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O CONFLITO VISTO DE DENTRO
"Onde está esse tal plano de paz?", pergunta palestina
FRANK BRUNI
DO "NEW YORK TIMES", EM NABLUS
Na periferia da cidade desesperada de Nablus, um grupo de jovens palestinos armados, dois deles usando capuzes pretos, cercou
um carro que passava na rua, na
tarde da quinta-feira, e mandou
seus ocupantes saírem do veículo.
Os jovens pareciam estar procurando um rival que tinha matado
um de seus amigos, mas não se
deram ao trabalho de se explicar
antes de deixar o carro partir outra vez com seus passageiros.
Alguns minutos antes, a poucas
quadras de distância, um grupo
de palestinos mais velhos lamentava o que dizia ser o aumento
vertiginoso da criminalidade entre palestinos na Cisjordânia e
formulava uma pergunta pontual,
com implicações para o esforço
de paz israelo-palestino, que parece estar paralisado: como se pode esperar que o premiê palestino,
Mahmoud Abbas (mais conhecido como Abu Mazen), garanta a
segurança dos israelenses, quando não consegue fazer o mesmo
por seu próprio povo?
"Antes de sequer cogitar tomar
medidas contra a resistência palestina, ele deveria se livrar das
gangues daqui", afirmou um dos
homens, referindo-se, em relação
à resistência, aos grupos militantes Hamas e Jihad Islâmico.
O governo israelense e líderes
dos EUA e de outros países vêm
intensificando a exigência de que
Abbas reprima os grupos militantes, como medida precursora de
qualquer acordo de paz. Mas basta passar algumas horas na cidade
de Nablus, onde a lei parece não
existir, e conversar com alguns de
seus habitantes amargurados para perceber que existem limites
graves à capacidade de Abbas de
cumprir o que lhe é pedido.
Os limites não são apenas práticos, mas também políticos. Abbas
é um homem em situação muito
difícil, quase sem saída à vista.
Os moradores de Nablus, vista
por Israel como o reduto central
do terrorismo palestino, confirmaram a crença amplamente difundida de que, se Abbas tentasse
reforçar sua legitimidade internacional tomando medidas contra
os grupos militantes, acabaria
com a legitimidade que ele ainda
desfruta entre os palestinos.
Dúvidas quanto à extensão do
controle exercido pelo premiê estavam subentendidas, na quinta-feira, no fato de o secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, ter pedido a ajuda do presidente da ANP, Iasser Arafat.
Muitos palestinos dizem que já
estão quase desistindo de acreditar em Mazen, porque nada do
que ele fez até agora, incluindo o
fato de ter endossado o plano de
paz chamado de "roteiro da paz",
resultou em melhora nas suas vidas. ""Onde está esse tal roteiro da
paz?" perguntou a profissional
médica Ana Qadri, 42. ""Mostrem-me algum sinal. Quero ver um sinal dele que seja."
Enquanto ela falava, cerca de 12
adolescentes ali perto atiravam
pedaços de concreto contra um
dos muitos tanques israelenses
espalhados por Nablus. As forças
israelenses entraram na cidade
em resposta ao atentado suicida
que matou 20 pessoas num ônibus em Jerusalém, na terça-feira.
Qadri disse que o plano de paz
não pôs fim a essas investidas de
Israel nem eliminou as barreiras
militares israelenses que impedem o livre trânsito dos palestinos
pela Cisjordânia. Consequentemente, afirmou, qualquer repressão de Abbas aos grupos militantes seria encarada como uma rendição injustificada. "O primeiro
gesto precisa vir do lado israelense", disse Qadri. "Sem isso, Abu
Mazen não pode fazer nada."
Várias pessoas em Nablus disseram que Abbas faria melhor em
renunciar ao cargo do que em tomar qualquer medida contra os
grupos militantes. ""Se fizer alguma coisa contra eles, será o início
de uma nova Intifada contra ele e
contra Israel", disse Abdullah
Mahmoud, 41, proprietário de
uma farmácia na cidade.
Enquanto Israel insiste que o
atentado da última terça-feira
mostra por que Mazen precisa tomar medidas contra o Hamas, palestinos descreveram o ataque como consequência inevitável da
ocupação israelense da Cisjordânia e dos ataques que Israel promove contra militantes suspeitos.
Abbas parece estar num impasse, preso entre os dois pontos de
vista diametralmente opostos e
sem conseguir agir. ""Ele está numa posição extremamente precária", disse o professor de ciência
política Ali Jerbawi, da Universidade Bir Zeit, em Ramallah.
O ministro da Informação palestino, Nabil Amr, discorda dessa
opinião. Em entrevista concedida
em Ramallah na quinta-feira,
Amr disse que Abbas vai, de fato,
"tomar medidas para pôr fim à
atividade do Hamas". "O mundo
não pode esperar", disse ele. Mas,
indagado se essas medidas incluiriam a prisão de militantes, como
Israel pede, Amr respondeu:
"Não podemos falar nada a esse
respeito, especialmente agora".
De modo geral, a impressão que
se tem é que a credibilidade de
Mazen junto aos palestinos -e,
portanto, sua utilidade como participante em qualquer plano de
paz- está em risco. ""Ninguém
apoiaria qualquer ação tomada
por ele contra seu próprio povo, já
que não consegue ajudar esse
mesmo povo", disse Abu Nidal,
53 anos, vendedor em Nablus.
Tradução de Clara Allain
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