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COLÔMBIA
Guerrilha tenta retomar contatos, rompidos desde o recrudescimento de suas ações terroristas, com o fim das negociações
Isoladas, Farc lançam ofensiva diplomática
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL À COLÔMBIA
Isoladas desde o fim das negociações com o governo colombiano, em 2002, e sob intensa ofensiva militar, as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) retomaram neste mês uma
política de propor negociações
com intermediação da ONU e da
Igreja Católica, além de contatos
com a imprensa internacional.
A convite da guerrilha terrorista
marxista, a reportagem da Folha
esteve nesta semana em área do
território colombiano controlado
pelas Farc, onde foi recebida por
Raúl Reyes, 52, ex-negociador e
um dos sete membros do Estado-Maior do grupo, subordinado
apenas ao septuagenário líder
Manuel "Tirofijo" Marulanda.
Dias antes, Reyes já havia sido
entrevistado por dois jornalistas,
interrompendo um período de silêncio iniciado após o fim das negociações, encerradas pelo então
presidente Andrés Pastrana em
20 de fevereiro de 2002. Naquele
dia, as Farc desviaram um avião e
sequestraram o senador Jorge
Eduardo Gechem Tubay.
A nova estratégia das Farc ocorre no mês em que o presidente Álvaro Uribe completa seu primeiro
ano de governo. O sucessor de
Pastrana se elegeu sobretudo pelo
discurso de combate aos grupos
armados colombianos, que, além
das Farc, incluem narcotraficantes e os grupos paramilitares.
Uribe intensificou as ações militares contra as Farc e, recentemente, obteve dos EUA a promessa de intensificação da ajuda militar ao país, dentro do Plano Colômbia, que assegurou mais de
US$ 2 bilhões ao país para o combate ao narcotráfico -fonte de financiamento dos grupos ilegais,
incluindo as Farc. Num claro sinal
de apoio, Uribe recebeu nesta semana a visita do secretário da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld.
O presidente ironizou a nova
ofensiva de comunicação das
Farc, ao pedir que os líderes do
grupo "falem como mulheres firmes ou varões definidos". Para ele
os guerrilheiros buscam enganar
o país "com essas vozinhas melífluas, efeminadas, que cansaram
o país, umas vozinhas que mandam ordens para sequestrar
aviões e executar atos terroristas".
A política ofensiva, no entanto,
tem produzidos resultados discutíveis. O governo afirma ter conseguido anular o avanço das Farc.
Para o analista Alfredo Rangel,
ex-assessor de Segurança Nacional de Pastrana, as Farc, a um ano
de seu 40º aniversário e com uma
força estimada em 17 mil homens,
estão longe de ser derrotadas.
"A guerrilha não está em covas.
Fez uma retirada calculada e planejada", disse Rangel, em fórum
realizado nesta semana, segundo
o jornal "El Tiempo".
As Farc, naturalmente, também
negam que estejam perdendo a
guerra. Questionado sobre a diminuição de ações da guerrilha,
Reyes disse à Folha: "Não estamos competindo para ver quantas ações fazemos. As Farc realizam suas ações quando consideram necessárias".
Cerca de 3.500 colombianos
morrem a cada a ano em decorrência do conflito armado que
atinge o país há décadas.
Depois de passar três anos e
meio recebendo jornalistas na zona desmilitarizada criada pelo governo e enviando missões ao exterior, o grupo guerrilheiro está cada vez mais isolado após ter aumentado ataques contra alvos civis, como pontes e redes elétricas.
As Farc também se recusam a libertar os diversos "sequestrados
ilustres", entre eles a ex-senadora
e ex-candidata a presidente, Ingrid Betancourt. A guerrilha de
esquerda também é acusada de se
associar a grupos de narcotraficantes, entre eles o do brasileiro
Fernandinho Beira-Mar, ligação
que Reyes negou.
A ONU confirma atuar como
intermediária nos contatos entre
as Farc e o governo colombiano,
mas não divulga informações para não atrapalhar as negociações.
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