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POLÍTICA EXTERNA
Pessimistas, analistas americanos dizem que país deveria dividir as responsabilidades no Iraque com a ONU
Poder dos EUA de pacificar é questionado
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Uma onda de pessimismo e desaprovação varreu na semana
passada os principais meios acadêmicos e de pesquisa dos Estados Unidos em relação à condução da atual política externa norte-americana.
Iraque, Afeganistão e Oriente
Médio estariam reafirmando a incapacidade dos EUA de lidar com
situações de pós-conflito e pacificação de regiões sensíveis e onde
o país tem interesses.
O consenso, segundo analistas
ouvidos pela Folha, é que os Estados Unidos deveriam dividir poder e responsabilidades com a
ONU e outros países o mais rápido possível.
"Os fatos provam, mais uma
vez, que somos apenas bons na
guerra e um desastre na reconstrução e na pacificação", afirma
Lawrence Korb, ex-secretário-assistente da Defesa no governo Ronald Reagan (1981-89) e diretor
do Council on Foreign Relations.
"É estúpido ser unilateralista e
não chegar à conclusão de que temos de dividir o poder com outros países. Se é verdade que o objetivo dos EUA era se livrar de
Saddam Hussein e fazer do Iraque
um exemplo, é preciso agora dividir com a ONU e outros países a
reconstrução do país", diz Korb.
Pentágono
O principal obstáculo à divisão
de poder no Iraque continua sendo imposto pelo Pentágono, que
insiste em ter o comando do pós-guerra e quase toda a operação
militar e de policiamento.
Para David Phillips, assessor para a área de Oriente Médio do Departamento de Estado, "as pessoas nesta administração que
pensam que o objetivo no Iraque
é manter o poder deveriam avaliar o que vêm acontecendo".
"Um novo patamar de agressões a novos alvos vem se consolidando no Iraque. Mesmo em relação ao Afeganistão e Oriente Médio, é preciso um multilateralismo muito maior para lidar com
os problemas", afirma.
Segundo levantamento realizado pelo Serviço de Pesquisas do
Congresso norte-americano, os
EUA já realizaram mais de 200 intervenções militares ao redor do
mundo desde a sua independência (1776).
Desse total, o Congresso contou
16 (ou 8%) ações caracterizadas
como tentativas de reconstruir os
países após a ação militar.
O saldo final mostrou, no entanto, que os norte-americanos tiveram sucesso em apenas quatro
países (Alemanha e Japão, após a
Segunda Guerra, Panamá, em
1989, e Granada, em 1983).
Pessimismo
Segundo o estudo, há razões para pessimismo em relação ao Afeganistão e ao Iraque, já que a
maioria das tentativas fracassadas
(como Haiti, Camboja, Vietnã,
República Dominicana e Cuba,
por exemplo) não produziu democracias nem mesmo dez anos
depois das intervenções.
Para Michael O'Hallon, pesquisador do Brookings Institute e conhecido autor da área de segurança e conflitos, os EUA deveriam
deixar a ONU participar "imediatamente" da reconstrução iraquiana e transferir a responsabilidade da segurança à Otan (Organização do Tratado do Atlântico
Norte, aliança militar ocidental liderada pelos EUA).
"Sem maior presença militar e
representatividade, não chegaremos a lugar nenhum", afirma
O'Hallon.
Frederick Barton, especialista
em reconstrução do Centro Internacional de Estudos Estratégicos
e uma das pessoas que ajudaram
o Pentágono nos planos para o
pós-guerra, afirma que é possível
esperar "mais más do que boas
notícias do Iraque nos próximos
dias".
"Os Estados Unidos continuam
agindo como se não precisassem
de ninguém para resolver seus
problemas, o que é um erro", diz
Barton, que acaba de voltar do
Iraque, onde ficou durante 11
dias.
"Da viagem, tirei a conclusão de
que estava errado ao achar que já
havíamos saído da borda do precipício", afirma.
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