"
Desistência não conteve repressão, e 60 pessoas foram presas ontem na sede do MDC; líder da oposição busca abrigo em embaixada
DA REDAÇÃO
O governo do Zimbábue
anunciou ontem que manterá o
segundo turno das eleições presidenciais na próxima sexta-feira com ou sem a participação
do partido de oposição, Movimento pela Mudança Democrática (MDC). O líder do MDC,
Morgan Tsvangirai, desistiu
anteontem de disputar a eleição devido à forte repressão
contra seus simpatizantes.
"Ele [Tsvangirai] deixou para
desistir tarde demais. O processo agora é irreversível, e o segundo turno vai acontecer",
disse o ministro da Justiça, Patrick Chinamasa. O governo diz
que o MDC, que venceu o primeiro turno em março, não informou por escrito a desistência à comissão eleitoral do país.
Mas a retirada do MDC não
foi suficiente para pôr fim à violência. Ontem, o partido afirmou que a polícia invadiu sua
sede em Harare e prendeu cerca de 60 pessoas que se refugiavam das perseguições pelo país.
Tsvangirai se isolou na Embaixada da Holanda no Zimbábue
por razões de segurança, mas
não solicitou asilo político.
Segundo Tsvangirai, 86
membros do MDC foram mortos, e outros 200 mil, desalojados de suas casas. Ele próprio
foi detido pelo menos cinco vezes quando estava em campanha. O secretário-geral do
MDC, Tendai Biti, está preso
sob acusação de traição e poderá ser condenado à morte.
Sem solução à vista
Não está claro se a decisão do
MDC de se retirar dará origem
a uma situação mais tranqüila.
A expectativa é que o governo
declare uma vitória de Mugabe,
no poder há 28 anos, independentemente das condições de
votação. "A única esperança para o MDC é que os governos
africanos e a comunidade internacional digam que esta
eleição é ilegítima", afirmou à
Folha J. Anthony Holmes,
analista sênior para a África do
centro de pesquisas Council on
Foreign Relations.
O MDC fez um apelo à Comunidade pelo Desenvolvimento da África Austral
(SADC) e à União Africana para que pressionem pelo adiamento da votação, mas ainda
não obteve resposta. A SADC
vem evitando condenar Mugabe, apesar de governos africanos terem emitido individualmente fortes críticas.
Holmes estima que "alguns
países africanos continuarão a
dar desculpas para Mugabe".
"Os líderes têm uma reticência
tremendamente grande a criticar uns aos outros, tanto pela
herança comum de colonialismo quanto pelo temor de que
também sofram represálias."
Para o analista, o MDC tem
pouquíssimas opções. Apesar
de ter mantido as portas abertas, negociar um governo de
unidade nacional geraria provavelmente uma coalizão liderada por Mugabe, algo que o
partido rejeitou até agora .
"Não vejo como essa opção
permitiria uma real transição
democrática. Mugabe e [o partido governista] Zanu-PF não
abrirão espaço para que o MDC
ajude a escolher o próximo presidente, e nada mudará."
Holmes também não acredita que o colapso econômico
force uma mudança política.
"Com a inflação de mais de 2
milhões por cento ao ano, a situação já é tão ruim que uma
piora teria efeito limitado."
Pressão internacional
Diferentemente dos órgãos
africanos, o Conselho de Segurança da ONU tomou ontem
sua primeira ação formal contra a crise no Zimbábue e aprovou uma declaração afirmando
que é impossível um segundo
turno livre e justo na próxima
sexta. O texto condenou "a
campanha de violência contra a
oposição" e "o comportamento
do governo, que negou a seus
opositores políticos o direito de
fazer campanha livremente".
A declaração não vinculante
foi aprovada por unanimidade
pelos 15 membros atuais do
conselho, incluindo África do
Sul, China e Rússia, mais próximos a Mugabe. Horas antes, em
tom inédito, o secretário-geral
do órgão, Ban Ki-moon, disse
que "já houve muita violência e
intimidação". Ele desencorajou
veementemente o segundo turno, que aprofundaria divisões
no país.
(ANDREA MURTA)
Com agências Internacionais
Texto Anterior: Líbano: Exército interrompe três dias de conflito entre facções rivais Próximo Texto: Repórter macedônio morre após ser preso por crimes sobre os quais escrevera Índice
|