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Ashcroft apela a Deus na defesa de lei antiterror
DE WASHINGTON
O secretário da Justiça norte-americano, John Ashcroft, iniciou
esta semana uma maratona nos
EUA em defesa do Patriot Act, o
pacote de leis draconianas antiterror autorizado pelo Congresso
no dia seguinte aos atentados do
Onze de Setembro.
A iniciativa de Ashcroft, que
vem citando o nazismo, Deus e a
"missão divina" dos EUA de levar
"a liberdade para o mundo", está
despertando polêmica e críticas.
Partes fundamentais do Patriot
Act, aprovado por 98 votos a 1 no
Senado e 357 a 66 na Câmara, vêm
sendo agora modificadas no Legislativo e questionadas na Justiça
por entidades civis.
O Patriot Act passou a permitir
que milhões de pessoas estejam
sujeitas a escutas telefônicas antes
só autorizadas em investigações
relacionadas a drogas, a quebra
de sigilo de informações financeiras e pessoais e a detenções.
Mais de 152 comunidades americanas já aprovaram resoluções
tentando bloquear os efeitos do
Patriot Act, encarado por muitos
como o "Big Brother" idealizado
pelo escritor George Orwell (1903-1950) no livro "1984".
No Congresso, os próprios republicanos vêm tomando iniciativas para restringir as medidas que
ajudaram a aprovar em 12 de setembro de 2001.
O contra-ataque do Departamento de Justiça está levando
Ashcroft a eventos em quase 20
Estados, onde repete basicamente
o mesmo discurso, recheado de
um tom fortemente religioso. A
Folha assistiu a um deles, no AEI
(American Enterprise Institute),
em Washington, "think tank" ligado ao Partido Republicano.
"Deus, que concedeu aos EUA,
a responsabilidade de liderar e
conduzir o mundo no caminho
da liberdade, também deu ao país
uma grande tarefa: prover a segurança que assegura a liberdade",
disse Ashcroft, acrescentando que
"a liberdade é a grande dádiva de
nosso criador".
Desde que passou a vigorar, o
Patriot Act permitiu a prisão de
mais de 3.000 pessoas, levou ao
indiciamento de outros 255 e condenou 132 indivíduos acusados de
atuar, de alguma forma, com o
terrorismo.
Pouco antes da guerra no Iraque, quando o governo ainda procurava o apoio da opinião pública
para iniciar os ataques, os EUA
elevaram duas vezes de "amarelo" para "laranja" o código de
alerta antiterror no país alegando
que "prisões de suspeitos", baseadas no Patriot Act, indicariam "a
iminência de ataques terroristas".
Em todos os eventos a que tem
comparecido, Ashcroft cita uma
mesma pesquisa dizendo que
91% dos americanos dizem não se
sentir intimidados pelas medidas
do Patriot Act e faz uma relação
entre o nazismo e a ameaça terrorista contra os EUA.
"No inverno de 1941, o primeiro-ministro britânico, Winston
Churchill (1874-1965), apelou aos
EUA para se defender do nazismo
com uma frase: "Dêem-me os instrumentos e eu terminarei o trabalho". Apelamos ao Congresso
com o mesmo refrão", diz.
(FCz)
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